ARTIGO

Não há derrotados

Não há derrotados

Por Sérgio Piva

Por Sérgio Piva

Publicada há 4 anos

Apesar do título não se aplicar apenas ao cenário político e o assunto a ser abordado ter nascido do pensamento nos candidatos à eleição proporcional, para o cargo de vereador, é perfeitamente aplicável aos candidatos à eleição majoritária, prefeito e vice, pois as ações e reações da campanha são quase idênticas durante e depois do pleito eleitoral, até mesmo antes, também tem relação com inúmeras outras áreas do conhecimento humano.

Tanto o urro da vitória quanto o choro da derrota são ouvidos no instante seguinte à finalização da apuração dos votos. Sensações de alegria, euforia e potência manifestam-se interiormente nos vencedores, assim como inversamente proporcional a tristeza, desânimo e incapacidade brota no íntimo dos “derrotadas” (sempre entre aspas), explodindo para o exterior, com maior frequência, no caso dos primeiros.

Sentimentos julgados normais ao final de qualquer jogo ou competição onde aqueles que alcançam o primeiro lugar, a vitória, o ponto, a classificação, a admissão ou a vaga, são aplaudidos e ovacionados, enquanto aqueles em situação oposta são deixados, ignorados ou, no máximo, consolados.

Parece terrível a descrição desse último quadro, porém verdadeira quando aprendemos a vida toda que só o sucesso é importante, somente o artista, o cantor, o jogador são vitoriosos, quando ensinam erroneamente que apenas no protagonismo está a felicidade.

Esquecem os doutos instrutores que alegria é diferente de felicidade, como tristeza não é sinônimo de infelicidade. Todos sentimentos e impressões momentâneas de um longo período de existência, nossa, chamada vida, e daqueles, significativas sensações voláteis. 

Por isso, é fundamental analisarmos com clareza e calma cada uma das situações pintadas anteriormente, tanto aquelas julgadas “boas” quanto as sentenciadas como “ruins” por quem passa por elas e sente suas sensações e efeitos, porém, vendo apenas pela perspectiva do aqui e agora.

A atitude depois da competição, do jogo, da “prova”, da eleição, determinará quais competidores, vencedores ou não, poderão (grife-se) ganhar ou perder, colher frutos ou deixar secar a fruteira. Tudo dependerá da escolha entre atitudes produtivas ou infrutíferas, em outras palavras, construtivas ou equivocadas.

Importante também deixar registrado que não vencer, definitivamente, não significada perder, pelo simples fato de que somente é possível perder aquilo que já se possui. Em qualquer jogo, concurso ou competição, nenhum dos candidatos possui antecipadamente o troféu, a aprovação ou o primeiro lugar.

Retomando a questão da disputa eleitoral findada com a votação no último domingo, nenhum candidato possuía cargo para o próximo mandato. Isso mesmo, nenhum deles, mesmo os que hoje estão exercendo suas funções no legislativo ou executivo.

O mandato político é conferido a alguém para que represente os cidadãos durante um período determinado, no caso, quatro anos. Assim, todos aqueles ou aquelas que detinham seus mandatos até 31 de dezembro, a partir de primeiro de janeiro, não mais os teriam, por isso, a maioria, disputou novamente a eleição para tentar adquirir um novo mandato, outro que ainda não possuíam. 

Quem foi eleito conquistou o direito de representar os munícipes na prefeitura, com a tarefa de administrar, fazer a gestão dos recursos humanos e financeiros da cidade, assegurando o funcionamento dos serviços públicos e buscando a melhoria da qualidade de vida da população, preferencialmente, com competência e transparência, e no legislativo, como fiscal das ações e execução dos programas realizados e implementados pelo primeiro.

Ainda assim, para os que insistirem em utilizar as denominações comuns de vitoriosos e derrotadas, é melhor que “não confunda derrotas com fracasso nem vitórias com sucesso. Na vida de um campeão sempre haverá algumas derrotas, assim como na vida de um perdedor sempre haverá vitórias. A diferença é que, enquanto os campeões crescem nas derrotas, os perdedores se acomodam nas vitórias”, adverte o escritor, conferencista, empresário e médico-psiquiatra Roberto Shinyashiki.

Tanto para aqueles que obtiveram o primeiro ou novo mandato político quanto para os que desta vez não o conquistaram, o tempo é o mesmo e passa rápido, pior ainda, ele é implacável. 

No caso em questão, o espaço-tempo é determinado, são quatro anos. Mas, como dizia o filósofo Meutilzé, quem tem tempo caga longe. Acrescento, quem tem muito tempo faz cagada. O tempo pode ser passado, ser construído ou lamentavelmente destruído. Seja qual for a ação desempenhada, ele jamais retrocede. 

Advertências à parte, seja sua sensação de derrota ou vitória, guarde (preferencialmente emolduras) as palavras do célebre escritor português, Nobel de Literatura, José Saramago: “O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas”.



Sérgio Piva

s.piva@hotmail.com

últimas