O texto aqui iniciado tem por objetivo comentar sobre um lado nem tão comum da ditadura espanhola: a relação da política com o futebol. Vamos lá:
La Liga, o campeonato nacional de futebol, foi fundado no ano de 1929, ocorrendo de maneira seguida até o ano de 1936, quando uma guerra civil abateu-se sobre o país, resultando na ascensão de Francisco Franco ao poder na Espanha, de onde seria expulso apenas no ano de 1975 – por morte súbita, como falávamos no futebol de antigamente.
Com seu poder já firme no país, Franco resolveu atacar o futebol, como maneira de estender ainda mais seus tentáculos de influência na sociedade castelhana.
Causava medo aos torcedores franquistas o orgulho dos bascos e catalães – duas etnias que se mantinham resistentes – como os bons zagueiros, e quando possível, ofensivas à ditadura, como os melhores ponta de lança.
Mas o ditador não brincava em serviço, e buscando “matar” a partida, colocou em prática algumas obrigações:
Antes de cada partida, os jogadores das duas equipes precisavam fazer a saudação fascista, sendo obrigados também a cantar o hino da Falange, o partido político de Franco.
Times como o Barcelona sofreram mais, pois representavam uma forma de ver o mundo totalmente oposta àquela pregada pelos franquistas: até mesmo seu escudo foi alterado, e a bandeira catalã, excluída.
No ano de 1943 ocorreu a primeira interferência franquista concreta. No jogo de ida da final da Copa del Generalíssimo – originalmente Copa del Rey, nome alterado pelo regime para homenagear seu líder – o Barcelona derrotou o Real Madrid por 3 a 0.
Em Madrid o resultado anterior foi anulado: “No jogo de volta, pressionado pelo governo central, por policiais e pelo árbitro, que visitaram o vestiário do Barcelona antes da partida, o clube azul-grená foi derrotado por 11 a 1.” (FIGOLS, 2013, p.19).
Já em 1950 a questão política atuou na contratação de László Kubala. O talentoso húngaro interessou tanto ao Barcelona quanto ao Real Madrid, e no fim acabou rejeitando o time madrilenho.
Irritados pela escolha de Kubala, os adeptos do time de Franco levaram à questão na justiça espanhola, depois na jurisprudência esportiva e por fim na entidade máxima do esporte, a FIFA, deixando o húngaro jogar apenas um ano depois.
Outra grande contratação seguiu a mesma tática: Di Stefáno, craque argentino, foi contratado pelo Barcelona, e durante a finalização do contrato, a mando de Franco, o número de estrangeiros permitidos em cada time foi diminuído. Resultado: Di Stefáno conquistaria dezenas de títulos. Só que pelo Real Madrid.
Franco apostava dinheiro no time de Madrid, e tinha a certeza da vitória, afinal, mandava recados para os juízes das partidas, presentes para suas esposas e ameaças para seus filhos.
Hoje, sendo o maior campeão nacional da Espanha e o maior vencedor da Champions League, o Real Madrid era considerado um time médio antes da interferência massiva de Franco. Hoje, é um gigante. Talvez o maior deles.
Realmente, política e futebol devem ser discutidos, ainda mais quando relacionam-se entre si.