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Um gol pela História #2: La mano de Díos e o contexto de guerra entre Argentina e Inglaterra

Um gol pela História #2: La mano de Díos e o contexto de guerra entre Argentina e Inglaterra

Por Gabriel Góes

Por Gabriel Góes

Publicada há 3 anos

Todos soubemos do falecimento de Diego Maradona nos últimos dias. A despeito da sua personalidade polêmica – a qual não queremos e nem vamos analisar aqui – e de seus erros pessoais, escolhas políticas e da forma com a qual viveu, como jogador, ele era mágico. 

Se Pelé é inalcançável, Maradona está num patamar acima dos demais.

Entre todos os seus feitos, gols absurdos e dribles assustadores, um evento especialmente faz parte da memória coletiva de todos os aficionados por futebol: o seu gol de mão, na Copa do Mundo de 1986.

Conforme escrito na introdução deste artigo, Maradona não era uma pessoa das mais ortodoxas. No entanto, isso passa longe de poder explicar o que foi aquele gol nas quartas de final do mundial. 

O desejo de vencer o maior torneio de futebol do mundo, alegrando milhões de seus conterrâneos e marcar seu nome na história, chegam mais perto de explicar a motivação do craque para quebrar as regras no ímpeto de conseguir o gol. Mas não é tudo.

No documentário de 2019, intitulado “Diego Maradona”, o ex-jogador releva uma motivação diferente, que nos faz pensar a respeito da Guerra das Malvinas. Este conflito aconteceu entre o Reino Unido e pátria de ‘Don Diego’, por um grupo de ilhas, localizadas perto da Patagônia. 

Relembrem rapidamente das aulas de História. Quem vocês aprenderam como grande potência naval e posteriormente maior força militar antes da ascensão dos Estados Unidos? Para quem respondeu “Inglaterra”, acertou. Logo, o resultado do conflito é óbvio. 

A esquadra inglesa venceu.

Os soldados argentinos foram mortos numa proporção de quase 3:1. 

O país foi humilhado. 

Mais dolorido do que qualquer goleada, o orgulho dos argentinos estava ferido.

O que se comentava na Argentina, segundo o próprio Diego, era de que a guerra estava sendo, de fato, um conflito, e não um massacre.

Descobrir a realidade afetou inevitavelmente até mesmo os jogadores da albiceleste.

Com duas vitórias e um empate na fase de grupos, Maradona passou em branco.

Nas oitavas de final, contra o conterrâneo Uruguai, mais uma vez sem gols do pequeno gênio. Mesmo assim, uma vitória argentina.

A configuração da chave colocou frente a frente, dessa vez no campo de futebol e não de batalha, novamente argentinos e britânicos. 

A rivalidade estava construída. As torcidas procuravam encrenca, como de costume. Nos vestiários, as equipes se xingavam.

O governo mexicano precisou reforçar a segurança nas proximidades do estádio. E, Maradona, ah, Maradona. Com o ódio característico dos sul-americanos, confirmou que era gênio.

Apesar do bom futebol de ambas as equipes, o primeiro tempo terminou mesmo 0x0.

No segundo tempo, dois lances que entraram para a história do futebol:

Logo aos 6 minutos, Maradona marcou. De mão! Abraçando seus colegas, e fugindo da enxurrada dos ingleses, o gol foi validado.

4 minutos depois, outro lance histórico. 

Após arrancar do meio-de-campo e passar por 5 adversários, Maradona fez 2x0 para a Argentina, no chamado “gol do século”.

55 metros em 7 segundos. 5 ingleses deixados para trás. 

Uma bola, tocada apenas com o pé esquerdo. Incontáveis pares de pernas inúteis.

Um gol. O gol.

Uma vingança feita da melhor maneira possível. Uma honra lavada.

Uma nação feliz, e um gênio estabelecido.

Para sempre, Maradona!


* Professor de história da rede pública municipal de General Salgado



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