ARTIGO

Despedidas (nunca pedidas)

Despedidas (nunca pedidas)

Por Sérgio Piva

Por Sérgio Piva

Publicada há 3 anos

A maioria das crianças costuma chorar quando os pais saem para o trabalho ou para qualquer outra atividade em que elas não estejam incluídas. Algumas choram copiosamente como se fosse a última vez que veriam seus protetores.

Os pequenos choram, ainda, na primeira vez em que são deixados na escola e, com certeza, porque têm a impressão que nunca mais irão busca-los para leva-los de volta à fortaleza de suas casas.

Os grandes também choram ou, pelo menos, tem sentimentos parecidos com os das crianças em certas situações. Sensação de falta de proteção, abandono, de que nunca mais irão ver a outra pessoa que, de alguma forma, está partindo e deixando-os sozinhos. Se não choram, apropriam-se da tristeza.

As leituras de mundo das crianças e adultos podem ser diferentes, mas as sensações nem sempre. Não existe apenas a idade cronológica, medida pelo tempo, há também a idade mental e emocional, as quais não são determinadas pela quantidade de anos vividos. 

Por isso, as experiências vivenciadas pelos adultos têm impactos e reações diferentes em cada indivíduo e, sendo assim, não há como julgar ou dizer como cada um deveria reagir diante dos fatos que ocorrem durante a vida de cada pessoa, especialmente os indesejados, como as despedidas. 

Há vários tipos de despedidas. Breves, longas e eternas. Os motivos são diversos e as consequências inúmeras, de acordo com a intensidade do ocorrido, conforme a idade, cronológica, mental ou emocional, e a estrutura do ser, construída pelas experiências acumuladas no decorrer da vida. 

Amigos separam-se na distância imposta pela rotina, necessidades de trabalho, mudanças de residência, ou, ainda, pelo fim da amizade, em razão da divergência de opiniões e de ideais, mal-entendidos ou pela quebra da confiança do companheirismo.

Amores são desfeitos quando a afeição se desvanece, quando a confiança acaba, quando a pressão social interfere, quando os sentimentos se confundem, quando o orgulho impera, quando a reciprocidade falha e quando mal-entendidos não são esclarecidos. 

Laços familiares são rompidos pela quebra da lealdade, por interesses particulares, pela ambição excessiva, pela desistência do amor, pela influência de novos relacionamentos, pela falta de gratidão e pelo enfraquecimento do vínculo, tendo como causa inúmeros outros fatores. 

As despedidas são sempre permeadas por algum tipo de dor física ou emocional. No entanto, a despedida mais difícil é aquela que envolve a morte física. 

Não obstante todas as teorias propagadas pelas inúmeras crenças e religiões, a falta de uma certeza sobre a morte e, sobretudo, quanto ao que vem despois dela, e, mais ainda, a sensação de finitude, o sentimento de perda e ausência perene da pessoa que se vai, sempre deixa um vazio.

Vazio que, em algum momento, de alguma maneira, precisa ser preenchido, porque a dor pode ser inevitável, mas o sofrimento não é imutável.  



Sérgio Piva

s.piva@hotmail.com

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