Uma expressão muito comum entre os jovens e as pessoas que se consideram jovens é sextou, um dia da semana em que viram a necessidade de transformar em verbo. Sexta-feira é a prévia do final de semana, um dia visto com júbilo por quem estuda, por quem trabalha e por afins. Na sexta-feira, começamos a avaliar nossas metas cumpridas, nossas tarefas entregues. É possível fazer um pequeno balanço daquilo que foi produtivo durante a semana. O dia em que a gente começa se desligar dos compromissos de trabalho e se entregar a alguns deleites. Neste dia, alguns vão para a balada, outros recebem amigos. Muitos gostam de um filminho em casa – o importante é a reunião com pessoas queridas, a solitude, a diversão – cada um a seu jeito.
Se sextou, por que não sabadou...? Sequência da sexta-feira o sábado, o dia da finura – “Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite”. Eu, como lido com adolescentes, vejo a alegria deles quando chega o final de semana. Ah que “farrinha” boa! Porém, eu aprendi que esse pequeno intervalo só tem valor porque existe a semana. As férias de final de ano só têm sabor porque existem os estudos semestrais e o trabalho. A vida só tem valor porque existe a morte. Se todos os dias fossem sexta-feira, se todos os dias fossem festa a vida não teria menor graça. São os contrastes que dão sabor à coisa...
Depois do sábado vem o domingo, o dia da preguiça, um dia morto como muitos dizem. Confesso que eu tinha verdadeira aversão ao domingo porque não tinha a mínima ideia do que fazer com ele. Martha Medeiros em um pequeno texto diz: "Domingo é o meu inferno astral. Duvido que haja algo mais entediante. É dia de descansar, de almoço em família, de ir ao parque: o domingo é benevolente demais. Não tem a malícia do sábado nem a determinação da segunda. É um dia em cima do muro, não é dia de festa nem de trabalho. Nem lá, nem cá. Nem mais, nem menos. [...]” Confesso que nunca me identifiquei tanto com algo dito por outra pessoa.
É claro que todos conhecem a cronologia semanal, este tempo racional, criado culturalmente para organizar nossa vida em sociedade, dividir as estações, os anos, décadas... O que me chama a atenção é o peso que nós damos a eles. Creio que cada um tem seu dia favorito assim como tem aquele que pode ser considerado o calcanhar de Aquiles de muitos. Porém, de uma forma ou de outra, temos que passar por toda a jornada e da melhor maneira possível. Na série Prison Break – que em parte dela fala sobre a vida dentro de uma penitenciária – um de seus personagens diz: “Aqui todos os dias são iguais.” Essa fala naquele contexto nos faz refletir sobre nosso bem mais precioso: A nossa liberdade e o que fazer com ela. Aproveitar de forma significativa.
Tentando fazer cada dia único e especial é preciso se conectar ao momento independente do que se esteja vivendo. Drummond, em seu poema “Mão dadas”, reflete: “O tempo é minha matéria, o tempo presente, / os homens presentes / A vida presente”. Vejo aqui a importância de estarmos conectados às tarefas diárias, sem ficar preso ao que já foi e sem planejar suntuosamente o que virá. Simplesmente viver o momento. É preciso reconhecer essa beleza no transcorrer dos dias, das burocracias, das filas de banco, das encheções de saco da vida, para quem nem a sexta-feira perca seu valor, transformando-se em algo banal, nem a semana fique vazia devido ao corre-corre.
Rodrigo Daum
Formado em Letras pela Fundação Educacional de Fernandópolis
Pós graduado em Docência para o Ensino Médio, Técnico e Superior