ARTIGO

Você não está sozinho

Você não está sozinho

Por Rodrigo Daum

Por Rodrigo Daum

Publicada há 3 anos

Oh! Bendito o que semeia

Livros... livros à mão cheia...

E manda o povo pensar!

O livro caindo n'alma

É germe - que faz a palma,

É chuva - que faz o mar. (Castro Alves)

A literatura romântica se divide em três fases – Indianista, Mal do século e Condoreirismo. A fase Indianista tinha por objetivo resgatar o herói nacional, e como não tivemos Idade Média – como na Europa que resgatou o cavaleiro medieval -; aqui, o Índio é o protagonista daquele cenário. A segunda – Mal do século – valorizava o subjetivismo, o medo de amar e colocava a mulher numa posição superior, inatingível – a morte na idade jovem era comum e considerada algo sublime, por isso o nome. A terceira fase, voltada para o social, trazia a escravidão como pano de fundo. Condoreirismo vem da ave – Condor – que vê tudo do alto, de forma panorâmica e tem sua liberdade garantida. 

Os versos acima, do poeta romântico, pertencente à terceira fase, ilustram como o livro e consequentemente a leitura podem ser uma forma de liberdade. Sua poesia preocupada com o social, tratou sobre questões político-sociais como a abolição por meio da literatura como teor de liberdade nacional. Em seguida, com a ascensão da burguesia, nasceu o folhetim – uma arte para essa nova classe social. Esse tipo de narrativa se diferencia do romance por ser mais simples, menos denso, com maior número de personagens e por ter final feliz. Os capítulos da trama eram vendidos diariamente, em jornais, para quem quisesse saber o desfecho da história – o que deu origem às novelas de hoje.  

A literatura tem duas funções – uma ética e outra estética. A função ética, aborda problemas sociais. Novelas, filmes, romances, letras de músicas trazem para nós problemas como o tráfico de pessoas, a violência nos grandes centros, bem como a doméstica, a doação de órgãos, a adoção, o aborto, as cotas, entre outros. Ela nos desenvolve a sensibilidade, o senso de empatia, nos ampara em questões éticas, fazendo-nos refletir a respeito dos problemas reais que nos cercam e nos ajudando a tomar um posicionamento. 

Por outro lado, a função estética nos envolve no campo do prazer. Entre a busca de mostrar uma dura realidade, o autor trabalha a poesia, a mensagem embalada nas rimas e na melodia de uma canção, no linguajar de um romance ou no cenário, nos movimentos de câmera e na sonoplastia de uma novela, de um filme ou de uma série. Embora doloroso, como não se emocionar com a narrativa da cena final de “O cortiço”? A escolha das palavras, a composição da cena. Trágico, porém lindo! Bem trabalhado. Neste momento, é possível esquecer os problemas reais e se entregar ao deleite da leitura – riso, pranto, frustração, tudo isso faz parte da catarse. 

Quantas vezes estamos passando por um problema e nos identificamos com este ou com aquele personagem, às vezes, diluímo-nos até entre mais de um personagem – não cabemos em caixinhas – e pensamos: “Esta dor não é só minha!” “Eu não sou o único com problemas no mundo.” “Ah! eu quero esses óculos!” ‘Que sala mais linda!” “Quero um amor assim!” Vemo-nos no outro claramente, como se um espelho estivesse à nossa frente. Escolhemos o caminho que queremos seguir e excluímos aquilo que não nos acrescenta. A literatura trata de sentimentos e de comportamentos humanos e a humanidade é uma só, seja na Idade Média ou agora; na Europa ou aqui no Brasil. 


Rodrigo Daum

Formado em Letras pela Fundação Educacional de Fernandópolis

Pós graduado em Docência para o Ensino Médio, Técnico e Superior

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