MINUTINHO
Suicídio
Por: Cornélio Pires
Suicídio, não pense nisso
Nem mesmo por brincadeira...
Um ato desses resulta
Na dor de uma vida inteira.
Por paixão, Quím afogou-se
Num poço de Guararema.
Renasceu em provação
Atolado no enfisema.
Matou-se com tiro certo
A menina Dilermanda.
Voltou em corpo doente,
Não fala, não vê nem anda.
Pôs fogo nas próprias vestes
Dona Cesária da Estiva...
Está de novo na Terra
Num corpo que é chaga viva.
Suicidou-se à formicida
Maricota da Trindade...
Voltou... Mas morreu de câncer
Aos quatro meses de idade.
Enforcou-se o Columbano
Para mostrar rebeldia...
De volta, trouxe a doença
Chamada paraplegia.
Queimou-se com gasolina
Dona Lília Dagele.
Noutro corpo sofre sarna
Lembrando fogo na pele.
Tolera com paciência
Qualquer problema ou pesar;
Não adianta morrer,
Adianta é se melhorar.
CRÔNICA
Momentos com Chico Xavier
Por: Abreviação de texto de Adelino da Silveira
Estávamos na residência do Chico Xavier. Seu estado de saúde não lhe permitia deslocar-se até o centro. A multidão se comprimia lá na rua em frente. Quando o portão se abriu, a fila de pessoas tinha alguns quarteirões. Foram passando uma a uma em frente ao Chico. Pessoas de todas as idades, de todas as condições sociais e dos mais distantes lugares do país. Algumas diziam:
- Eu só queria tocá-lo… Meu maior sonho era conhecê-lo…
- Só queria ouvir sua voz e apertar sua mão…
Uns queriam notícias de familiares desencarnados; espantar uma ideia de suicídio. Outros nada diziam nada pediam, só conseguiam chorar.
Com uma simples palavra do Chico, seus semblantes se transfiguravam, saíam sorridentes.
Ao ver as pessoas ansiosas para tocá-lo, a interminável fila, a maneira como ele atendia a todos, fiquei pensando:
“Meu Deus, a aura do Chico é tão boa… Seu magnetismo é tão grande que parece que pulveriza nossas dores e ameniza nossas ansiedades”.
De repente, ele se volta para mim e diz:
- Comove-me a bondade de nossa gente em vir visitar-me. Não tenho mais nada para dar. Estou quase morto. Por que você acha que eles vêm? Perguntou-me e ficou esperando a resposta.
Aí, pensei: Meu Deus, frente a um homem desses, a gente não pode mentir e nem dizer qualquer coisa que possa vir ofender a sua humildade (embora ele sempre diga que nunca se considerou humilde)... Tudo isso passou pela minha cabeça com a rapidez de um relâmpago. E como ele continuava olhando para mim, esperando a resposta, animei-me a dizer:
- Chico. Acho que eles estão com saudades de Jesus. Palavras tiradas do fundo do coração. Penso que elas não ofenderam sua modéstia.
A multidão continuou desfilando. Todos lhe beijavam a mão e ele beijava a mão de todos. Lá pelas tantas da noite, quando a fila havia diminuído sensivelmente, percebi que seus lábios estavam sangrando. Ele havia beijado a mão de centenas de pessoas. Fiquei com tanta pena daquele homem, nos seus oitenta e oito anos, mais de setenta dedicados ao atendimento de pessoas, que me atrevi a lhe perguntar:
-Por que você beija a mão deles?
A humildade de sua resposta continuará emocionando-me sempre:
-Porque não posso me curvar para beijar-lhes os pés...