À EUROPA

Empresário comprou navio e hangar para traficar cocaína

Empresário comprou navio e hangar para traficar cocaína

Informações constam em inquérito da Polícia Federal

Informações constam em inquérito da Polícia Federal

Publicada há 2 anos

Da Redação

O jornalista Josmar Jozino, colunista do Portal UOL, autor de quatro livros, três sobre crime organizado, com destaque para "Cobras e Lagartos", obra referência sobre a facção criminosa PCC, publicou em sua coluna desta terça (14), matéria sobre investigação da Polícia Federal que aponta o empresário João Carlos Camisa Nova Júnior, 36, como proprietário de um navio em Santos (SP) e de um hangar, que manteve em nome de uma empresa de táxi aéreo em Boa Vista (RR).

Tanto navio quanto o hangar teriam sido utilizados para traficar toneladas de cocaína à Europa. Camisa Nova está preso na capital paulista.

Jozino entrou em contato com os advogados do empresário brasileiro, Luiza Nagib Eluf e o filho Vitor Nagib Eluf, por telefone e e-mail. O defensor retornou à ligação e informou que a mãe dele se manifestaria em relação ao cliente. Porém, ela não deu resposta até a conclusão da matéria.

Camisa Nova também é investigado por envolvimento com o espanhol Mansur Ben Barka Heredia, suspeito de ser o dono de 580 kg de cocaína apreendidos em fevereiro deste ano em um avião de uma companhia portuguesa no aeroporto internacional de Salvador (BA).

Segundo a Polícia Federal, o empresário brasileiro investiu R$ 1,6 milhão no navio Srakane, de bandeira panamenha, com o objetivo de usar a embarcação em atividades voltadas ao narcotráfico. E com a mesma finalidade montou a JRCN Aviation, empresa proprietária de um hangar em Roraima.

Jozino teve acesso ao inquérito de 666 páginas da Polícia Federal e também a outras 795 páginas referentes aos pedidos de prisões preventivas dos envolvidos no caso. Os documentos estão sob segredo de justiça.

Camisa Nova passou a ser investigado em 2 de outubro do ano passado, quando agentes federais apreenderam 1,5 tonelada de cocaína escondida em sacos de grãos de milho no navio Unispirit, de bandeira Antígua e Barbuda, no Porto de São Sebastião (SP). A carga iria para o porto de Las Palmas, nas Ilhas Canárias.

O navio seguiu viagem e quando chegou no destino final, em 22 de outubro, a polícia espanhola, alertada por policiais federais brasileiros, localizou mais 1,2 tonelada da droga na embarcação. Os agentes da PF apuraram que a carga de grãos de milho pertencia a Camisa Nova, dono da CBA Trading Exportação de Produtos Agrícolas Ltda. Ele contratou outra empresa para exportar o produto. Os dois sócios dela também acabaram presos.

As autoridades espanholas identificaram como importadora da carga de grãos de milho a empresa Hashemuda Moreno, sediada em Sevilha e administrada desde 25 de maio de 2012 por Jéssica Moreno Gomez. Ela é mulher de Oliver Casado Prieto. O casal foi alvo de uma operação policial em Sevilha, onde morava, em dezembro de 2020, sob a acusação de manter vínculos com o tráfico de drogas. Na ocasião foram apreendidos armas, munição, euros, veículos e computadores.

A PF investiga agora qual é a ligação de Camisa Nova com Heredia. O nome do espanhol veio à tona no Brasil em 9 de fevereiro de 2021, quando mecânicos inspecionaram a aeronave Dassault Falcon 900, prefixo CS-DTP, da companhia portuguesa Omni, e encontraram a droga na fuselagem. O avião decolou do aeródromo de Tires, em Cascais, Portugal, em 27 de janeiro de 2021 e chegou em Salvador no dia seguinte. Estavam a bordo Heredia e o português João Loureiro, presidente do Boavista, clube da primeira divisão do futebol de Portugal, campeão na temporada 2000/2001

Após os trâmites alfandegários, o aparelho seguiu para o aeroporto de Jundiaí (SP) e ficou no hangar da Fly Away até 7 de fevereiro. Dois dias depois, já no aeroporto de Salvador, a aeronave passou por manutenção e a droga foi encontrada. Heredia deveria embarcar para retornar a Tires, mas não o fez. Camisa Nova e outras oito pessoas, incluindo um advogado, empresários de São Paulo e o dono de uma rede de postos de combustíveis na Bahia, foram presos no mês passado pela Polícia Federal durante a deflagração da Operação Calvary.

O nome é em alusão ao cemitério no qual Don Corleone, do filme "O Poderoso Chefão 1", foi enterrado. De acordo com agentes federais, Camisa Nova liderava uma quadrilha de narcotráfico e era chamado de Don pelos demais presos na operação.

A PF descobriu que Camisa Nova viajou para o exterior com Heredia em 7 de novembro de 2020 em um avião particular de prefixo PR-WYW. O voo partiu de Boa Vista, onde o brasileiro tem o hangar, e o destino declarado era o aeroporto internacional Amílcar Cabral, em Cabo Verde. Um empresário preso na Operação Calvary também estava a bordo. A PF acredita que os três foram para a Antuérpia, na Bélgica, acompanhar a chegada de drogas em contêineres.

Outra viagem feita por Camisa Nova para a Europa aconteceu em 5 de outubro de 2020, três dias após a apreensão de 1,5 tonelada de cocaína no navio Unispsirit, no porto de São Sebastião. Ele foi em um voo da TAP (Transportes Aéreos Portugueses) e desembarcou no aeroporto Humberto Delgado.

Chegou em Lisboa em 6 de outubro, mas retornou ao Brasil no mesmo dia, também em um voo da TAP. Ainda segundo a PF, em 14 de outubro de 2020, um dia antes da chegada do navio Unispirit a Las Palmas, Camisa Nova pegou um voo em Guarulhos e seguiu até o aeroporto internacional de Sevilha. O empresário retornou ao Brasil em 25 de outubro, após as notícias de apreensão da droga na Espanha.

Em março do ano passado, a PF recebeu das autoridades europeias a informação de que um navio de longo curso, dedicado ao tráfico de drogas, se deslocaria para o Brasil. Essa embarcação era o Srakane, adquirido posteriormente por Camisa Nova. O navio chegou à Paraíba em 6 de abril de 2020 e no dia seguinte foi para Recife. Em 16 de abril parou em Salvador, onde ficou 38 dias. Depois foi direto para o porto de São Sebastião. A chegada foi em 2 de junho de 2020. A permanência lá foi de 12 dias.

A tripulação ficou sem água e alimentos e em situação análoga ao trabalho escravo. Havia ainda dívidas trabalhistas e problemas com a documentação da embarcação. Fiscais da OIT (Organização Internacional do Trabalho) foram acionados. Os problemas só foram sanados quando surgiu um brasileiro disposto a comprar suprimentos para a tripulação e custear todas as dívidas.

Esse brasileiro era o empresário Camisa Nova. À época ele disse que fez isso "por compaixão e para assegurar a dignidade humana dos tripulantes". Camisa Nova gastou US$ 300 mil dólares, cerca de R$ 1,6 milhão na ocasião.

A atitude dele chamou a atenção da PF. Para os federais, o empresário não tinha vínculo com o navio e pagou as despesas em meio a uma das maiores crises econômicas de todos os tempos.

O empresário está preso no CDP 3 (Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros, zona oeste. Ele é acusado por tráfico de drogas, associação à organização criminosa e lavagem de dinheiro. E responde a processo por tentativa de homicídio ocorrida em fevereiro de 2018 em São Paulo. Segundo a Polícia Civil, ele devia R$ 170 mil para a vítima.

Fonte: Coluna de Josmar Jozino/Portal UOL de Notícias

Navio comprado pelo empresário Camisa Nova para traficar drogas, de acordo com investigação da PF (Foto: Divulgação)

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