FAZENDO A DIFER
'Voluntariado é o sentimento que melhor expressa o respeito'
'Voluntariado é o sentimento que melhor expressa o respeito'
Cicero Faustino, o autônomo que sentiu a necessidade de fazer o bem, independente do reconhecimento
Cicero Faustino, o autônomo que sentiu a necessidade de fazer o bem, independente do reconhecimento
Por Breno Guarnieri
Que tal sermos parte da solução e não colocarmos absolutamente tudo nas costas do Poder Público? Cicero Faustino, 35 anos, tornou-se conhecido em Fernandópolis por sua atuação voluntária na unidade fernandopolense do Hospital de Câncer. Cicero é autônomo. Um dia, ao sentir a necessidade de fazer “algo a mais para ajudar”, começou a traçar, sem saber, outro rumo na sua vida. Foi capaz de mobilizar amigos e desconhecidos na intenção de ajudar o HC de Fernandópolis. Hoje, Cicero também participa de vários outros projetos de impacto social a pedido de outras pessoas e empresas. Em entrevista à Reportagem de “O Extra.net”, ele faz questão de salientar que o que falta ao brasileiro não é engajamento nas causas sociais, e sim o estímulo e a informação, ou seja, saber onde é possível ajudar.
O Extra - Qual a razão de ser voluntário? Qual o maior significado?
CICERO - Ser voluntário muda tudo. É estilo de vida. Tem a ver com uma “nova agenda”. A minha “agenda” não é mais só minha, ela é do bem comum. Eu não penso mais de forma individual e sim coletiva. Qualquer ação que eu tenha reflete na vida de todos. Voluntariado não tem a ver apenas com a prática do voluntarismo. Tem a ver com estilo de vida voltado para promoção do bem comum. Crio e construo projetos para o setor público, para o setor privado e organizações sociais. Eu sei fazer projetos para organizações na intenção de captar recursos. Não necessariamente, como voluntário social, precisaria ir contar histórias para crianças, cuidar de idosos, entregar cadeiras de rodas. Esse cidadão faz isso no tempo livre dele. Não está fazendo na vida dele. Eu, particularmente, precisava fazer algo. Via alguém na calçada com fome e com sede ou que necessitava de assistência eu, imediatamente, achava um jeito de, naquele raio, ajudar.
O EXTRA - Quanto tempo você dedica do seu dia a ações voluntárias?
CICERO – Não existe um tempo específico, pois como já sou voluntário há um ano no HC de Fernandópolis, tenho conhecimento das ações da unidade. Fico atento aos projetos que vinham sendo desenvolvidos antes de eu me tornar um voluntário. As minhas horas de lazer são dedicadas especialmente a essas ações, de cuidar, conversar e capacitar outros voluntários por meio da informação e conhecimento sobre o assunto. Nunca recebi nada em troca, apenas a satisfação de estar ajudando.
O Extra - O brasileiro tem visão de voluntariado como alguém não remunerado e com ações apenas no tempo livre. Isso não prejudica o engajamento?
CICERO - Qualquer julgamento sobre o cidadão, se ele tem engajamento ou não, no Brasil, é precipitado. No meu modo de ver, não prejudica de forma alguma o sério trabalho desenvolvido, especialmente, ao paciente com câncer. Na verdade o brasileiro tem a visão de “fazer o bem sem olhar a quem”. Acho que o maior ganho do voluntário no Brasil não seria a remuneração monetária, mas uma “carreira social”. Imagine que quem tivesse engajamento tivesse menos dificuldade na hora de ser escolhido em uma universidade? Imagine o mercado de trabalho fazendo isso, ou seja, começa a mexer com o ecossistema e você vai ter o voluntário que participa porque é altruísta, quer fazer o bem, mas vai ter uma cadeia de voluntários que fará coisas por vários motivos diferentes. Gera ganhos para a sociedade, ou seja, ao próximo, mas você também tem ganhos de benefícios para sua vida. É difícil julgar.
O EXTRA - Qual o impacto que o voluntariado exerce na vida de quem o pratica?
CICERO - Acima de tudo amor. Recebemos muito amor em troca e isso estimula cada vez mais o trabalho voluntário. Por exemplo, quando chegamos para conversar com mulheres que receberam o diagnóstico do câncer de mama, notamos que elas ficam mais calmas e felizes por estar conversando, desabafando, enfim, ganhando uma atenção especial para os problemas delas. É uma conversa honesta. A cura do câncer depende basicamente do bom tratamento e de bons médicos, mas uma simples conversa com um voluntário proporciona um pouco (ou muito) de disposição e esperança às pessoas. É uma experiência gratificante de fazer novas amizades, pois eles (pacientes) confiam em mim.
O EXTRA - Que dicas e orientações você poderia dar às pessoas que desejam ser voluntárias?
CICERO - Capacitem-se e estudem. O paciente que está em tratamento de câncer não pode ouvir bobagem, pois é uma fase em que ele está muito sensível. Procurem informa-se de lugares que oferecem capacitação de voluntários para trabalharem junto às pacientes de câncer. Precisamos de pessoas que tenham a vontade de conhecer a essência do voluntariado. As pessoas precisam sentir a vontade de “fazer algo a mais” para ajudar alguém. Eu sentia essa necessidade.
Cicero tornou-se conhecido em Fernandópolis por sua atuação voluntária na unidade fernandopolense do Hospital de Câncer
Ele também participa de vários outros projetos