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Lembra do Cine Fernandópolis?

Lembra do Cine Fernandópolis?

Por Claudinei Cabreira

Por Claudinei Cabreira

Publicada há 8 anos

        

Fachada do antigo Cine Fernandópolis, onde umafaixa anunciava a estréia do filme “Quo Wadis?”, no começo dos anos sessenta



  Então... Foi ali que pela primeira vez na vida vi um filme, e acho que o primeiro deles foi “A Paixão de Cristo”, em preto e branco. Isso foi por volta de 61/62. O gerente do cinema, o “seo” Alvarenga, era um homem muito sério, tipo “durão mesmo”. Com ele não tinha conversa, todos os filmes tinham uma placa na porta do cinema indicando a censura. Naqueles tempos, censura livre não existia. O mínimo era cinco anos.

E aí ia subindo, 10 anos, 14 anos, 16 anos, 18 anos e acreditem, havia alguns filmes só para maiores de 21 anos. Esses filmes para maiores de 18 e 21 anos, só passavam no Cine Santa Rita, onde hoje estão o Lacqua di Fiori  e a Lurrô Modas. E tem mais, se o “seo” Alvarenga olhasse o sujeito com o ingresso na mão, e suspeitasse que ele não tinha idade para ver o filme, era preciso apresentar um documento. Valia certidão de nascimento para os menores e titulo de eleitor para os maiores. Sem documento não tinha conversa.

No Cine Fernandópolis, nas tardes de domingo, tinha as memoráveis matinê, e antes dos filmes, a calçada na frente do cinema se transformava numa animada feira livre, onde os meninos trocavam e vendiam seus gibis usados.  Haviam colecionadores de Mandrake, O Fantasma, Zorro, Coyote, Bufallo Bill, Roy Rogers, Tarzan, Capitão Marvel, Super Homem, Bill The Kid, Tio Patinhas, Pato Donald, Mickey... nossa! Se for falar todos os títulos, vamos longe.

Entrar no cinema com os gibis não podia. Então todo mundo levava um irmão menor, que voltava para casa carregando as coleções.  Tudo era negociado, quem levava os gibis de volta, ficava responsável por eles. E como pagamento,  podia ler os gibis novos trocados e as vezes ganhava algum gibi velho, menos interessante. A feirinha sempre terminava 10 minutos antes de começar o filme, sempre às 14hs em ponto. Quando fechava as cortinas, tocava o primeiro sinal, o segundo sinal e no terceiro sinal, começava o filme.

E depois do filme, sempre haviam os “seriados”, filmes em capítulos, iguais as novelas de hoje. E os filmes daqueles tempos? A Conquista do Oeste, com John Wayne, Gregory Peck, Henry Fonda e a loirinha e brava mocinha Halley Millis; Bem Hur, com Charlton Heston; Quo Wadis, com Robert Taylor e Deborah Kerr; Burt Lancaster, em À Um Passo da Eternidade; Cleópatra,  com Liz Taylor e Richard Burton; O Sheik de Agadir, com Omar Sharif; Jason e o Velo de Ouro, Os doze trabalhos de Hércules, Maciste, Sansão; as séries do Gordo e Magro, Trinnity,  Tarzan, Jane, Boy e Chita. Lembra? Nas noites de quarta-feira havia a famosa “Sessão do Rapa”, quando o ingresso era bem menos que a metade dos dias normais.Bons tempos aqueles.

Continuando, os filmes épicos de faroeste americanos, bang-bangs italianos e nas séries romanas, sempre havia o mocinho e a mocinha,  o bandido e os amigos de cada um. Quando os índios peles-vermelhas cercavam o mocinho, a gente torcia pela chegada de ajuda, e quando aparecia a Cavalaria Ligeira, a platéia batia palmas. As mesma coisa acontecia quando Hércules, Maciste ou Sansão, colocavam abaixo as colunas dos grandes castelos da Roma antiga. Toda sessão de matinê ou das seis da tarde, era sempre uma festa.

Os meninos e meninas do meu tempo, contavam nos dedos os anos que faltavam para poder ver os tais filmes proibidos, que comparados às novelas de hoje, eram água com açúcar. Poder assistir à sessão das oito no Cine Fernandópolis ou no Cine Santa Rita, era o atestado da tão sonhada maturidade. E tem mais, os namoros no escurinho do cinema eram arriscados, porque havia o lanterninha.  Se o casalzinho não se comportasse, não tinha conversa, era colocado para fora e pronto. Com o “seo” Alvarenga a moçada não tinha moleza.

Pensando bem, vivemos tempos bicudos. Naqueles tempos, até os maiores de idade tinham horário para voltar prá casa. E ai de quem não cumprisse o horário combinado com os pais. No próximo final de semana pegava gancho. Bom, na semana que vem tem mais. Boa leitura e até lá.

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