FÉ
Oratória ou escutatória? Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir
Oratória ou escutatória? Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir
Leia também: Por que aquela jovem mulher quis ser enterrada com um garfo na mão?
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MINUTINHO
Oratória ou escutatória?
Por: Rubem Alves
Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória.
Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir.
Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.
Escutar é complicado e sutil.
Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Filosofia é um monte de ideias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.
Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.
Parafraseio o Alberto Caeiro:
Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito.
É preciso também que haja silêncio dentro da alma.
Daí a dificuldade:
A gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor...
Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.
Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração...
E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade.
No fundo, somos os mais bonitos...
CRÔNICA
Mantenha o seu garfo
Por: Autoria desconhecida / Tradução: Sérgio Barros
Uma jovem mulher tinha uma doença terminal e lhe foi previsto, pelos médicos, apenas mais três meses de vida. Desta forma, ela começou a colocar suas coisas “em ordem”, preparando o desencarne.
Passado algum tempo, ligou para um amigo e pediu que viesse à sua casa para discutirem determinados aspectos de seus últimos desejos. Conversaram sobre vários pontos e ela lhe passou todas as suas últimas vontades relacionadas ao serviço funerário. Tudo estava em ordem e o amigo preparava-se para sair quando a mulher lembrou- se de algo muito importante para ela.
- Tem mais uma coisa! Disse excitada.
- Do que se trata? Perguntou o amigo.
- Isto é muito importante. - a mulher continuou - Eu quero ser enterrada com um garfo em minha mão direita.
O amigo, assustado, ficou olhando a mulher sem saber o que dizer.
- Isto é uma surpresa para você, não é? A jovem mulher perguntou.
- Bem, para ser honesto, estou confuso com este seu pedido. Respondeu o amigo.
A mulher então explicou.
- Quando eu era criança visitava minha avó e quando no jantar os pratos começavam a serem recolhidos, ela inclinava-se em minha direção e cochichava em meu ouvido:
- Mantenha o seu garfo.
Era minha parte favorita porque eu sabia que algo melhor estava por vir... Como o bolo de chocolate ou a torta de maçã.
- Assim, eu apenas quero que as pessoas me vejam lá no caixão com um garfo em minha mão e então perguntarão “para que é o garfo?”. Então quero que lhes diga: “ela mantém seu garfo porque o melhor está por vir”.
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