OPINIÃO

Artigo: Mira Estrela sob o Ataque dos Cães

Artigo: Mira Estrela sob o Ataque dos Cães

Por: Gil Piva

Por: Gil Piva

Publicada há 7 meses

Artigo: Mira Estrela sob o Ataque dos Cães

Por: Gil Piva


Sou vítima da realidade. Digo isso porque toda vez que me esforço para compreendê-la, sua corriqueira falta de resposta me conduz rapidamente para a ficção. Nem pudera, o universo simbólico da ficção é mais prazeroso e rico.

Repito, sou vítima dessa fraqueza. Para alguns amigos meus, trata-se de uma confirmação herética. Concordo com eles, em partes; discordo deles, também em partes; afinal, acredito que nas divagações os pensamentos são livres.

Para quem não sabe, costumo correr com certa frequência pela cidade e seus arredores. Ao longo desses anos de cooper, observava eu algumas pessoas caminhando com uma vara na mão. A princípio, imaginava que pudessem ser exemplos de peregrinos treinando para encarar o caminho de Santiago de Compostela. 

Com o avanço dos anos, me vi obrigado a adotar a varinha mística, manejando-a firme no ar. Como nunca fui fã do Paulo Coelho, meu cajado possuía motivação própria: com ele, eu fingia enfrentar os seres traiçoeiros nas ruínas de Moria, o Gandalf em pessoa sendo atacado por um bando de orcs.

Os cães tomaram conta das ruas de Mira Estrela; impossível se dedicar a uma caminhada, corrida ou pedalada sem que nos ataquem. São de todas as raças e tamanhos, com ou sem coleira.

No processo civilizacional tem disso: nossos descuidos alimentam semelhantes problemas para a cidade e sua comunidade; infelizmente, num certo momento, tais descuidos respingarão na administração pública. Exemplo claro: a covid não foi criada pelos governos federal ou estadual, porém, uma vez se tornando um problema de saúde pública, os representantes políticos devem oferecer um olhar possível sobre o assunto, às vezes circunstanciais, às vezes não.

Nota de contextualização: semanas atrás, minha filha, eu e minha senhora saímos para uma caminhada vespertina; as duas desistiram nos primeiros quinhentos metros.

Não preciso ir tão longe para ilustrar os estorvos caninos. Meu antigo vizinho se mudou deixando uma matilha na porta (literalmente) da minha casa. Abandono é crime. Mas quem é ele? Qual o seu nome? De que maneira notificá-lo? Na ausência dele, quem responsabilizar, a quem solicitar socorro?

Embora existam casos recentes de mordidas, não se constata (até onde sei) registro de doenças como a raiva, leishmaniose, leptospirose, escabiose, toxoplasmose etc. Seria um agravo para a população. Para uma cidade turística, o que se tem são presas à mostra prestes a se tornarem um triste cartão postal.

Talvez poucos saibam, o município angariou num período próximo uma verba de R$ 50 mil de uma emenda parlamentar para implantação de trabalho de castração. Por questões misteriosas até para este colunista que vos escreve, perderam o referido dinheiro. Poderia ser o início de um trabalho essencial - que se quer contínuo.

Provavelmente os ilustres vereadores podem explicar tal razão. Em contrapartida, meu ligeiro ceticismo já me adverte me oferecendo um banquete digressivo, rumo à Terra-média.

Enquanto isso, entre latidos e ataques, cruzo com os peregrinos de Compostela, e nos cumprimentamos com nossos cajados medievais.

Gil Piva

O texto é de livre manifestação do signatário que apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados e não reflete, necessariamente, a opinião do 'O Extra.net'.

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