O agronegócio brasileiro tem orgulho, e com razão, de sua contribuição para a economia do país, de seu uso de tecnologias avançadas e geração de milhões de empregos diretos e indiretos.
Na verdade, somos 8 bilhões de pessoas no mundo. E não poderíamos estar aqui se não tivesse havido um grande progresso em termos de técnicas de plantio e criação de animais.
A mais notável mudança foi a revolução agrícola, que representou um enorme ganho de produtividade. Também chamada revolução verde, iniciou na década de 1940, movida principalmente pelo aprimoramento genético de plantas e animais, mecanização e uso intensivo de fertilizantes e defensivos agrícolas.
No entanto, nosso sistema de produção e consumo de alimentos está destruindo o planeta. A agropecuária é responsável por 19% das emissões de gases de efeito estufa, devido à liberação de metano pelo sistema digestivo dos bovinos, emissão de óxido nitroso pelas fezes e pelo uso excessivo de fertilizantes nitrogenados, e ainda de CO2 pelo desmatamento, queimadas e perda de solos, que também causam uma grande destruição de habitats naturais.
E tem mais. O mundo está passando por uma crise hídrica sem precedentes, resultante do uso intensivo de água, destruição de nascentes e devido ao próprio aquecimento global, que aumenta a duração e intensidade das secas. O consumo de água na agropecuária representa cerca algo entre 55 e 80% da água doce consumida pelos humanos.
Por isso tudo, nosso atual sistema de produção e consumo de alimentos terá que mudar. E o agronegócio deverá que se adaptar, se tornando ambientalmente sustentável. No entanto, para que isso aconteça, será preciso mudar a demanda, ou seja, a forma como nos alimentamos.
O consumo de carne bovina - cuja produção é a maior emissora de gases de efeito estufa e a que consome mais água – passou, no mundo todo, de 37 milhões de toneladas em 1950 para 58 milhões de toneladas atualmente.
Além disso, o consumo dos demais tipos de carne, principalmente frango e porco, cuja criação, embora produza menos metano, emite óxido nitroso e utiliza muita água, triplicou em 60 anos, passando de 71 para 343 milhões de toneladas.
Seremos 10 bilhões de pessoas em 2050 e ainda há hoje 700 milhões que convivem com subnutrição. A agricultura precisará ser ainda mais eficiente e produtiva, em um planeta com clima mais imprevisível e hostil para as atividades agrícolas.
A melhor maneira de enfrentarmos esse desafio é adotarmos uma dieta baseada em plantas. Antes que alguém se desespere com a ideia de não poder mais se deliciar com carnes, queijos e ovos, é importante salientar que não se espera que todos se tornem veganos. Podemos reduzir em muito o consumo de carne e outros produtos animais sem afetar nossa qualidade e prazer na alimentação.
É falsa a ideia de que precisamos consumir proteína animal para sermos saudáveis. Pelo contrário, o consumo excessivo de carne está ligado ao crescimento de doenças cardiovasculares, inflamação crônica, distúrbios hormonais (como o diabetes tipo 2) e outros graves problemas de saúde.
A produção de alimentos precisa ser direcionada para a produção de vegetais que sirvam diretamente para consumo humano, com maior produtividade e menos uso de insumos – água, fertilizantes e pesticidas – e energia.
Mudanças sempre causam apreensão. Mas as técnicas agrícolas evoluíram muito nos últimos 70 anos. E vão continuar a evoluir. Não faltarão oportunidades para o agronegócio continuar a exercer seu papel fundamental na economia do Brasil e do mundo, alimentando 10 bilhões de pessoas até 2050 e fornecendo insumos para inúmeros produtos.
Mas isso tem, e pode, ser feito de uma forma que preserve o meio ambiente e a saúde das pessoas.
Marco Moraes é geólogo PhD, pesquisador de mudanças climáticas e autor do livro Planeta Hostil (Matrix Editora).
O texto é de livre manifestação do signatário que apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados e não reflete, necessariamente, a opinião do 'O Extra.net'.