Puxando pela memória, a última vez que comi essa deliciosa fruta nativa, que quando madura se parece com uma goiabinha ou uma jabuticaba pequena meio amarela eu era muito pequeno.. Eu acho que a útlima vez que provei uma gabiroba foi quando tinha menos de dez anos de idade, e olhe que lá se vai mais de meio século. Amigo, o tempo passa, o tempo voa!
Nessa época eu me recordo que o povo da fazenda onde morava com meus pais, lá em Cedral, se reunia nas manhãs de domingo, acho que por volta de outubro e novembro, para buscar gabiroba nos pastos das fazendas e nas cercanias das matas de cerrado. As famílias se juntavam em grupos e o fazendeiro Ítalo Buosi, levava o povo com um caminhão Chevrolet verde escuro, todo mundo na carroceria com seus apetrechos para a colheita mais gostosa do ano.
A maioria das pessoas levava cestos, alguns levavam balaios de taquara e um porrete, igual aqueles usados na derriças da colheita de café. Com o porrete, batiam nas folhagens e no capim que se formava aos pés dos pequenos arbustos de gabiroba, para espantar cobras, que ali se aninhavam de tocaia para apanhar passarinhos que iam comer os frutos maduros. O fruto da gabiroba era muito parecido com pequenas goiabas bem miúdas com a casca bem lisa e quando amadureciam, ficavam verde amareladas. Era uma jabuticaba verde limão. Sua suculenta e deliciosa polpa, se parecia com a jabuticaba, mas sem o caroço. Só que por mais que me esforce, não consigo lembrar do sabor dessa fruta nativa do cerrado, hoje, praticamente extinta em toda nossa região.
Outros frutos nativos também desapareceram, mas me lembro bem do Marmelo, do Veludo vermelho e branco, que eram encontrados nas capoeiras ou perto dos rios e córregos. O Marmelo por exemplo, quando maduro, era mais ou menos do tamanho de um limão Taiti, preto, com a casca lisa e muito fina. Sua polpa era suculenta e muito adocicada, cheia de pequenas sementes.
Já o Veludo branco ou vermelho, tinha esse nome por causa de sua casca aveludada, uma polpa branca bem fina mas deliciosa e o resto era só caroço, mas mesmo assim, era muito apreciada pela meninada. Quem é dessa época, com certeza vai se lembrar de uma ameaça muito comum naqueles tempos rudes:” toma jeito menino, senão você vai levar uma bela coça de vara de marmelo!”
Será que você também se lembra da Macaúba e do Jatobá? A Macaúba era um coquinho comum que a gente quebrava a casca e roía a polpa amarelada que envolvia o caroço, onde sempre haviam três pequenas castanhas. Por outro lado, o Jatobá era sempre um grande problema. Primeiro era preciso montar uma “operação de guerra” para derrubar os frutos em pencas, lá no alto das imensas árvores. Era preciso ser bom na pontaria para acertar a pedrada ou a paulada bem no talo do fruto. Não era uma tarefa fácil!
Depois era preciso quebrar a casca grossa do Jatobá e retirar lá de dentro os pedaços cobertos com aquele pó amarelo que envolvia o caroço. Quando era levado à boca, aquele pó virava uma cola, grudando nos dentes, gengivas e no céu da boca. Acho que foi daí que inventaram o tal Corega pras segurar as proteses dentarias. E tem mais; era preciso moderar na quantidade, porque diziam os antigos, que Macaúba ou Jatobá além da conta, era “pereba” na certa!
Nas andanças pelas matas, pastos e brejos da vida, os meninos daqueles tempos se alimentavam de frutas nativas, que havia em abundância por todos os cantos. Sempre tinha alguém na turma que descobria um novo pé de Amendoim de Bugre, Seriguela,Cajamanga ou Azedinha. Nas beiras de córregos, era comum encontrar grandes pés de Ingás carregados de vagens, que quando maduravam, chegavama abrir, mostrando a saborosa polpa branca da fruta.
Lembro que na fazenda de Orlando Biroli, logo abaixo do grande açude, na nascente do Córrego Jagóra, havia um grande pé de Jambo amarelo bem no meio do pasto. Essa é outra fruta nativa que também sumiu da região. Lembro bem que a polpa do Jambo, tinha o gosto de pétalas de rosas.
Mas será que por acaso, você já comeu ou ouviu falar do Marolo? Então, esse fruto muito parecido com a nossa pinha ou fruta do Conde, também nativo e mais raro, era encontrado nos campos de cerrado ou no meio das pastagens. Quando maduro, ficava alaranjado e seu cheiro podia ser percebido à distância. Nos mesmos locais, a gente encontrava os pés de Cafézinho ou de Cabeça de Nego. E havia uma grande variedade de frutos, como as goiabas nativas e por aí vai.
Os meninos daqueles tempos não chegaram a conhecer os playgrouds de hoje, mas em compensação, fizeram da natureza o seu próprio e encantado parque infantil. Quase todos os moleques participavam dessas incursões, sempre carregando o inseparável estilingue, um embornal cheio de bolinhas de saibro e outro vazio para carregar os frutos que encontravam. E os melhores e maiores frutos, sempre eram levados como troféus para nossos pais. Bons e inesquecíveis tempos aqueles, onde o maior perigo era levar um tombo do alto de uma árvore, tomar um susto de alguma cobra, ou levar um carreirão de alguma vaca brava! Semana que vem tem mais. Até lá!