OPINIÃO

Coruripe tem prejuízo milionário na safra 2025/2026: R$ 150 milhões

Coruripe tem prejuízo milionário na safra 2025/2026: R$ 150 milhões

Recuo na moagem, piora da qualidade da cana e peso dos juros viram o jogo após safra histórica

Recuo na moagem, piora da qualidade da cana e peso dos juros viram o jogo após safra histórica

Publicada há 1 hora

Foto: O Extra.net

Depois de uma safra histórica, a realidade bateu forte à porta da Usina Coruripe. A companhia encerrou o segundo trimestre da safra 2025/26 com prejuízo acumulado de R$ 150,5 milhões, uma reversão expressiva frente ao lucro líquido de R$ 672,2 milhões registrado no mesmo período do ciclo anterior.

O resultado negativo escancara uma combinação indigesta para o setor sucroenergético: menos cana, cana de pior qualidade e dinheiro mais caro — uma equação que começa a se repetir em grandes grupos do setor e coloca outras empresas situadas na região sob lupas.

Menos cana, menos açúcar, menos receita

Os números operacionais ajudam a explicar o tombo. A moagem caiu 7,7%, totalizando 11,6 milhões de toneladas entre abril e outubro. Não bastasse o volume menor, a queda no teor de sacarose derrubou em 10,4% o volume de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR), afetando diretamente a produção de açúcar e etanol.

O reflexo apareceu nas vendas. Parte do açúcar inicialmente previsto para comercialização foi postergada, reduzindo a geração de caixa no curto prazo. A receita bruta total recuou 2,6%, fechando o período em aproximadamente R$ 2,7 bilhões.

O peso invisível dos juros

Mas o golpe mais duro veio do financeiro. As despesas financeiras saltaram para R$ 493 milhões apenas nos primeiros meses da safra, impulsionadas pelo aumento do endividamento e pelo cenário de juros elevados.

A dívida líquida alcançou R$ 3,7 bilhões, alta de 15% desde o início da temporada. Já a dívida bruta gira em torno de R$ 4,6 bilhões, com 78% indexados ao CDI — combinação que pressiona o caixa em um ambiente monetário ainda restritivo.

Ebitda cresce, mas não salva o resultado

Curiosamente, nem tudo piorou. O Ebitda ajustado cresceu 9,6%, chegando a R$ 931,5 milhões, o que permitiu uma leve melhora na alavancagem financeira, que recuou de 4,13 vezes para 4,03 vezes.

O dado, porém, não foi suficiente para neutralizar o impacto do menor volume produzido e do custo financeiro elevado — sinal de que eficiência operacional, sozinha, não resolve quando o cenário macroeconômico joga contra.

Aposta no futuro e travas de preço

De olho nas próximas safras, a Coruripe acelerou sua estratégia de proteção. Para 2026/27, a empresa já fixou 40% do volume de açúcar destinado à exportação, com preço médio de R$ 2.702 por tonelada. Há ainda contratos para 2027/28, com cerca de 5% do volume travado a R$ 2.643 por tonelada.

A movimentação revela cautela e tentativa de previsibilidade em um mercado cada vez mais volátil.

Triângulo Mineiro e Fernandópolis na logística

A Coruripe mantém forte presença no Triângulo Mineiro, onde opera quatro unidades industriais — em Iturama, Limeira do Oeste, Carneirinho e Campo Florido. As plantas são estratégicas para a moagem e reforçam o peso da região na engrenagem do grupo.

No tabuleiro logístico, entra também o terminal ferroviário próprio em Fernandópolis, aproveitando a expansão da Ferrovia Norte-Sul. A estrutura tem capacidade para movimentar até 300 caminhões por dia, conectando produção e exportação com mais eficiência.

Hoje, a Coruripe possui capacidade de moagem de até 15 milhões de toneladas de cana, produz mais de 1 milhão de toneladas de açúcar por ano, cerca de 500 milhões de litros de etanol, além de energia renovável a partir da biomassa.

No pano de fundo, o caso Coruripe ilustra um alerta silencioso: mesmo grandes players, com logística e escala, não estão imunes à combinação de clima, produtividade e juros altos. A próxima safra dirá se o ajuste será suficiente — ou apenas o início de um ciclo mais duro para o setor.

Por: Beto Iquegami - beto@oextra.net

O texto é de livre manifestação do signatário que apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados e não reflete, necessariamente, a opinião do 'O Extra.net'.

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