Carlos Eduardo

Maus-tratos aos idosos: exemplo de covardia e ingratidão

Maus-tratos aos idosos: exemplo de covardia e ingratidão

Por Carlos Eduardo Maia de Oliveira - Professor e Biólogo

Por Carlos Eduardo Maia de Oliveira - Professor e Biólogo

Publicada há 8 anos

            “Conheço um velho ditado, que é do tempo dos agais. Diz que um pai trata de dez filhos, dez filhos não trata de um pai. Sentindo o peso dos anos sem poder mais trabalhar, o velho peão estradeiro, com seu filho foi morar. O rapaz era casado e a mulher deu de implicar. Você manda o velho embora, se não quiser que eu vá. E o rapaz, de coração duro, com seu velho foi falar...” (Trecho da canção intitulada “Couro de Boi”, de Teddy Vieira e Palmeirinha).


            O trecho acima faz parte de uma canção sertaneja muito conhecida que conta a história de um filho ingrato que abandona seu pai, já velhinho e precisando de cuidados, à própria sorte, atendendo à implicância e à chantagem de sua esposa que não queria o sogro morando em sua casa, a despeito da tristeza do netinho que gostava do avô. A canção retrata um caso muito comum em nossa sociedade: o abandono de idosos.


            Quem é pai ou mãe conhece os sacrifícios que são feitos em prol dos filhos. As noites mal dormidas, a preocupação com seu bem-estar e com sua educação. O investimento financeiro em seu futuro profissional, a torcida pelo seu sucesso, suas conquistas que nos deixam felizes, enfim, a vida ganha mais sentido com filhos e, de longe, é o maior presente para um casal. No entanto, o tempo passa rápido, os filhos tornam-se pais e os pais, por sua vez, envelhecem e tornam-se filhos de seus filhos e passam a necessitar de seus cuidados. Infelizmente, ao invés de receber assistência, muitos idosos são vítimas de abandono e maus-tratos.


            Em reportagem publicada no jornal “A Folha de S. Paulo”, no dia 21 de julho de 2015, foi divulgada uma pesquisa realizada pela Secretaria dos Direitos Humanos, com dados extraídos do disque-denúncia, em que os casos de violência e negligência contra idosos cresceram 16,4% em um ano. A negligência ou abandono, situação na qual o idoso é privado de cuidados mínimos ou é abandonado em hospitais ou asilos, correspondeu à maior parte das denúncias (77,6%); violência psicológica (51,7%), quando o idoso é insultado ou ameaçado; abuso financeiro (38,9%), quando ele tem seus recursos financeiros usurpados por terceiros; e violência física (26,5%), quando é covardemente agredido.


            Para se ter uma ideia do problema, a cada 10 minutos, um idoso é agredido no Brasil. Em 70% dos casos, o agressor é o próprio filho. Os dados são do ano de 2013 e foram levantados pela Secretaria de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida do Rio de Janeiro.


            Nesse caso, a pessoa idosa se vê diante de um doloroso dilema, pois reluta em denunciar o próprio filho, uma vez que o laço de parentesco é muito forte e difícil de ser rompido. Esse conflito interno explica porque 90% das denúncias de maus-tratos cometidos contra idosossão anônimas e realizadas por meiodo número 181 (O Disque-Denúncia).


            Destaca-se que a pena para quem abandona o idoso é de seis meses a três anos de prisão. Caso o abandono resulte em lesão corporal grave, pode ser aumentada em até cinco anos. No entanto, se o idoso falecer em decorrência do abandono, o juiz poderá aumentar a pena em até 16 anos de reclusão e o autor também responderápelo crime de homicídio.


            Além de crime passível de pena em regime fechado, a violência contra a pessoa idosa é uma covardia extrema e um ato de pura ingratidão por parte dos familiares e entes mais próximos. O idoso merece respeito - e bem sabem as pessoas que dedicam atenção a eles – é muito prazeroso interagir com representantes da terceira idade. Suas histórias de vida nos inspiram e seus conselhos nos ensinam a tomar as melhores decisões diante de situações difíceis.Ademais, é muitorica e salutara convivência entre netos e avós; as crianças desenvolvem o senso de respeito às pessoas mais velhas e também aprendem muito com elas, e os avós, por sua vez, sentem-se valorizados e têm a oportunidade, ao brincar com seus netos, de resgatar uma época da qual, muitas vezes, sentem saudades: a infância de seus filhos. Enfim, qualneto não se lembra da comida saborosa e inigualável preparada pelas avós?


            Além de obrigação, amparar os pais e familiares na senilidade é um ato de amor e reconhecimento à pessoa da terceira idade, a tudo o que ela fez em nome da boa criação de seus filhos. Também não nos esqueçamos de que, um dia, seremos idosos e poderemos acabar como o filho ingrato da canção, que recebeu de seu próprio filho, ainda criança, um pedaço do mesmo couro de boi que foi dado ao seu pai, no momento de seu abandono, e foi obrigado a ouvir o seguinte – “Um dia vou me casar, o senhor vai ficar velho e comigo vai morar. Pode ser que aconteça de nós não se combinar. Essa metade do couro vou dar para o senhor levar”.



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