José Renato Se

O Sartre dos Trópicos

O Sartre dos Trópicos

Por José Renato Sessino Toledo Barbosa - Professor

Por José Renato Sessino Toledo Barbosa - Professor

Publicada há 6 anos

No meu último ano de graduação, encantei-me com a contracultura. Li “A Contracultura” de Theodore Roszac, também devorei os autores da beat generation – sobre os quais já produzi uma coluna -, todavia, sob a orientação de meu querido professor Celso Favaretto, voltei-me para a cena brasileira também. Então deparei-me com um nome singular e fundamental nessa área: Luiz Carlos Maciel. De sua autoria, devorei “A Nova Consciência” e “Negócio Seguinte” e a “A Morte Organizada”. Três obras fundamentais que versam acerca das influencias e ventos contraculturais no Brasil, sobretudo, via Tropicalismo e os “Novos Baianos”.


Maciel é de uma lucidez, de um requinte textual e precisão nas ideias arrebatadores.


Graduado em Filosofia, escreveu um belo livro sobre Sartre, a mim indicado pelo também querido professor Osvaldo Giacóia Junior. Me emocionei com Sartre, mais ainda, após a leitura de suas análises.


Luiz Carlos foi durante muito tempo, integrante da equipe do grande “Pasquim”. Arauto combatente da ditadura militar e da caretice imperante até hoje no Brasil.


Celso Favaretto me presenteou com uma cópia de um artigo de Luiz Carlos Maciel, publicado na revista Fairplay, intitulado “Além da quieta revolução”. Texto de 1962, no qual abordava a beat Generation. Portanto, muito à frente dos brasileiros.


Editou o jornal Flor do Mal, rotativo contra cultural e foi diretor de redação da Rolling Stone no Brasil.


Trabalhou vinte anos na Rede Globo como roteirista, redator e integrante de grupos de criação de programas.


Todavia, sua grande força estava no teatro: além de escrever um livro sobre Samuel Beckett, dirigiu espetáculos de Millôr Fernandes, Leilah Assumpção e do próprio dramaturgo irlandês.


Há poucos anos publicou um livro de memórias e revisão dos anos sessenta, cujo título é “Anos 60”, no qual discute e desmitifica aquela década, no sentido de mostrar os equívocos e erros da crença na luta armada e, ao mesmo tempo, uma resposta a sua obra “Nova Consciência”, onde explicitava a certeza da construção dessa. Falhou, falhamos. No entanto, o sonho e a utopia, deveriam continuar. 


Concordo. Recordo-me de uma passagem na citada obra, no momento em que uma brasileira bradava contra a ditadura e convoca a todos para saírem às ruas e lutar. 


Terminou seu discurso dizendo: “– Quem for brasileiro, que me siga”. Somente um argentino acompanhou-a.


Com muita tristeza, no sábado, ao ler a “Folha de São Paulo”, deparei-me com a triste notícia: havia falecido, aos setenta e nove anos.


Fiquei muita triste com sua morte, embora nos últimos dois anos restringisse seu trabalho as “redes sociais”. Nas as tenho, não acompanhava.


Porém, fica o registro de um grande intelectual, jornalista e escritor, marcante numa época que parece que se esvai.


Pobres de nós.


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