Pregamos máscaras à cara, para suportarmos o cotidiano e, talvez, acreditarmos num sucesso. Daí a somatória de neuróticos e frustrados
De formação médica, ao iniciar seu ofício na sua Viena natal, cedo o jovem Sigmund verificou que havia determinadas patologias para as quais não existia um diagnóstico.
É importante salientar que há muito existe a preocupação de compreender nosso interior. Atribui-se a Goclênio (século XVI) a utilização, pela primeira vez, do termo Psicologia.
Na Filosofia antiga já existia uma tentativa de compreensão de nosso interior. Os cristãos falam em alma. Os gregos antigos usam o termo psique. Presente inclusive na mitologia grega.
A dicotomia platônica de mundo sensível e inteligível em alguma medida nos dá a oportunidade de dimensionarmos a questão: a divisão ontológica do humano.
Todavia, tudo era incipiente. Nosso interior ainda era — e é — um mistério.
Freud foi buscar na França uma possível solução às suas respostas para o problema. Assistiu a sessões de hipnose, procedidas por Jean-Martin Charcot (1825-93). Ao retornar à Áustria, verificou que o método era insuficiente, na medida em que, ponderou Freud, esse abordava a questão organicamente, todavia, o cerne do problema estava na psique. Na verdade, posteriormente, constatou que esse método se atém apenas ao consciente.
O cérebro humano é tripartido: consciente, pré-consciente e inconsciente. O primeiro é aquele com o qual agimos no cotidiano (ego?), o segundo é nossa memória, onde “arquivamos” aquilo que consideramos relevante para nossa vida diária (superego?) e o terceiro também é um “arquivo”, porém, é uma “gavetinha suja”, na qual depositamos nossos desejos secretos, todo tipo de “sacanagem”, com a qual sonhamos, adoraríamos viver, no entanto, há uma condenação moral, uma proibição, um tabu.
As reflexões e empirismo do médico levaram-no a anunciar: esse homem tripartido! Ego, Id e Superego formam-no. O primeiro é quem queremos que pensem que somos, ou seja, nossa persona, nossa máscara, como nos mostramos ao mundo. O segundo somos nós, em estado bruto, nossos quereres, instintos e desejos. Por fim, o terceiro é nosso “freio moral”, um mediador entre o ego e o id, uma espécie de equilíbrio.
Quando dormimos, “desligamos” o consciente. Entra em ação o inconsciente. Portanto, afloram desejos e luxúrias. Surgem em nossos sonhos. É comum ouvirmos: “Nossa! Tive um sonho louco essa noite!”
Lamento. Não é sonho louco. É você. Puros Id e desejos. “Desreprimindo-se” na hora em que “pode”, no “escurinho do quarto”, no momento do “sono sagrado”!
Freud atira-nos à face que: o sexo não é pecado! Não pode e não deve ser abordado moral e religiosamente. Ele é o cerne de uma infindável série de males que afligem o “humano, demasiado humano”, doentio, culpado e reprimido.
O ego está presente no consciente. O superego está tanto no consciente — sim, fingimos e usamos máscaras —, quanto no pré-consciente.
O id é o inconsciente. O onírico.
Importante: além de criar a Psicanálise, Freud trouxe à luz o inconsciente, com o qual a ciência contemporânea começa a constatar que nele estão 95% de nossa capacidade intelectual, conforme artigo publicado na revista Superinteressante de janeiro de 2013.
Esse onírico move o mundo! Agimos muito mais em função de sonhos e desejos do que pela consciência.
Pregamos máscaras à cara, para suportarmos o cotidiano e, talvez, acreditarmos num sucesso. Movemo-nos, não por nós, pelas convenções. Daí a somatória de neuróticos, frustrados, ressentidos, psico e sociopatas.
Tudo é jogo, tudo é convenção, tudo é regra. Não há espaço para o eu legítimo.
Se nossa vida — como nos ensina Freud —, volta-se para o “princípio do prazer”, seremos mais e verdadeiramente felizes e exitosos.