Uma pausa nessa coluna se fez necessária.
Reavaliei se deveria continuar escrevê-la; emitir opiniões...
Ainda estou em dúvida.
Explico: tempos plúmbeos, esquisitos. Emitir opinião, discordar, é motivo de guerra, de intolerância.
Estamos a ir de um extremo ao outro: ou se é petralha, comunista ou coxinha, bolsomion.
Ter opiniões, especialmente divergentes da maioria, gera problemas sérios.
Confesso: a vida inteira discordei da maioria. De alguma forma, fui sempre na contramão do “coro dos contentes”. Entrei em muita “treta”; ofendi, fui ofendido. Me indispus com muita gente.
Abri mão de carreira profissional, projetos pessoais, em busca de “projeto maior”: o Brasil.
Para que? NADA.
Bobagem.
Meus inimigos continuam no poder.
O povo, por quem sempre lutei, nunca me deu a mínima. Preferiu rotular-me. Muitas vezes, excluir-me, por não ser bem-vindo. Não rezo a cartilha do “coro dos contentes”.
É um preço que se paga. Que paguei.
Envelhecer é uma merda. Todavia, para uma coisa é uma benção: aprende-se alguma coisa. A vivência, na boa ou na porrada, ensina a ter tolerância, serenidade e alguma lucidez.
Sem arrogância, adquiri, ao menos, um pouco de cada.
Esses últimos meses foram difíceis para mim.
A prisão de Lula, em que pese dúvidas minhas acerca de sua honestidade, de sua pureza, foi eleiçoeira, oportunista, demagógica e ilegal, na medida em que, não há provas, apenas “convicção” do tal “juiz” Moro.
Ninguém quer moralizar nada. Apenas tirá-lo do páreo, para dar chances ao inimigo.
Se assim fosse, e os “notáveis” do PSDB? Somente um “peixe pequeno”, o ex-governador de Minas, parece que está guardado.
E o Aécio? E o Serra? E o Alckmin, cujos processos andam mais lentos que um cágado?
Por favor, não me venham com o cinismo do “foro privilegiado”.
Quantos pesos e quantas medidas?
Por esses temas, tive uma amizade de mais de trinta anos abalada.
Felizmente, a lucidez fê-la recuperar.
A propósito, meu amigo Ari, com quem rompera, por bobagens, diga-se, enquanto conversávamos, sugeriu-me, assistir a entrevista de José Padilha, o cineasta, concedida a Pedro Bial.
Assisti. Foi pedagógica.
Disse o cineasta que não conversava sobre política com alguns amigos que pensam diferente, exatamente para evitar brigas e rupturas.
Sábio.
Não tenho Facebook, não quero ter.
Porém, fico sabendo das barbaridades que escrevem acerca do genérico tema: política. Ouço comentários de minha esposa Jacqueline e de meu fraterno amigo João Leonel. A defesa de uma posição diferente do “coro dos contentes”, proporciona-lhe rótulos absurdos. Apenas por pensar e pensar diferente.
E justamente esses – o coro dos contentes – foram às ruas bater panela.
Derrubaram uma presidente eleita, em nome da moralidade, do fim da corrupção, do crescimento do Brasil, etc...
O que mudou?
Mudou. Em minha opinião, está muito pior.
A última: a “greve dos caminhoneiros”.
Privados de combustível, alimento, remédios, daquilo que nomeiam “o direito de ir e vir”.
O país paralisado por uma ação que com um mínimo de clareza se verifica que há mãos de grandes empresários, distribuidoras de combustíveis, latifundiários, especuladores, sustentando os “heróis”.
Discursos acalorados à direita e à esquerda, batedores de panela, coxinhas e congêneres, pedindo “intervenção militar, “Fora Temer”.
Um instante: não foi em nome da “democracia” que bateram panela para derrubar a presidente eleita? E a moralidade? E o combate a corrupção?
Agora é hora de defender o “irmão caminhoneiro”.
Lindo!
A propósito: domingo li na Folha de São Paulo, um argumento de uma coluna, cujo nome faço questão de esquecer: a culpa da “greve dos caminhoneiros” é do Lula! Ele barateou o preço dos caminhões.
Perfeito. É o mesmo que responsabilizar os pobres pela existência da pobreza.
Mais uma pérola: Li que os caminhoneiros são “anarquistas de direita”.?????????????
Outra aberração. Como afirmar a existência de ladrões honestos.
A sério: Já pararam para pensar – sei que é difícil – que a conta desse “ato cívico” ficará em quase vinte bilhões de reais?
Quem pagará essa fatura?O “herói caminhoneiro”?O latifundiário?O Banqueiro?O especulador?A classe política?Os militares?O Temer?Pois é, já sabem.
Quais serão os reflexos disso?
Mais desemprego, carestia, pobreza e miséria. Enfim, o caos.
Sinceramente, depois da CIA (agência de inteligência dos Estados Unidos) começar a divulgar documentos sobre a ditadura, os quais nos fizeram ver que ela foi muito pior do horror que já sabíamos, é cabível, bater panela e pedir a volta das forças armadas?
Elas estão nas ruas do Rio. Qual foi a melhora?
Necessitamos de “salvadores da pátria”, heróis, ou gente verdadeiramente séria?
Acreditem, no meio de toda essa lama recente, surpreendeu-me positivamente o atual governador de São Paulo. Mostrou-se sóbrio e lúcido, disposto a resolver o problema. Lógico, de antemão, com a velha receita: a conta deve ser paga pelo povo. Todavia, ao menos, não foi patético como os prebostes de Temer.
A conclusão a que chego?
Não há mais fundo de buraco para irmos.
A solução é alugar o Brasil.