Claudinei Cabre

O mês de junho e a tradição junina!

O mês de junho e a tradição junina!

Histórias do tempo do botinão - Por Claudinei Cabreira

Histórias do tempo do botinão - Por Claudinei Cabreira

Publicada há 9 anos



Será que você ainda se lembra como eram as festas juninas de antigamente? Então, para que a moçada de hoje em dia tenha uma ideia aproximada do que eram aquelas festanças e os mais velhos possam matar a saudade, vamos recuar no tempo, aí uns cinquenta anos, mais ou menos. Eu era bem pequeno, mas me lembro muito bem que quando chegava essa época do ano junto com as primeiras ondas de frio. Mas também era em junho que começava a preocupação do pessoal das fazendas com as frentes frias e as possíveis geadas. Se elas atingissem os imensos cafezais o prejuízo era muito grande, porque significava a quebra parcial ou até total da safra e quando isso acontecia,era certa e inevitável a perda de um ano inteiro de trabalho de sol à sol. 


Era um período de grandes festas, mas também de muita apreensão para o homem do campo. Mas voltando ao começo da nossa conversa, quando junho chegava, o povo da roça esquecia um pouco esses perigos da natureza e se dedicava na preparação das festas de Santo Antonio, São João e São Pedro. Era o tempo de agradecer os santos padroeiros pelas boas colheitas e de também era tempo de pagar promessas. O pessoal das colônias de antigamente vivia como uma grande família e da mesma forma como se juntava nos mutirões das colheitas, também se reunia em grupos dividindo as tarefas de cada um na preparação dessas festas. 


Enquanto um grupo munido de facões e machados seguia para o bambuzal para cortar bambus para a montagem da barraca do baile e para a apresentação da quadrilha, outra turma se encarregava de cortar dois eucaliptos; um para servir de mastro para levantar a bandeira do Santo do dia e outro para a instalação do famoso pau-de-sebo, onde lá no alto eram colocadas algumas notas graúdas de cruzeiros. Conseguir subir até lá em cima no topo do pau-de-sebo, era para poucos. Arranjar lenha para montar a grande fogueira no centro do terreirão, nunca foi problema para o povo das colônias. 


Quando não eram usados os velhos pés de café arrancados das lavouras, eram os tocos e restos de árvores mortas retiradas das matas. As mulheres e as crianças passavam dias cuidando na preparaçãodas bandeirolas coloridas de papel crepon para enfeitar o arraial, o local da festa. Logo ao amanhecer do tão esperado dia, as mulheres se organizavam também em grupos para preparar os panelões de quentão e grandesbaciadas de pipoca e amendoim torrado. Os rapazotes cuidavam de arranjar milho verde e “cacuvar” as leiras em busca de batata doce. Tinha trabalho de sobra prá todo mundo. Antes de começar a festa, sempre havia o terço e era preciso caprichar na decoração do altar, sempre com flores colhidas nas redondezas como as Dálias, Lírios, Rosas, Capitães-do-Mato e até ramalhetes das lindas flores de São João, que sempre se abriam nesta época do ano. Essas flores de São João eram de uma cor laranja bem forte e se espalhavam em moitas nas beiras das matas ou nas cercas de arame farpado, nas margens dos carreadores e estradões de terra batida. 


Quando terminava o terço, começava a festa com o povo levantando o mastro com a bandeira da imagem do santo, enfeitada com espigas de milho, pencas de laranjas, que eram oferendas e pedidos de boas colheitas. Era um momento de forte emoção, com o povo dando vivas, os adultos soltando rojões, os rapazotes soltando inofensivas bombinhas e traques, enquanto as crianças menores se encantavam, riscando os fósforos de cor. A fogueira era acesa, começava o divertido casamento caipira e logo em seguida,o sanfoneiro “puxava o bigode do acordeon” dando início ao grande baile, fazendo o pessoal levantar poeira. Enquanto o forró seguia animado, nos fundos da barraca do baile os pares se organizavame se preparavam para a tão esperada dança da quadrilha. Lá fora no terreirão todo enfeitado, o pessoal se divertia em torno da fogueira, colocando batata-doce e milho verde para assar na brasa. 


Os homens tomavam chiboca e conhaque, outros se aqueciam tomando quentão, enquanto os mais jovens se divertiam tentando escalar o pau-de-sebo. E sempre aparecia na festa um ou outro “espírito-de-porco”, que soltava um “buscapé com a vareta quebrada” no meio do povo, só prá fazer ‘salseiro” e ver o “forfé”! Depois de duas ou três seleções de sucessos de Mario Zan ou Tonico e Tinoco, começava enfim a tão esperada dança da quadrilha, com “os noivos” puxando a fila de pares ao som de “Eu vou dançar no arraiá feijão queimado/Eu vou dançar com a Rita do pé avermeiado”. E começava marcação: “Caminho da festa!”. Os pares seguiam os noivos, parando no centro do terreiro. “Olha a chuva!“. E todos davam meia volta. “Já passou!”.  Nova meia volta e seguiam adiante. “Olha a cobra!”.  As damas pulavam e davam gritinhos, os cavalheiros procuravam segurá-las em seus braços. “É mentira!”.  E todos davam uma grande vaia no marcador da quadrilha. “A ponte quebrou!”.  Outra vez davam meia volta. “Já consertou!”.  E assim seguia até o final da dança. Bons e animados tempos aqueles. Semana que vem tem mais. Até lá.

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