DELAÇÃO

Fraudes no FIES, professores vendendo provas e tentativa de suicídio: a delação que deu origem à Operação Vagatomia

Fraudes no FIES, professores vendendo provas e tentativa de suicídio: a delação que deu origem à Operação Vagatomia

Depoimento de Juliana Costa e Silva foi a base, junto de documentos, para a deflagração da operação na Universidade Brasil

Depoimento de Juliana Costa e Silva foi a base, junto de documentos, para a deflagração da operação na Universidade Brasil

Publicada há 4 anos

Gustavo Jesus

Juliana da Costa e Silva, ex-diretora de graduação do curso de Medicina da Universidade Brasil, foi a primeira colaboradora da instituição a firmar acordo de delação premiada. Seu depoimento foi realizado na Delegacia de Policia Federal, de Jales, em 8 de maio. As informações de Juliana foram fundamentais para a deflagração da Operação Vagatomia em setembro de 2019, quando 22 pessoas foram presas suspeitas de participar de esquema de fraudes no FIES - Programa de financiamento estudantil do Governo Federal.

FRAUDES NO FIES
 De acordo com o depoimento de Juliana, os alunos pagam entre R$ 80 mil e R$ 100 mil para garantir uma vaga no curso de Medicina. "Para você passar, precisa pagar 80 mil (reais). Se você quiser com Fies, é 100 mil (reais)". Segundo a colaboradora, os funcionários Adeli de Oliveira, o ‘Picadinho’, e Rosival Mateus Molina eram os mentores da captação de alunos. “O Rosival era o testa de ferro do doutor Fernando e o Adeli, o jagunço”, resumiu.

Juliana também implicou o advogado Orlando Machado e o ex-presidente e vice do Fernandópolis, Oclécio Dutra e Ricardo Saravalli, no esquema.

SEMESTRE PARA FRENTE
 A delação de Juliana também destaca que alunos que deveriam ser matriculados em semestres anteriores tinham a análise curricular facilitada para que entrassem em estágio mais avançado do curso. “O cara ia para o sétimo semestre, só que o Adeli e a equipe vendiam para ele que ele viria para o nono”, exemplifica a colaboradora. “Aí é onde começavam os atritos, porque aí o aluno chegava às reuniões (dizendo): ‘Eu paguei 80 mil (reais)’.”

De acordo com Juliana, as ofertas de vagas no Fies ocorriam até mesmo no pátio da universidade. “Eles comentam na fila da cantina.”

PROFESSORES VENDENDO PROVAS
 Durante seu depoimento, enquanto retratava um caso de reprova em massa no módulo de Morfofisiológica Humana - matéria que compreende Anatomia, Histologia, Biologia e outras -, Juliana afirmou que "os professores também ajudavam a reprovar".

Questionada pela autoridade policial se as reprovações eram "normais", Juliana respondeu que havia participação dos professores nas repetências. "Uma parte deles são sérios a outra parte não são sérios. Assim, depois eu comecei a entender que de fato tem venda de prova, professor que vende prova", disse Juliana no depoimento.

TENTATIVA DE SUICÍDIO
 Juliana também disse que a solução encontrada para os 275 alunos que foram reprovados foi a realização de um exame. Para participar do exame o aluno precisava de uma nota mínima e, de acordo com a ex-diretora, houve uma tentativa de suicídio com o desespero pela situação. "Teve um aluno que tentou se matar no banheiro da faculdade, então foi onde começaram a aparecer os problemas do curso", disse.

Na época do ocorrido, em junho de 2018, algumas informações sobre a tentativa de suicídio de três alunos durante a realização do exame chegou até a redação de O Extra.net. Uma aluna do curso, em contato com a nossa reportagem, disse que três alunos haviam tentado se suicidar durante a prova. O fato foi confirmado no depoimento de Juliana.

REPRESENTAÇÃO
 A Universidade Brasil ingressou, através do advogado Adib Abdouni, atual reitor, com uma representação na Superintendência da Polícia Federal, em São Paulo, contra o delegado Cristiano Pádua da Silva, de Jales, responsável pelas investigações que levaram à deflagração da Operação Vagatomia, que investiga a compra de vagas e fraudes no FIES no curso de Medicina da universidade em Fernandópolis.

De acordo com a representação, o delegado federal cooptou funcionários do campus Fernandópolis da Universidade Brasil para se infiltrar ilegalmente, sem prévia autorização judicial e “movido por interesses privados, na instituição de ensino".

RESPOSTA DO DELEGADO
 O delegado Cristiano Pádua da Silva, que preside o inquérito da Operação Vagatomia, classificou de ‘fantasiosas’ e ‘devaneios’ as acusações contra ele na representação feita à Corregedoria da Polícia Federal pela atual Reitoria da Universidade Brasil.

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