SAÚDE

Corticoide dexametasona reduz mortalidade em pacientes graves com Covid-19, diz estudo

Corticoide dexametasona reduz mortalidade em pacientes graves com Covid-19, diz estudo

Os dados são de um ensaio clínico com 6.000 pacientes ainda não publicado em revista científica

Os dados são de um ensaio clínico com 6.000 pacientes ainda não publicado em revista científica

Publicada há 4 anos

Da Redação

Cientistas da Universidade de Oxford anunciaram nesta terça, 16, que um corticosteroide barato, a dexametasona, é o primeiro medicamento que comprovadamente reduz de forma significativa a mortalidade de pacientes com Covid-19 hospitalizados. Os dados são de um ensaio clínico com 6.000 pacientes ainda não publicado em revista científica.

"A dexametasona é o primeiro medicamento que melhora a sobrevivência em caso de Covid-19", disse em um comunicado Peter Horby, professor de doenças infecciosas em Oxford e um dos principais autores do estudo britânico Recovery. "O benefício é claro e amplo em pacientes que estão doentes o bastante para necessitar de tratamento com oxigênio."

Horby disse que o medicamento deve se tornar o tratamento padrão desses pacientes, e ressaltou que o remédio é barato, amplamente disponível e pode ser usado imediatamente.

O medicamento reduziu cerca de 35% das mortes em pacientes que recebiam ventilação pulmonar mecânica. Nos infectados que precisavam de inalação de oxigênio suplementar, sem a intubação, a redução nas mortes foi de aproximadamente 20%. Os pesquisadores não viram benefícios em usar o medicamento em pacientes que não precisavam de suporte respiratório.

"O estudo mostrou benefício para quem precisa de oxigênio, os casos mais graves. Não é um medicamento para a parte da população que tem a doença na forma leve", lembra Viviane Cordeiro Veiga, coordenadora de UTI da BP (Beneficência Portuguesa de São Paulo).

Para Veiga, os dados divulgados são promissores e devem ser confirmados com novos estudos. "Esse é um remédio barato e muito acessível. Sabemos que ele é benéfico para tratar o comprometimento pulmonar causado por outras bactérias e vírus, mas ainda não tínhamos resultados para seu uso contra a Covid-19", diz.

De acordo com a médica, não há ainda um medicamento específico para o tratamento da doença. Hoje, o tratamento usual para pacientes em estado grave inclui o suporte de oxigênio, que pode ser feito com a intubação e a ventilação mecânica, analgésicos e sedativos. Devido a infecções bacterianas que podem surgir, alguns pacientes também precisam usar antibióticos, explica Veiga.

Um dos medicamentos testados com maior taxa de sucesso contra a infecção pelo novo coronavírus é o antiviral remdesivir, mas ele é um remédio experimental sem registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Segundo Luciano Cesar Pontes de Azevedo, superintendente de Ensino no Hospital Sírio-Libanês, a publicação dos dados completos vai ajudar a entender melhor como o estudo foi feito e avaliar o benefício do medicamento.

O médico afirma ser provável que o uso do remédio em pacientes da Covid-19 comece a ser incorporado mesmo antes dessa publicação. "É um medicamento de baixo custo e que é utilizado há bastante tempo em pacientes hospitalizados; conhecemos vantagens e desvantagens", diz.

Azevedo e Veiga fazem parte de um grupo formado por profissionais de alguns dos principais hospitais brasileiros para testar potenciais terapias para a Covid-19, o Coalizão Covid Brasil. O grupo já testa a dexametasona e, segundo os pesquisadores, o recrutamento de pacientes para o experimento está em fase avançada. Os resultados preliminares devem estar disponíveis até o início de agosto.

Participarão do estudo cerca de 350 pacientes de Covid-19 no estado mais grave. Os infectados vão ser divididos em dois grupos, um recebe o tratamento padrão para a doença com a dexametasona e outro grupo fica apenas com o tratamento padrão, explica Azevedo.

Com base nos resultados preliminares de Oxford, o ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, anunciou nesta terça (16) que o Reino Unido começará a administrar imediatamente dexametasona em pacientes com a Covid-19 depois dos resultados desse estudo.

"Estamos trabalhando com o Serviço Nacional de Saúde para que o tratamento padrão contra a Covid-19 inclua a dexametasona a partir desta tarde", disse Hancock.

O governo começou a estocar o medicamento meses atrás, porque estava esperançoso sobre o potencial da droga, segundo Hancock, e agora tem mais de 200 mil doses à mão.


Fonte: Folhapress

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