PANDEMIA

Hospital de Base de Rio Preto chega a mil internações por Covid

Hospital de Base de Rio Preto chega a mil internações por Covid

Hospital de Base e Hospital da Criança e Maternidade tiveram 1.018 internações desde o início da pandemia

Hospital de Base e Hospital da Criança e Maternidade tiveram 1.018 internações desde o início da pandemia

Publicada há 5 anos

Da Redação

Neste sábado, 8 de agosto, o complexo Funfarme divulgou que ultrapassou a marca dos mil pacientes internados com coronavírus desde o início da pandemia. Foram 1.018 pessoas que passaram pelos 441 leitos da instituição - que inclui Hospital de Base e Hospital da Criança e Maternidade (HCM) com a infecção confirmada. Desses, 592 tiveram alta, 233 continuam internadas e 218 acabaram falecendo. A maior parte dos pacientes é de Rio Preto, mas há moradores de outras cerca de 90 cidades.

Assim como ocorre com as outras doenças, a Funfarme é referência para os 102 municípios do Departamento Regional de Saúde (DRS). Não foram, no entanto, apenas pacientes da região que passaram pelos hospitais durante a pandemia - pessoas que estavam em Rio Preto e sentiram-se mal acabaram buscando atendimento aqui, vindas de locais como Rio de Janeiro e até de Jacundá, no Pará. A maior parte das pessoas é adulta, e a faixa etárias mais presente é dos 60 aos 69 anos.

O HB possui 280 leitos de enfermaria e 117 de UTI dedicados exclusivamente a pacientes suspeitos e confirmados de coronavírus. Já no HCM ficam os pediátricos. São 30 clínicos e 14 de alta complexidade. A estrutura é montada conforme as normas sanitárias, com distância de pelo menos dois metros entre as camas, separação entre pacientes suspeitos e confirmados e entre as equipes, que não podem transitar em outros setores. Tudo começou a ser preparado ainda em fevereiro, antes até do primeiro caso de coronavírus ser confirmado no Brasil.

O HB e o HCM são dois dos hospitais de Rio Preto destinados a coronavírus. Os pacientes também têm sido internados na Santa Casa, referência rio-prentese no SUS; na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Jaguaré, que se transformou em uma espécie de hospital; no Hospital de Jaci, no Austa, na Beneficência Portuguesa e no Santa Helena. A UPA Santo Antônio e a Unidade Básica de Saúde (UBS) Anchieta também foram convertidas em hospitais. O Hospital João Paulo II continua atendendo pessoas de Rio Preto e região, mas somente outras doenças.

Um dos pacientes que passou por esses leitos foi Ilton César Arroyo Pereira, de 31 anos. Funcionário da Funfarme há poucos meses, ele tinha medo de pegar o coronavírus, mas preferia ser ele a ficar doente do que a mulher, a manicure Jéssica Oliveira Ramos Arroyo, ou a filha, Lívia.

Ilton é um dos responsáveis pelos pequenos reparos dos hospitais, como a troca das lâmpadas, tomadas e cilindros de oxigênio, dentre outros serviços. Apresentou aos sintomas de coronavírus e, depois de alguns dias, eles começaram a se agravar. Quando chegou ao Hospital de Base, encaminhado do posto de saúde Bálsamo, cidade onde mora, estava com saturação em 60% (esse é o nível de oxigênio do sangue e o ideal é que esteja acima de 95%) e os pulmões bastante comprometidos.

Ele precisou ser intubado e não se lembra de nada dos 20 dias que passou em cima. Jéssica relata que os dias em que o marido ficou desacordado foram difíceis. "Mas a gente tem Deus e nos apegamos muito a ele. Aqui em Bálsamo fizeram corrente de oração", diz. "Quando acordei eu vi todas as coisas que minha filha tinha desenhado para mim", lembra. As ilustrações foram levadas para Ilton por uma prima dele, que trabalha como enfermeira na unidade respiratória do HB.

Ele conta que os outros dias que ficou no hospital demoraram a passar. "Não é fácil ficar no hospital, mas fui muito bem cuidado. Não vejo a hora de voltar ao trabalho", garante ele, que está em casa desde o dia 17 de julho, se recuperando. Uma das sequelas é um problema de movimentação no pé esquerdo, por ter ficado muito tempo em uma mesma posição.

A enfermaria de Covid-19 do HB, com seus 280 leitos, não ficou completamente cheia em nenhum momento, mas as 117 vagas de UTI, sim, no último sábado. Em outros momentos, beirou-se a lotação.

De acordo com Suzana Margareth Ajeje Lobo, chefe do serviço de terapia intensiva do HB e pesquisadora adjunta da Famerp, a maioria dos pacientes que chega à instituição vai direto à UTI - ou porque vem encaminhado de outros serviços, o que já indica uma gravidade (não é o caso de pessoas de outros Departamentos Regionais de Saúde ou estados, que estavam de passagem por Rio Preto e sentiram-se mal, por isso procuraram atendimento aqui), ou simplesmente porque já estão com o pulmão comprometido. Outros vêm da enfermaria, porque deram entrada em um estado melhor, mas acabaram piorando.

Antes mesmo de receber os primeiros pacientes com coronavírus, em março, o HB se preparava treinando a equipe, para garantir a segurança de todos e evitar que os profissionais de saúde se contaminassem. "O trabalho da UTI é exaustivo. Eu via o que estava acontecendo na China, na Itália e isso me preocupava, era visível a estafa e a contaminação de profissionais de saúde."

O doente de coronavírus, principalmente na UTI, é bastante complexo. Normalmente a equipe de uma unidade de alta complexidade é especializada, atualmente está difícil encontrar esse tipo de profissional para contratar, devido à alta demanda, então o HB está treinando pessoas que não têm tanta experiência com esse tipo de atendimento, diz Suzana.

"O doente tem um tempo médio de internação de dez dias em ventilação mecânica", diz. O Hospital de Base planeja abrir mais leitos de UTI, mas depende de credenciamento do Estado.

Um dos desafios enfrentados pela instituição é a falta de medicamentos para sedação de pacientes, essenciais à intubação. Foi preciso até acionar o Ministério Público e procurar as substâncias até fora do Brasil. A Secretaria de Estado da Saúde garantiu que vai enviar os fármacos, que começaram a chegar nesta sexta-feira. Chegou uma remessa de 10,4 mil ampolas de relaxantes, suficientes para 10 dias de uso.

"A gente fez protocolos para otimizar o uso, no sentido de que use combinações para fazer render mais", diz Suzana.


Fonte: Diário da Região



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