Carlos Eduardo

Viemos dos macacos? Ou os macacos são nossos parentes mais próximos?

Viemos dos macacos? Ou os macacos são nossos parentes mais próximos?

Por Carlos Eduardo Maia de Oliveira - Professor e Biólogo

Por Carlos Eduardo Maia de Oliveira - Professor e Biólogo

Publicada há 8 anos

Não! Nenhum cientista que trabalha com Evolução disse que viemos dos macacos, no entanto, afirmam com segurança que são nossos parentes vivos mais próximos na natureza, uma espécie de primos no reino animal – e isso é bem diferente.

Não vamos nos sentir desprestigiados por isso, pois os grandes macacos antropoides (chimpanzés, bonobos, gorilas e orangotangos) são animais muito inteligentes e carismáticos, e pensando bem, até que não foi tão ruim assim a Evolução (a ciência que estuda, dentre outras coisas, a relação de parentesco entre os seres vivos) provar que nós, seres humanos, somos animais como qualquer outro, pois isso nos tirou do pedestal do antropocentrismo (pensamento que coloca o homem no centro do universo), e que convenhamos, era uma grande ilusão.

Não! O homem não é o centro do universo, e os outros animais e plantas não foram feitos para nós, na verdade, somos produto dos processos evolutivos como qualquer outro ser vivo neste planeta.


Vamos matar a cobra e mostrar o pau, ou melhor, vamos provar a relação de parentesco estreita existente entre nós e nossos primos macacos com argumentos emprestados da Genética e da Biologia Molecular.


É inegável que a análise do DNA é um balizador confiável para se estabelecer relação de parentesco, certo? Pois bem, de acordo com uma pesquisa publicada na Nature, em 2012, a mais prestigiada revista científica do mundo, o macaco bonobo possui DNA (material genético) igual ao dos homens em 98.7% de sua totalidade, mesma porcentagem apurada entre humanos e chimpanzés, no ano de 2005; já outra pesquisa publicada em março de 2016, na revista Science, a segunda mais prestigiada do mundo, ficando atrás apenas da Nature, revelou que o DNA dos gorilas é igual ao dos homens em 98,4%. Em 2011, também na revista Nature, um artigo científico revelou que o DNA de orangotangos é igual ao do homem em 97%. O que podemos concluir com estas pesquisas? Que os grandes macacos antropoides são, sem sombra de dúvidas, os nossos parentes vivos mais próximos, uma vez que seria impossível tanta coincidência assim em uma molécula extremamente complexa como o DNA.


Por isso, não é de se espantar o fato de que compartilhamos muitas características semelhantes com estes primatas, pois não apenas parecemos fisicamente com eles (reparem nas mãos, unhas, esqueleto, braços, pernas e outras características físicas dos macacos), mas nosso comportamento também é similar. Os bonobos fazem sexo não somente para procriar, mas também por puro prazer e para estreitar relações afetivas entre seus membros, já os chimpanzés são guerreiros, fazem alianças, conchavos políticos, em certas ocasiões são muito agressivos e armam emboscadas para seus inimigos; os chimpanzés e os gorilas utilizam ferramentas – selecionam gravetos para capturar formigas dentro dos formigueiros e utilizam pedras para quebrar castanhas, e o mais impressionante, esta cultura é ensinada às novas gerações de macaquinhos; já avistaram fêmeas de gorila, no Parque Nacional de Proteção Ambiental Nouabalé-Ndok, na República do Congo (África), utilizarem pedaços de pau para verificar a profundidade de um rio antes de atravessá-lo e também um pedaço de toco de árvore como uma ponte. A fêmea de gorila denominada Koko, criada na Califórnia, (Estados Unidos) e utilizada em vários testes, é capaz de se comunicar através de sinais baseados na linguagem de sinais americana e, segundo sua treinadora, a Drª Penny Patterson, ela conhece 11 mil sinais e é capaz de entender mais de 2 mil palavras em inglês – em 2014 a gorila Koko demonstrou tristeza ao ser informada que o ator americano Robin Willians tinha morrido (ele gravou um vídeo com ela em 2001), mesmo sem ter visto o corpo.


Sempre nos impressionam estes comportamentos exibidos pelos grandes macacos, e isso ressalta a nossa similaridade com estes primatas, também verificada na extrema semelhança entre os nossos materiais genéticos (DNA). Essa semelhança entre nossas moléculas de DNA se deve ao fato de que existiu um ancestral comum entre nós e os chimpanzés e os bonobos (os parentes mais próximos dos homens, dentre todos os macacos) há, aproximadamente, seis (6) milhões de anos - o chamado “Elo Perdido”, que não era nem macaco, nem humano, mas que deu origem aos ancestrais dos macacos e aos primeiros hominídeos (os ancestrais do homem atual), e é por isso que a Ciência preconiza que não viemos dos macacos, mas que tivemos um ancestral comum com eles. Isso também ocorreu com outras espécies tão parecidas entre si, como o cavalo e a zebra, que tiveram um ancestral comum próximo, o leão e o tigre, a ema e o avestruz, os bovinos e os bubalinos e todas as espécies aparentadas de seres vivos, ou seja, os mecanismos da evolução dos seres vivos também valem para os seres humanos, e isso prova que não somos tão especiais assim aos olhos da natureza.


Portanto, a Evolução tirou o homem da sua condição pretensiosa de se achar o centro do mundo natural e isso deveria nos levar à seguinte reflexão: será que temos o direito de desrespeitar tanto a natureza? Será que podemos levar à extinção tantas espécies de seres vivos, como estamos fazendo na atualidade? São seres vivos que têm o direito de perpetuar suas espécies, de ter os seus hábitats minimamente preservados, são criaturas, como nós, que detêm um tesouro que vem evoluindo a quase quatro (4) bilhões de anos neste planeta, que é a vida. Por isso, respeitemos um pouco mais os animais e a natureza em geral, e lembremo-nos de que os seres vivos, incluindo os nossos primos macacos (muitos em risco de extinção), têm o mesmo direito que os seres humanos de viver neste planeta, e discutir o respeito ao meio ambiente é mais importante do que discutir se viemos ou não dos macacos.

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