Ana Beatriz: Sempre sorridente e feliz
Por Josanie Branco
Sorriso fácil, olhar sereno, pureza de criança e uma determinação digna de ser admirada. Assim pode se definir Ana Beatriz Silva, 12 anos, que encontrou na fé a força para viver e ser feliz.
Vítima de uma doença degenerativa rara – MPS 4ª (Mucopolissacaridose), uma enfermidade metabólica hereditárias, provocada por disfunções no metabolismo que causam o funcionamento inadequado de determinadas enzimas, responsáveis por importantes reações químicas do corpo humano e que afeita diretamente a área de crescimento dos ossos, Bia começou a ter grandes dificuldades para andar por volta dos oito anos de idade, meses depois passou a ser totalmente dependente de uma cadeira de rodas para se locomover, pois já não tinha mais força e controle dos seus movimentos. Naquele momento começava uma nova história na vida de Ana Beatriz, que no auge de sua infância experimentava a dura experiência de viver as limitações e dificuldades de um cadeirante. Os pais Moacir e Geovana lutam na Justiça para conseguir a medicação necessária para a estabilização do tratamento da filha, ela precisa ser submetida a reposição de enzimas, um custo avaliado em cerca de R$100 mil reais por semana, porém eles ainda não conseguiram resultados positivos.
Mas o que parecia ser o fim dos sonhos, na verdade se tornou algo surpreendente, Ana Beatriz, diferentemente do que muitos imaginavam, encontrou nas suas limitações físicas uma força inabalável para vencer e crer na vitória.
Nesse espírito inovador e cativante, próximo ao Dia das Crianças, em entrevista a este “O Extra.net, Ana Beatriz conta um pouso sobre sua vida, seus sonhos e projetos. Ela também faz uma explanação das dificuldades de acessibilidade vivenciadas por um cadeirante em Fernandópolis.
EXTRA: Como é a sua vida e rotina de atividades?
Ana Beatriz: Considero minha vida normal, como de qualquer outra criança, vou à escola, tenho amigos, gosto de assistir TV, mexer no celular e ler muitos livros, já até ganhei prêmios na escola como a aluna que mais leu livros. É claro que viver em uma cadeira de rodas faz com que eu tenha algumas limitações e não possa desenvolver todas as atividades como uma criança que anda. Mas vou me adequando e vivo a vida com tranquilidade da minha maneira, sem reclamações.
EXTRA: Do que você sente falta dos tempos que andava?
Ana Beatriz: Quando vejo crianças correndo sinto um momento de tristeza no coração. Eu gostava muito de correr, dançar e brincar e hoje isso não é mais possível. Fico me imaginando um dia voltar a exercer essas mesmas atividades, mas sou muito consciente da minha situação e logo fico de boa, não me abalo com essas coisas, sou feliz como sou.
EXTRA: Você mencionou sobre suas limitações, quais seriam suas maiores dificuldades?
Ana Beatriz: Aprendi a viver assim, não reclamo da vida, mas acredito que a sociedade poderia ter um olhar mais atento com as pessoas cadeirantes, eu, por exemplo, pouco saio, pois na maioria dos locais não existe acessibilidade. Às vezes vou com minha mãe ao centro da cidade, queria poder entrar nas lojas e demais estabelecimentos, mas quase nenhum deles tem rampas de acesso para cadeirantes, algumas calçadas que oferecem rampas são ruins, muito altas e não dá nem mesmo para controlar as cadeiras, é perigoso cair, então evitamos sair para não precisar passar por isso. Na escola onde eu estudo, José Belúcio, sou muito bem tratada por todos, mas para me receber algumas adaptações precisaram ser feitas, me sinto bem ali, mas tenho muita vontade de poder ir na sala de vídeo e na biblioteca pegar livros, mas não posso, porque fica no andar de cima, tem escadas e não consigo me locomover até lá, então sempre alguns amigos pegam vários livros para eu escolher o que me interessa. São coisas pequenas, ações simples, mas que para um cadeirante seriam transformadoras.
EXTRA: Você é muito sorridente. O que te faz sorrir tão facilmente?
Ana Beatriz: Como todas as pessoas, também me revolto, às vezes, tem horas que são ruins, mas logo volto a sorrir novamente, Deus cuida de mim,Ele me ampara, me protege, me sinto amada por Deus e pelas pessoas que estão ao me redor, essas já são grandes razões para eu sorrir.
Reclamar na vida não nos leva a lugar nenhum, creio que o Senhor tem um plano para a vida de cada um de nós e creio que Ele tem o melhor para mim.
EXTRA: Se Deus voltasse hoje e lhe concedesse o direito de fazer um pedido, o que você pediria?
Ana Beatriz: Eu pediria para que a minha tia conseguisse aprender a ler e escrever. Ela tem 18 anos, mas tem problemas de atraso mental e o maior sonho dela é um dia poder ler e escrever, pediria a Deus que concedesse essa benção para a vida dela, isso, com certeza, me deixaria muito feliz. Não me coloco em primeiro plano, estou bem do jeito que sou, mas também creio que se for a vontade de Deus um dia Ele poderá fazer eu andar. Não tem um tempo nem hora certa, se Ele quiser que eu ande, vai sem na hora determinada, e que seja feita a vontade do Senhor, não a minha.
EXTRA: Você já foi vítima de bullying?
Ana Beatriz: Meus pais sempre me ensinaram a não me importar com isso, tenho vários amigos e amigas na escola, não me vejo como coitadinha e não sinto nenhum tipo de preconceito por parte de nenhum deles, mas se um dia eu sofrer bullying vou ignorar, agir com maturidade e sorrir, essas são as lições que aprendo dentro com minha família, pessoas que só querem o meu bem.
EXTRA: Como é sua relação com sua família?
Ana Beatriz: Meus pais têm um cuidado incrível comigo, eles fazem tudo por mim, me protegem e cuidam com muito amor. Sou muito grata a Deus pela família maravilhosa que tenho. Gosto muito de beijar, abraçar e estar sempre junto com meus pais e meu irmão.
EXTRA:Quais seus objetivos de vida?
Ana Beatriz: Quero estudar, escolher uma faculdade, me formar e constituir família, como todas as pessoas. Creio que realizarei todos os projetos e planos que eu me propor a fazer de coração e com determinação.
EXTRA: Você é uma menina de muita fé. O que te motiva a ser assim?
Ana Beatriz: Não adiante ficar lamentando e encontrando problemas em tudo na vida, se Deus me escolheu para ser assim, tenho que aceitar e crer que desta forma posso fazer grandes coisas e ser verdadeiramente feliz e abençoada. Agradeço todos os dias pela minha vida.
EXTRA: Qual mensagem de otimismo você deixa aos nossos eleitores?
Ana Beatriz: Deus dá a cruz de acordo com o que a gente consegue carregar, tem gente em situações bem piores que a minha, vejo cenas muito comoventes todas as vezes que vou ao hospital em Ribeirão Preto, onde eu faço tratamento. Não devemos ficar reclamando, mas sim agradecer, é preciso ser grato por todas as coisas, pois a maneira com que a gente vê as coisas nos ensina, nos faz entender e compreender o mundo. A gente precisa aceitar que todo problema tem dois lados, um positivo e outro negativo, em todo problema há uma lição e não existe problema sem solução. Portanto, peço para que as pessoas não vejam a vida como um problema, mas sim como um presente de Deus que nos é dado todos os dias.
Ana Beatriz recebendo o carinho dos pais Moacir e Geovana
"Conhecer e poder entrevistar Ana Beatriz, sentindo sua energia positiva e poder ver seu sorriso sincero e a paz contagiante que emana em cada uma das suas palavras e ações, foi um grande presente de Deus” - Josanie Branco