Nas últimas semanas, passei meu período de férias entre o vai-e-vem e a estadia no hospital como segundo paciente, porque o acompanhante acaba quase sempre se tornando paciente. E, como repetem os visitantes, o paciente é nomeado dessa forma porque precisa ter paciência.
O antigo adágio popular que nomeia este artigo é uma afirmação verdadeira que, frequentemente, acompanha outra expressão que diz que só paramos de aprender quando morremos, porque, enquanto vivos, estamos sempre aprendendo, especialmente em situações desconfortáveis, devo adicionar, já que, como sugere o vocábulo, nos tira do conforto proporcionado pelos momentos bons vividos em nossa rotina, mostrando com certeza incisão que a vida é feita de momentos bons e ruins.
Em outro texto, já expressei a opinião de que podemos aprender em todas as situações da vida, mesmo nas horas de alegria, desde que sejamos observadores sagazes.
No entanto, em situações que nos afligem levamos as lições mais a sério e, por conseguinte, aprendemos mais que nas ocorrências normais do dia a dia, pois, como também discorri na ocasião, é comum no ser humano olhar para fora de si nos momentos bons e comtemplar mais seu interior em momentos ruins ou desconfortáveis.
Conforme relatei no início do texto, tenho frequentado o hospital, em razão de enfermidade de um familiar e, nesses dias, nas longas horas de espera, na condição de acompanhante, ou segundo paciente, tenho aprendido muito.
O primeiro aprendizado é aquele já mencionado: ser paciente. Os outros vieram com o bate-papo na sala de espera. Momentos aprazíveis nos quais, tanto acompanhantes quanto pacientes, ao menos aqueles que podem sair da cama e fazer um curto passeio, se esquecem do ambiente apreensivo e cautelar do hospital e vivem momentos descontraídos.
Aprendi, por exemplo, como e onde comprar portas de madeira, tipos e maneiras de colocação, até um pouco mais sobre geografia, quando um dos presentes me contou histórias sobre o litoral paulista.
Compreendi que não podemos esperar retribuições daquilo que oferecemos a outras pessoas. Se o fizemos por vontade própria e atitude espontânea não foi esperando um pagamento, ao menos conscientemente, já que doação não pressupõe pagamento.
O que fazemos em benefício de outras pessoas, ou grupos, certamente desencadeará em algum retorno positivo. E deve ser assim, senão jamais nos proporíamos a fazer o bem e não haveria qualquer motivação em fazê-lo.
Descobri também que todos passam por situações difíceis, muitos têm aflições semelhantes as nossas e alguns enfrentam circunstâncias ainda piores. Não que o sofrimento alheio em maior grau nos traga prazer, mas traz certo alento quando pensamos que, ainda, não estamos vivendo o mais difícil.
E mais, olhando para os lados é possível aprender que o ruim pode tornar-se pior. Portanto, apesar da adversidade, devemos agradecer por não estarmos nessa fase ou aproveitar quem sabe a chance que está nos sendo dada para que, com os aprendizados, possamos nos fortalecer a fim de sabermos lidar melhor com situações mais sofríveis que por ventura possam ocorrer futuramente em nossas vidas.
Reencontrei pessoas do passado que na rotina diária dificilmente me depararia ou reconheceria ao cruzar na rua. Ouvi histórias, contei as minhas. Conversei com amigos, um em especial que há muito não tinha a oportunidade de dialogar, em razão do famigerado ritual autoinfligido: os mesmos lugares, mesmos caminhos, mesmos horários e inércia excessiva.
Impraticável mencionar aqui todos os aprendizados e experiência adquiridos. A maioria derivada da reflexão motivada pela inquietação dos pensamentos e pelas vicissitudes emocionais, sobretudo pela observação do comportamento dos seres humanos, até do próprio observador, e, ainda, da análise do funcionamento da roda da vida.
A lição maior retomada pela circunstância foi sobre a lei de causa e efeito ou a lei do retorno, como preferir, didaticamente ilustrada com sintética profundidade por um amigo da seguinte forma: A vida é como um restaurante, ninguém sai sem pagar a conta.
Os aprendizados têm sido tantos que estou pensando em propor aos lexicólogos a mudança da definição do verbete hospital-escola.
Sérgio Piva
s.piva@hotmail.com