Todos nós já ouvimos esta frase: “Deus ajuda quem trabalha”, sua origem vem da frase em latim, “Industrian Adjuvat Deus”. Modernamente, de modo geral, estudamos para ter uma profissão desde a nossa infância até os vinte e poucos anos de idade, alguns até passam dos trinta anos ainda se atualizando com estudos acadêmicos, especializações, mestrados, cursos internacionais, etc. Tudo para atuar o resto da vida em uma mesma atividade. É obvio que existe boas chances de aprendizado mesmo quando estamos na idade média de quarenta ou cinquenta anos, mas não podemos negar que se fosse possível dividir a vida em duas etapas, dividiríamos em um período longo de aprendizagem seguido por um período monótono de trabalho. Isso faz sentido?
Embora existam muitas vertentes das mais diversas inspirações que nos levam a realizar coisas fantásticas em nossas vidas, a reengenharia das estruturas e dos processos fundamentais do corpo humano nos mostra que grande parte de nossa divina criatividade artística, de nosso engajamento político e de nossa fervorosa fé religiosa é alimentada pelo medo de morrer sem antes concretizar nossos sonhos. Mas somos nós mesmos que nos perpetuamos com uma sentença eterna de estudos e trabalho sem antes optar por uma vida feliz, apenas viver.
Já tive a oportunidade de trabalhar em industrias pequenas, aquelas parecidas com a estrutura de uma família, onde somente o pai de família é quem toma as decisões, mas também trabalhei por um período de tempo em uma multinacional, daquelas que todo tipo de decisão passa por vários níveis gerenciais escalonáveis até se obter um veredito, e disto tudo aprendi e posso falar com toda propriedade que independentemente do tamanho da empresa na qual você ou eu tenhamos trabalhado, a maior parte das industrias, corporações, multinacionacionais, e inúmeras organizações pouco se importam com a vida pessoal dos seus trabalhadores, ou como cordialmente os chamam “colaboradores”, pois todos seus esforços estão focados na busca pela oportunidade de fazer novas descobertas e assim obter maiores lucros e competitividade corporativa. O lucro acaba, é demissão na certa.
Penso que a incredulidade presente na sociedade contemporânea em relação à mínima possibilidade de existência de algum tipo de vida após a morte, incentiva o ser humano a procura pela felicidade terrena a qualquer custo, e até faz sentido, pois quem gostaria de viver para sempre em um tormento eterno? Mas quando pensamos no estilo de vida que todos estamos acostumados, quando pensamos na rotina e no manual do ser humano para se ter sucesso, ou seja, as oito ou doze horas trabalhadas diuturnamente, quando analisamos a continua concorrência acadêmica para se destacar profissionalmente, e ao preço que estamos dispostos a pagar para termos um estilo de vida melhor, automaticamente estamos cegos ou loucos para deixar de levantar a hipótese de que de algum modo, tudo isto, é de fato o tormento eterno que abraçamos com entusiasmo e orgulho.
Muitos Países avaliam o sucesso de suas economias pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e jamais pela felicidade de seus cidadãos, que foram os responsáveis por produzirem seus produtos. As nações industrialmente potentes e tecnologicamente avançadas estabeleceram sistemas complexos de educação, saúde e bem-estar social, com o único objetivo de fortalecer a nação, mas não estão preocupados em assegurar o bem-estar e saúde mental individual, um exemplo disto é o Japão, onde os níveis de estresse dos trabalhadores atingem altos índices.
Alguns pensadores e economistas privilegiados de maior arrumação da massa cinzenta encefálica, defendem atualmente substituir o PIB como índice de medição importante em uma Nação pela sigla GNH, Gross National Happines, algo parecido com Felicidade Nacional Bruta, índice este usado para mensurar a felicidade coletiva e o bem-estar de uma população. Eu pergunto a vocês, afinal o que as pessoas querem? Elas não querem produzir, elas querem ser felizes. Como Engenheiro de Produção sei que produzir é importante, porque qualquer sistema de produção industrial providencia a base material e sustentável para a felicidade, mas a produção isolada constitui apenas alguns tipos de meio, e não o fim. Se falarmos de PIB, podemos citar a Cingapura, onde qualquer cidadão produz em média R$ 250 mil por ano. Por outro lado, na Costa-Rica, País totalmente inferior economicamente comparado a Cingapura, um cidadão produz medianamente apenas R$ 70 mil por ano. Em inúmeras pesquisas de satisfação e índices de felicidade, os costa-riquenhos demonstram maiores níveis de satisfação com a vida que possuem comparados com a vida dos cingapurianos. É fato que a Cingapura deixou de ser uma ilha bem pobre para se tornar um dos Países mais ricos do mundo, mas isso valeu a pena para os seus habitantes? O que você prefere ser? Um singapurense altamente produtivo e triste ou um costa-riquenho menos produtivo mas sempre com um semblante feliz e satisfeito? A vida é escolha. Muito raramente estamos satisfeitos com aquilo que já temos. A reação primariamente comum da mente humana quando obtém uma conquista não é a satisfação e se dar por vencido, mas sim o anseio por mais, embora isso lhe custe a famosa felicidade. Frui Vita Tua, também do latim, “aproveite a sua vida” talvez faça mais sentido.
Pablo Dávalos
Engenheiro de Produção
MBA EXECUTIVO em Gestão Industrial pela FGV (em andamento)
Green Belt e Black Belt na metodologia Six Sigma
Gerente Administrativo e Consultor em PCP Planejamento e Controle de Produção