O 8 de março é o Dia Internacional da Mulher. Apesar do esforço dos movimentos de mulheres e de todo o movimento popular de marcar a data como dia de denúncias das injustiças que sofremos e das nossas bandeiras de luta, somos mais lembradas como aquelas que devem ser presenteadas, como se fôssemos, nós, as mercadorias.
A violência contra a mulher continua sendo um dos grandes destaques de nosso tempo. As novas leis que visam garantir a integridade da mulher não têm sido suficientes para superar uma cultura misógina, aquela que difunde o ódio à mulher. Em versos somos descritas como seres perfeitos, principalmente nossos corpos, mas no cotidiano sofremos a violência fruto do preconceito e da discriminação.
A maior expressão da violência da qual a mulher é vítima é o feminicídio. Ele parece ser autorizado por autoridades dos mais altos cargos. Até quando nasceu uma filha mulher, foi “porque deu uma fraquejada”, reforçando o seu entendimento da inferioridade feminina. É neste quadro social que números assustadores saltam aos nossos olhos: com bases em matérias jornalísticas, nos dois primeiros meses de 2021 foram registrados 46 feminicídios. Das vítimas 56,2% tinham entre 20 e 39 anos, 89,9% foram mortas pelo companheiro ou ex-companheiro.
No nosso meio prevalece o sentimento de propriedade do homem sobre a mulher. Esta é a razão das agressões às mulheres ocorrerem dentro de suas próprias casas. Dar queixa contra seus agressores, embora seja necessário e cada vez mais urgente, não é fácil para a mulher. Na própria delegacia da mulher, o ambiente pode ser todo masculino e o delegado ser um homem. Pesa contra a mulher toda uma moral social que a oprime, a faz sentir-se culpada, com vergonha de ficar “sem marido”. É comum também a dependência financeira do parceiro agressor. É neste contexto que se apresenta, ainda, a violência psicológica, muito corriqueira e sutil, mas tão opressiva quanto as outras. Ela se dá nos xingamentos, ofensas, no murro na mesa, no objeto arremessado contra a parede. A violência psicológica humilha, amedronta e enfraquece.
No momento da pandemia, é sobre nós que recaem as maiores cargas. O cuidado dos filhos, que não tem creches ou escolas, o cuidado dos idosos, dos doentes e, muitas vezes, dos próprios maridos que, deprimidos, com o quadro econômico e social, entregam-se à bebida e tornam-se ainda mais violentos.
Diversas igrejas cristãs têm levantado a voz para denunciar a situação vivida pela mulher em nossa sociedade. A Igreja Católica, na voz do Papa Francisco, na Encíclica Todos os Irmãos (Fratelli Tutti,23) escreveu que "De modo análogo, a organização das sociedades em todo o mundo ainda está longe de refletir com clareza que as mulheres têm exatamente a mesma dignidade e idênticos direitos que os homens. As palavras dizem uma coisa, mas as decisões e a realidade gritam outra. Com efeito, 'duplamente pobres são as mulheres que padecem situações de exclusão, maus-tratos e violência, porque frequentemente têm menores possibilidades de defender seus direitos”.
Somos mulheres e sabemos amar. Mas também sonhamos por uma sociedade justa e fraterna. É por ela que lutamos. Gostamos de receber flores, mas respeito vem em primeiro lugar.
¹ Elza Maria de Andrade – Pastoral da Cidadania da Diocese de Jales