A expectativa de vida dos brasileiros tem aumentado nas últimas décadas. Segundo o IBGE, os moradores do sul tem maior expectativa de vida em todo Brasil. Portanto, se quer viver mais, mude para Santa Catarina ou Rio Grande do Sul e, por via das dúvidas, comece a tomar chimarrão.
Uma coisa é certa, seja qual for o tempo que temos, vamos envelhecer. Como diz o músico e poeta Arnaldo Antunes em sua música “Envelhecer”: “A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer”.
Ainda assim, há uma resistência das pessoas em seguir o ritmo natural da vida. Querem segurar os ponteiros do relógio, como se ele fosse o grande culpado, acusação eternizada nos versos de Mário Quintana: “O mais feroz dos animais domésticos / é o relógio de parede: / conheço um que já devorou / três gerações da mina família.”.
Outro exemplo está na obra de Oscar Wilde, “O Retrato de Dorian Gray”, na qual o jovem Dorian, corrompido pela natureza destrutiva e hedonista do personagem Lord Henry, passa a ver o lado fútil da vida e tenta eternizar sua beleza juvenil.
Sem analisar pelo critério da idade, como posso saber se estou envelhecendo, ou se já envelheci? Sim, porque a idade cronológica é diferente da idade mental ou emocional. Tem gente velha aos vinte anos e jovem aos setenta. Quais, então, são os sinais que indicam o envelhecimento?
Sem mencionar o aspecto físico, que está sendo disfarçado atualmente pelas cirurgias plásticas, deixando a cara mais esticada que couro de gato em tamborim, pois se a beleza não é eterna, pelo menos o sorriso será, existem outros detalhes que entregam a idade, especialmente do homem, já que a mulher é mestre do disfarce.
Colocar aquele monte de papel no bolso da frente da camisa é um sinal claro da idade avançando ladeira acima, numericamente falando. Molho de chaves pendurado no passante da calça, balançando e tilintando pelo caminho afora, outro. Tem mais.
Chamar adolescentes de molecada, jovem de vinte anos ou mais de menino e menina, acordar cedo e varrer calçada, chegar antes do mercado abrir e ficar na fila do lado de fora, assistir ao programa de Inezita Barroso (quando ainda existia) ou do Rolando Boldrim,
Achar que todo som está alto demais, falar “no meu tempo”, “na minha época”, “não se faz mais (qualquer coisa) como antigamente”, ser expulso da sala pelos filhos que trouxeram os amigos para jogar video game, usar chinelo com meia, usar óculos bifocal ou dois óculos, chamar o aplicativo de “zap-zap”, não conseguir falar o nome do supermercado Sakashita, nem qualquer outro nome que tenha duas consoantes juntas.
Levantar da cama para ver se trancou a porta ou se não tem nenhum botão do acendedor do fogão ligado, não sair de casa sem blusa quando o destino for mais de vinte quilômetros, começar a troca os nomes dos filhos, principalmente se a família for numerosa. E tantas outras manias e hábitos. A lista é grande. Quem tiver sua própria lista, por favor, envie para meu e-mail, preciso desses dados para um checklist.
Se não existe, ainda, elixir da juventude, máquina do tempo e maneira de segurar os ponteiros do relógio, pelo menos disfarce e evite alguns desses hábitos e manias. Rejuvenescimento garantindo. Mais que creme da Avon.
Apesar de manias e aparências serem mais fáceis de mudar, a ranzinzice é mais difícil. Alterar o humor leva mais tempo do que idoso atravessando a rua na diagonal (ô mania).
O bom humor é o verdadeiro elixir da juventude. Condição apreciada por poucos depois de certa idade. Além de outros aspectos da personalidade, que com o passar do tempo ficam sedimentados no fundo alma das pessoas. Seja por quais motivos forem.
Como observou o filósofo romano Cícero, “Os homens são como os vinhos: a idade azeda os maus e apura os bons.” Sugiro, assim, que aprenda a conservar seu vinho de maneira sábia, em ambiente arejado e temperatura adequada.
Sérgio Piva
s.piva@hotmail.com