ARTIGO

Solidariedade de Cristo, Solidariedade da Igreja

Solidariedade de Cristo, Solidariedade da Igreja

Por Padre Junior Lucato, Chanceler da Diocese de Jales

Por Padre Junior Lucato, Chanceler da Diocese de Jales

Publicada há 3 anos

A solidariedade é um tema pertinente no âmbito de nossa fé cristã. De maneira equivocada é traduzida algumas vezes como uma ajuda pontual, principalmente em situações difíceis, quase sempre ligadas à vida financeira. Se assim unicamente o fosse, nossa solidariedade cristã não passaria de filantropia, que não é em tudo ruim, mas não possui uma característica particular: o Cristo. A nossa solidariedade sem o Cristo se esvai pelo compadecimento com as dificuldades ou sofrimentos do outro em um determinado momento de sua vida. Ficamos, portanto, restringidos a soluções momentâneas, a um alívio.

A Evangelii Gaudium nos diz que “a solidariedade, entendida no seu sentido mais profundo e desafiador, torna-se assim um estilo de construção da história, um âmbito vital onde os conflitos, as tensões e os opostos podem alcançar uma unidade multifacetada que gera nova vida. Não é apostar no sincretismo ou na absorção de um no outro, mas na resolução num plano superior que conserva em si as preciosas potencialidades das polaridades em contraste”.

Solidariedade é marca autentica do cristão, é o selo da autenticidade da fé. Incorre em contradição quem diz ser religioso, mas, incapaz de vivenciar a solidariedade. O cristão não pode agir como se não conhecesse a solidariedade ou como se tivesse medo dela. O Papa Pio XII em sua Encíclica Summi Pontificatus fala sobre o perigo do esquecimento da solidariedade. “O primeiro desses erros perniciosos, hoje largamente difundidos, é o esquecimento daquela lei de caridade e solidariedade humana, sugerida e imposta, quer pela identidade de origem, e pela igualdade da natureza racional em todos os homens, sem distinção de povos, quer pelo sacrifício da redenção oferecido por Jesus Cristo sobre a cruz ao Pai celeste em favor da humanidade pecadora”.

Jesus Cristo é a Solidariedade do Pai para com a humanidade submersa na condenação do pecado. O cristão que se abre à ação do Espírito Santo é inspirado a agir de forma sempre solidária, a partir de gestos corajosos para com o próximo. Não por acaso, o gesto é chamado de mandatum (mandamento) na antífona da missa de lava pés: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei, diz o Senhor”(Jo 13,34). De fato, o mandamento do amor fraternal e solidário compromete todos os discípulos de Jesus, sem qualquer exceção.

A Igreja cumpre o “mandatum“, em sua essência; seu sentido é o de colocarmos em prática o serviço humilde a todos os nossos irmãos, conforme o exemplo de Jesus a seus discípulos. A Solidariedade de Cristo nos convoca a transcender do ato físico de lavar os pés do outro para vivenciar o pleno sentido desse gesto: servir, com amor e solidariedade, ao próximo. Não se resume em doações financeiras, mas em um ato de disponibilidade a todas as necessidades do outro.

Desde o início da pandemia, a Igreja Católica e diversas instituições vêm realizando ações de solidariedade e união por todo país, com o intuito de auxiliar na superação de uma das maiores crises de saúde pública. “A solidariedade é um dos atos mais nobres, e precisa ser exercitado no diálogo entre essas Instituições para que a Proteção da Vida seja colocada à cima de qualquer interesse”. Vamos à solidariedade do diálogo em favor da vida?


Jales, 25 de março de 2021

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