A Páscoa chegou. Foi trazida pelo coelho, juntamente com seus milhares de ovos de chocolate. Faz um tempo que ele vem avisando pelos meios de comunicação que está a caminho. E sabemos que propaganda não custa barato, principalmente no horário nobre da televisão.
Como em quase todas as demais comemorações religiosas cristãs e datas importantes do calendário atual, somos bombardeados por ofertas de produtos que, supostamente, são necessários para que a ocasião seja marcada e tenha sua devida validade. Na páscoa, o símbolo maior, imposto pelo comércio, é o “ovo de páscoa”, o qual dever ser dado como presente.
Pesquisando no Google poderá se deparar com um texto que diz que “a Páscoa já era comemorada antes do surgimento do Cristianismo. Tratava-se da comemoração do povo judeu por terem sido libertados da escravidão no Egito, que durou aproximadamente 400 anos”.
Se, originalmente, a Páscoa tinha o sentido de libertação, hoje talvez seja completamente o oposto. A maioria de nós mortais comuns, sejamos cristãos ou não, estamos aprisionados ao condicionamento consumista do marketing dos grandes negócios lucrativos.
O ovo de chocolate, grande símbolo da páscoa, tomado emprestado de rituais pagãos, poderia ser substituído pelo cifrão, símbolo mais moderno em representação aos que pagam pela passagem da data ou, pelo menos, aos que ainda podem pagar. Que bem deveriam ser chamados de “pagãos”, porque pagam muito, e caro, atualmente, pelos ovos e demais simbolozinhos associados à comemoração Pascal.
Há anos nos obrigam a comprar ovos de chocolate, nos bombardeando com todo tipo de propagandas repletas de guloseimas achocolatadas, trazidas pelo senhor coelho, filho legítimo do empreendedorismo comercial, quando ele ainda nem tinha esse nome, e primo das fantásticas fábricas de chocolate, criando nas mentes das crianças e de adultos a esperança do açucarado presente.
Na via sacra percorrida por nós, durante esta semana, até o calvário das lojas de chocolates, com filas enormes, ou dos supermercados, onde os ovos são dependurados para que olhemos para o alto, em sinal de reverência ao ser supremo, percebemos que nem só de ovos vive a páscoa, mas também de brinquedos.
Olhando tantos brinquedos, obrigatoriamente anexados aos ovos de Páscoa, tive a impressão de que o coelho foi contratado pela Estrela, Gulliver, ou qualquer outra empresa filiada à Abrinq. Se, além disso, também não for sócio da Barbie. Porque mais cara do que a Barbie no ovo de páscoa, só a Barbie divorciada, que vem com a casa do Bob, o carro do Bob e a pensão do Bob.
São tantos anos de publicidade na minha cabeça, tanto marketing comercial se mostrando mais criativo a cada dia, que não sei quem é o verdadeiro Senhor da Páscoa: o coelho, o ovo, o brinquedo, o chocolate, o consumismo, a libertação ou a desesperança dos “sem Páscoa”, que não tem ovo, nem brinquedo e nem libertação da própria cruz.
Sérgio Piva
s.piva@hotmail.com
PS – Publiquei esse texto há alguns anos, muito antes da pandemia. Se as palavras eram pesadas como cruz, imagine agora quando o republico, infectados por um vírus que assola o mundo e por muitos outros que infectam corações e mentes em nosso país. Vai faltar cruz para ser carregada.