O conhecido Gênio do Mal, Roger Stone, certa vez disse que a desinformação é muito mais valiosa do que a informação e você certamente já se perguntou de onde surge tanta desinformação e tanta notícia falsa. O que alguém ganha divulgando que a rainha Elizabeth II é canibal ou que a Avril Lavigne está morta e foi substituída por uma sósia. Nunca saberemos o real motivo disso, se é apenas por likes e compartilhamentos ou se há algo por trás, mas certamente podemos deduzir que o brasileiro tem uma inclinação por acreditar (e divulgar/compartilhar) notícias absurdas. No entanto, nem toda informação falsa é absurda, assim como não são todas as notícias absurdas que são falsas.
É importante separarmos cada tipo de desinformação e analisar individualmente.
Acredito que podemos dividir a divulgação e criação de notícias falsas em duas espécies: a criada pela rede de desinformação bolsonarista e a que não faz parte (ou não está diretamente ligada a ela).
Comecemos com a segunda. Na desinformação que não é diretamente ligada ao bolsonarismo, podemos perceber três grandes grupos: a desinformação absurda, a desinformação criada a partir de um emissor com certo repertório intelectual e a desinformação criada a partir da utilização de uma figura com credibilidade.
A primeira é a desinformação tosca, vulgar, cretina. É aquela que está na cara que é falsa, mas mesmo assim “fisga” alguns peixes. É a informação de que cobras possuem pernas, que a terra é plana, que a rainha do Reino Unido, o presidente dos EUA, o Secretário Geral da ONU e mais algumas autoridades são reptilianas, que a Pepsi está utilizando células de fetos abortados como adoçante e por aí vai. Esta é claramente tosca, sem sentido e ridícula.
A segunda, por sua vez, já é muito mais elaborada e articulada. Trata-se de uma desinformação criada a partir de uma informação verdadeira e realizada por alguém que possui razoável repertório lexical e capacidade argumentativa. Exemplo: um certo escritor (que tem o mesmo sobrenome que eu), mas que vive nos EUA. Este tipo de desinformação é mais difícil de ser percebido como tal. Vamos ao exemplo prático: O Brasil possui um problema crônico de desigualdade econômica e social, mas isso se deve, primordialmente, pelo fato do comunismo internacional, patrocinado pela aliança Russo-Chinesa, que explora nações emergentes, como o Brasil, com o único propósito de criar um caos social e eclodir com uma revolução comunista e inaugurar a União das Repúblicas Socialistas da América Latina.
Percebeu? Utilizei de uma informação correta, de que o Brasil possui um grave problema de desigualdade e, a partir daí, com a utilização de expressões mais robustas, criei uma afirmação totalmente falsa e débil, mas com roupa de grife. Uma pessoa desinformada facilmente cairia nessa afirmação e faria sucesso no grupo do ZAP.
Não existe comunismo internacional, nem aliança Russo-Chinesa, muito menos um projeto de criação da URSAL (só na cabeça do Cabo Daciolo). Some essa fórmula com a presença de um emissor com razoável capacidade argumentativa e com certa aparência intelectual e está aí a fórmula do escritor de Virgínia que foi condenado a pagar indenização ao Caetano Veloso. E esta é o tipo de desinformação mais comum e que mais engana os desavisados.
A terceira forma é a criação da desinformação a partir da utilização da imagem de uma pessoa com credibilidade. Quantas vezes você não viu, ao navegar pelo facebook ou instagram, uma foto de algum intelectual famoso com uma frase ou um textinho do lado?
Essa terceira forma consiste em criar uma narrativa (mas não absurda), como por exemplo: Então sonhe quando o dia acabar. Sonhe, e eles possam se tornar realidade. As coisas nunca são tão ruins quanto parecem. Então sonhe, sonhe, sonhe.
E do lado dessa pequena frase, uma foto de Pedro Bial. Parece real, né? Pois é, mas a frase é a tradução da música Dream de Frank Sinatra. Não tem nada a ver com Pedro Bial, mas mesmo assim pareceu verdadeira. É a criação de informações falsas.
Esse exemplo é irrelevante e bobo, mas se é possível criar uma coisa simples assim, também é possível criar outras.
Como, por exemplo, aquela entrevista fictícia com um traficante do PCC que diz ler Dante Alighieri na prisão. Este texto volta, vez ou outra, a circular na internet como se verdade fosse. Mas, na verdade, trata-se de uma entrevista fictícia, feita por Arnaldo Jabor para o jornal O Globo e, em momento algum, consta o nome de Marcola no texto original, mas o nome do chefe do PCC foi adicionado nas publicações divulgando informações falsas, assim como os dizeres de que tal “entrevista” fosse real. O que se ganha modificando, sutilmente, mas com resultados absurdos, uma ficção e dizendo que se trata da realidade? Não sabemos. Likes e compartilhamentos ou algo a mais? Não sabemos. Há ainda verdade na era da desinformação? Não sabemos.
Continuação no próximo artigo.
Por João Eduardo Carvalho
João Eduardo de Lima Carvalho é advogado Especialista em Direito Eleitoral e Graduando em Ciência Política
e-mail: eduardocarvalho1293@gmail.com