ARTIGO

O ERRO BURLESCO DE SE VIVER

O ERRO BURLESCO DE SE VIVER

Por Pablo Dávalos

Por Pablo Dávalos

Publicada há 3 anos

Para mandar, você precisa saber fazer. Sabe aquelas rodas nas quais todos se juntam para falar bem ou mal do patrão ou chefe? Nessas oportunidades costumamos ouvir a frase: “ah ele só sabe mandar, mas não sabe fazer”. Você concorda com essa afirmação? Eu não. Penso que para mandar, você precisa saber “mandar” e quando digo mandar entre aspas, me refiro muito mais ao modo com que se pede algo, do que ao jeito imperativo com que tratamos os subordinados. O relacionamento interpessoal, a inteligência emocional e a capacidade racional para tomar decisões, compõem o conjunto harmônico para que exista a plenitude gerencial em qualquer ambiente, organização, ou grupo onde se exerça uma função de liderança. Mas acredite, somente por dar bom dia para alguém, nos dias de hoje, te considero alguém evoluído espiritualmente.

Acredito que o diálogo, o cuidado diário e o zelo que devemos ter com nossos colegas próximos, são qualidades que devem ser treinadas assim como oramos o Pai Nosso de cada dia. A intenção é que em nenhum momento o ego das pessoas sofra rusgas mediante uma ordem a ser executada. Para mandar você não precisa necessariamente saber fazer, mas precisa saber pedir.

Diante das inúmeras alterações mundiais, as quais a sociedade vem sendo submetida, as pessoas não exteriorizam mais preocupações com sentimentos que em poucas décadas passadas, eram levados a sério. Me refiro à atenção, carinho, carisma, empatia, respeito, moralidade, preocupação e senso de responsabilidade perante situações importantes da vida. Quando lemos jornais, percebemos números aumentando demonstrando óbitos, e de maneira derradeira nos acostumamos com essas notícias. Quando passamos em frente a um velório, ou testemunhamos um cortejo fúnebre, continuamos com a nossa vida normalmente sem pensar ao menos um minuto, o que aquela dor alheia simboliza e como está impactando sobre a vida de tantas pessoas.

De maneira extraordinária o ser humano tem evoluído nos últimos séculos, e sua evolução mais atual é a frieza em relação a sentimentos. Hoje é normal lidarmos com o luto, com a morte, com a imoralidade de maneira natural, como se tudo isto estivesse presente desde sempre, e não é assim. Quando estamos em uma conversa informal, ao dizermos que um político é corrupto, acabamos mencionando um pleonasmo para nosso interlocutor e está tudo bem, damos algumas risadas e o assunto morre ali. Não estamos preocupados em melhorar nada e nos acostumamos com a decadência de tudo.

Indubitavelmente acreditamos no futuro, e projetamos os jovens de hoje para assumir cargos de liderança amanhã. Mas de fato, as nossas crianças não estão sendo preparadas para serem os famosos Lideres do futuro. Estamos acostumando nossas crianças e a nossa geração, com a nossa antipatia pela dor alheia. Antes tínhamos orgulho de dizer que uma criança da família era inocente, mas hoje nos orgulhamos ao dizer que a mesma criança demonstra ser adulta e se comporta como adulto, sendo criança. Que absurdo e atrocidade estamos cometendo ao frustrar sonhos infantis, pela obsessão de obrigar anjos a agirem como nós. Tablets, smartphones e iphones para eles, iguais aos que nós utilizamos em nossos empregos. O ponto ao qual quero chegar é que não estamos progredindo para uma liderança futura com a geração que estamos criando, e a culpa é somente nossa. Somos os únicos culpados pelo modo grotesco como estamos levando a vida, com a calmaria perante a dor alheia e a euforia diante da tragedia cotidiana. Se na natureza, quem sobrevive não é necessariamente o mais forte, mas sim quem se adapta melhor ao meio ambiente, estamos aptos para sobreviver por milênios com a nossa frieza e falta de empatia pelo próximo. Nos últimos meses, perdemos muitos amigos, parentes, pessoas que nunca mais veremos. Mas está tudo tão normal, somos fortes e está tudo certo. Além disso, estamos moldando a geração futura à nossa maneira. Parabéns para nós. Fizemos um bom trabalho, mandamos e prejudicamos a vida futura, sem saber mandar mas sim sendo mestres em deteriorar.


Pablo Dávalos

Engenheiro de Produção

MBA executivo em Gestão Industrial pela FGV (em andamento)

Green Belt e Black Belt na metodologia Six Sigma

Gerente Administrativo e Consultor em PCP Planejamento e Controle de Produção

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