ARTIGO

Como você ama?

Como você ama?

Por Rodrigo Daum

Por Rodrigo Daum

Publicada há 3 anos

Cleópatra repreendeu Antônio só porque ela o desejava. Lady Di se apaixonou por um médico paquistanês só porque ele a tratou como uma pessoa “comum”. Julieta sacrificou sua vida em nome de um amor proibido. Elizabeth I morreu como a rainha virgem e perpétua de sua devoção a um reinado cuja ilegitimidade paternal lhe fora preterida a um herdeiro varão.

Amor – substantivo masculino, abstrato, simples e primitivo – Ah se fosse fácil conceituar esse sentimento como a gramática o faz! Substantivo esse que se fosse retirado do idioma, os poetas, os roteiristas, os autores, os dramaturgos, os estudiosos da mente e do comportamento poderiam e aposentar. Pois tanto nossa arte quanto o próprio objeto de estudo sofreriam uma drástica crise. Dentre os mais variados assuntos existentes, ele está lá. Numa conversa de botequim, numa leitura prazerosa, na letra de uma música que nos acompanha na estrada. Escondendo-se no peito ou saltando pelo brilho de um olhar. 

Esse sentimento é tão intenso que na literatura podemos ver infinitas possibilidades de combinação e não nos cansamos de vê-lo ressurgir a cada nova história. Ele pode ser a brasa viva nutrida por uma pessoa que quer manter acesa uma época de sua vida – a vitalidade, o frescor da juventude – como é o caso da personagem Branca da novela “Por amor”. Ele pode ainda ser a abnegação, a força, a sabedoria, racionalmente vivido pela personagem Francesca do filme “As pontes de Madison”. Pode ser inocente como o do personagem Joe Black – persona da morte – no filme “Encontro marcado”, enquanto descobre as sensações terrenas. Pode ser tórrido como o da personagem Anastasia da obra “Cinquenta tons de cinza”

Na série Reign – Reinado em português – há uma cena em que o Rei Francis, ao manipular uma estratégia para se proteger no campo da política, descobre um romance proibido entre um Padre e seu secretário. Durante a madrugada; o sacerdote preocupado com seu servo, leva um cobertor a ele, já que naquele país faz muito frio. O rei, na tentativa de convencer o eclesiástico a ser justo com seu país, aborda-o pela emoção e não pela chantagem, então constata - “Isso é amor, Padre! Quando a dor do outro nos dói mais do que a nossa.” Na contramão dessa fala; Osho, pensador indiano, diz – “Quando a alegria de outra pessoa for a sua alegria, você terá entendido o significado de amar.” A construção do pensamento é a mesma – o foco é o outro. Porém, cada qual, com suas experiências, tem uma visão diferente – para um prevalece o sofrimento; para o outro, a alegria. 

De qualquer forma, a observância desse sentimento ao longo dos séculos, das artes e das ciências é que cada história de amor é única; e é muito interessante olhar como elas acontecem. Não existe uma receita para o relacionamento perfeito, ele simplesmente brota. Martha Medeiros fala “a gente gosta de alguém não por causa de e sim apesar de”. Para ela, gostar das afinidades, das gentilezas é muito fácil, o que mantém a relação, entretanto, é saber lidar com o contrário, descobrir as falhas e as aceitar. E isso só a (con)vivência garante. A verdade é que não existe conto de fadas na vida real. O que existe é o meu amor, o seu amor, o amor do outro. Venha do jeito que vier. E quando ele chegar, é bom deixar a razão um pouco de lado e se entregar a esse sentimento que, por mais primitivo que seja, sempre se reinventa e acalenta pessoas em todas as épocas. 


Rodrigo Daum

Formado em Letras pela Fundação Educacional de Fernandópolis

Pós graduado em Docência para o Ensino Médio, Técnico e Superior

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