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Em meio à dor, filhos de Célia Mafra se unem pela ADVF

Em meio à dor, filhos de Célia Mafra se unem pela ADVF

Nathália, Gustavo e Ana Clara abriram mão de sonhos e projetos para trabalharem em prol da entidade fundada pelos pais

Nathália, Gustavo e Ana Clara abriram mão de sonhos e projetos para trabalharem em prol da entidade fundada pelos pais

Publicada há 8 anos


Nathália, Gustavo e Ana Clara



Por Josanie Branco


Você já imaginou a dor de perder quem você ama?! É como se levassem um pedaço de nós. Todos os dias milhões de pessoas se despedem de quem ama. Despedidas não são fáceis, elas doem sim!  Poucas coisas no mundo têm um impacto maior na vida do que perder os pais. Além da intensa dor, não é fácil enfrentar um futuro que provavelmente será bem diferente do que se esperava. 


Com o choque desta perca, a pessoa tem de lutar com uma série de emoções que nunca sentiu e cada um reage de forma diferente diante da morte “cada um” tem “as suas próprias aflições e dores”. Mas, bem sabemos, que o pesar não pode ser vencido da noite para o dia. Não é algo que você simplesmente decide que não vai mais sentir, são dias de luta, dor e lágrimas que precisam ser vividos e vencidos e assim tem sido os últimos dias na vida de Nathália Fernanda Fontes Lopes Mafra, 31 anos, Gustavo Fontes Mafra, 27 anos, e Ana Clara Fontes Mafra, 19 anos, que há menos de dois meses se despediram da mãe Célia Fontes Mafra, vítima de um ataque fulminante. 


Ainda bastante emocionados com os recentes acontecimentos e a saudade da mãe e companheira, os filhos de Célia tinham ela como maior exemplo de mulher e batalhadora, que há dois anos ocupava o papel de pai e mãe da casa, desde o falecimento do seu esposo Ademir Mafra. Célia também lutou incansavelmente por mais de 15 anos pela Associação dos Deficientes Visuais de Fernandópolis (ADVF), pela inclusão social dos deficientes e foi uma das mais atuantes conselheiras tutelar do município.    


Desde o dia 18 de setembro, os filhos de Célia viram suas vidas mudar completamente, mas buscaram, através da união, tomar a mais sábia decisão, ficando juntos, cuidando um do outro e lutarem pela ADVF, assim como seus pais faziam com tanto amor e dedicação. Nathália, a primogênita, formada em Direito e bancária, que morava há treze anos em São Paulo, deixou seus projetos profissionais e sonhos e voltou para Fernandópolis, assumindo as responsabilidades da casa e dividindo com a irmã Ana Clara, a caçula, os cuidados do Gustavo, que é deficiente visual e era o ‘xodó’ da mãe. “Meus irmãos são minha família, temos um ao outro e precisamos estar juntos para nos fortalecer e continuar essa caminhada. Eu também vim assumir o cargo de coordenadora de projetos, que era da minha mãe na ADVF, não posso deixar acabar a associação que foi fundada pelos meus pais, eu fui criada vendo eles  lutarem por essa causa e pelos deficientes. Pela memória deles e pelos nossos assistidos vou encabeçar essa ação e dar andamento a esse bonito projeto”, explanou Nathália. 


A jovem também fez questão de lembrar a determinação da sua mãe, que nunca desistiu dos seus sonhos, por mais difíceis que eles fossem. “Uma das características marcantes da minha mãe era a sua garra, ela não tinha medo de nada e de ninguém, fazia tudo o que podia pela Associação, já foi para Brasília e São Paulo em busca de recursos, tinha um bom relacionamento com a classe empresarial e política, embora nunca tivesse o interesse de se candidatar para nenhum cargo político, tudo o que ela fazia era por amor. A princípio, ela lutava pelo meu irmão, depois foi vendo a necessidade e dificuldades de todos os deficientes e abraçou essa causa por todos. Tenho muito orgulho em falar dela e lembrar quantas coisas boas ela já conquistou na cidade em prol aos deficientes”, lembrou Nathália. 


Além de boa mãe, Célia sempre se preocupou em ser amiga e companheira dos filhos, apoiando-os em suas decisões e os incentivando a ser o melhor em suas escolhas. Com Gustavo, o cuidado era dobrado e mesmo em suas limitações, decorrentes da deficiência visual, ela fazia questão que o filho tivesse uma vida normal, desta forma o incentivou à prática de atividades esportivas - onde ele conquistou importantes medalhas no judô- e  nas aulas de violão - fazendo diversas apresentações musicais em festas e eventos. Gustavo também está na reta final da faculdade, concluindo o curso de História, através de uma parceria da FEF com a ADVF, um grande desejo da sua mãe, que não estará presente para vê-lo se formando, mas Gustavo garante que essa conquista será uma homenagem à sua genitora. “Minha mãe foi o melhor ser humano que eu já conheci, era muito carinhosa comigo e sempre fazia eu perceber meus valores e minha capacidade. Sinto ainda mais falta dela na hora de dormir, de dar aquele beijo gostoso, pedir sua benção e falar eu te amo . Queria muito que ela e meu pai estivessem presentes na minha formatura, mas como sei que isso não é possível, levarei eles a todo instante nos meus pensamentos.  Agora estou ao lado das minhas irmãs, também quero cuidar delas e  juntos lutaremos para que todos os deficientes assistidos pela ADVF tenham uma vida melhor, sejam reconhecidos e respeitados”, relatou Gustavo. 


Ana Clara, a mais parecida com a mãe, vaidosa e sonhadora também trabalha na ADVF. Há dois anos ela é agente social da entidade, já conhece bem todas as atividades, trabalhos e projetos ali desenvolvidos e juntamente com os irmãos manterá o desejo dos seus pais de ver a associação crescer a cada dia. “Estamos nos reiterando, muitas coisas só a minha mãe sabia e agora temos que tomar conhecimento da dimensão desse trabalho. Todos os deficientes estão sendo atendidos normalmente e tendo o carinho especial da equipe de voluntários e profissionais”, comenta.  A jovem também se emociona ao falar da mãe e da saudade que sente. “O momento mais difícil é quando eu chego da faculdade, estou fazendo odontologia e minha mãe tinha muito orgulho disso. Sempre que eu voltava ela me esperava com muito amor, a gente deitava juntas e conversávamos sobre muitas coisas, ela era minha fortaleza, minha diva, meu espelho, só eu sei a falta que ela me faz”, se emociona Ana Clara. 


Embora tenham suas diferenças, Nathália, Gustavo e Ana Clara, hoje têm os mesmos ideais, de cuidar um do outro e manter a ADVF de pé, mesmo com as dificuldades financeiras que as entidades estão enfrentando. Para eles, o melhor lugar para se estar é em casa, no aconchego do lar que foi construído pelo pai e tão bem cuidado pela mãe. Em relação à saudade e a dor, eles definem a distância como uma longa viagem, onde um dia todos estarão juntos e felizes novamente. “Não temos mais nossos pais de corpo, na presença física, mas eles nos deixaram um legado de coisas boas, nos ensinaram muito, éramos uma família muito unida, aproveitamos ao máximo cada momento, respeitávamos nossos pais como nossos maiores exemplos de vida e juntos passamos nossos melhores e inesquecíveis momentos. Espero e desejo que todos os filhos demonstrem ao máximo o amor pelos seus pais, mesmo que haja diferenças de pensamentos. Ter um pai e uma mãe do nosso lado é sem dúvida a melhor coisa que há nessa vida. Hoje eu e meus irmãos não os temos mais, mas levamos conosco tudo o que de melhor vivemos com eles, nossos grandes heróis e crendo que um dia teremos um lindo reencontro”, finalizou Nathália.



Ana Clara , Gustavo e Nathália durante entrevista à jornalista Jô Branco



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