ARTIGO

O PAPEL DO PSICÓLOGO DIANTE DA IMINÊNCIA DA MORTE

O PAPEL DO PSICÓLOGO DIANTE DA IMINÊNCIA DA MORTE

Por André Marcelo Lima Pereira, psicólogo

Por André Marcelo Lima Pereira, psicólogo

Publicada há 3 anos

Morte e processo de morrer fazem parte da vida, mas são eventos geradores de angústia, medo e ansiedade. As pessoas, em relação à morte, se deixam influenciar por crenças pessoais, culturais, sociais e filosóficas que modelam “seus comportamentos conscientes ou não” (LIMA et al., 2017, p. 1). Mediante a “iminência da morte, os seres humanos tendem a apresentar vários mecanismos de defesa”, ações e reações, na tentativa de solucionar o conflito, ou seja, a doença e a morte iminente (MAIA; CASTRO, 2015, p. 33)

No campo da saúde, assistiu-se a avanços científicos e tecnológicos formidáveis cujo significado aponta para um expressivo aumento da expectativa de vida e do viver bem, de modo saudável. Tais avanços atingem inovações no tratamento médico e oportunizam um prolongamento da vida. Outrossim, se se prolonga a vida por mecanismos e intervenções médicas, há necessidade de cuidados que minimizem o sofrimento e a angústia, valorizem a qualidade de vida e o bem-estar físico e espiritual do paciente, no sentido da assistência integral de saúde, preservação de sua autonomia e identidade, enfrentamento positivo desta fase final da existência e a compreensão e aceitação do processo de morrer (BRITO et al., 2014).

No cuidado em saúde, os profissionais médicos, enfermeiros, psicólogos e demais agentes se defrontam com o sofrimento físico, emocional, social e espiritual das pessoas, que necessitam do tratamento efetivo e cura de suas doenças. Todavia, diante de determinadas doenças incuráveis, sinalizando para a morte iminente, tais percepções se tornam ineficazes, e o paciente necessita de cuidados adicionais. Estágios avançados de certas enfermidades, como o câncer terminal, traz à tona situações temidas, “atreladas ao sofrimento físico e moral, à dor, à mutilação, e à morte. Comumente, o sofrimento se estende por toda a família e amigos, gerando medo e insegurança” (LIMA et al., 2017, p. 2). Não se trata, apenas, de aliviar sintomas, prescrever medicamentos, mas dar conforto espiritual por meio de abordagens e compreensão dos sintomas emocionais, sociais e espirituais.

Nesse caso, é essencial uma primorosa comunicação para se estabelecerem as relações interpessoais entre profissional e paciente, de modo a privilegiar a exteriorização da pessoa humana, seus sentimentos e apreensões quanto ao processo de morte, suas esperanças e desesperanças – o que bem caracteriza o papel a ser exercido pelo psicólogo. Trata-se de uma interação forte, um compartilhamento de mensagens, ideias, sentimentos, emoções, medos e dores, crenças, valores, história de vida. O objetivo final é o conforto do paciente, física e espiritualmente, por meio de suas manifestações verbais ou gestuais com o pronto auxílio do profissional de psicologia (BRITO et al., 2014).

Medeiros e Lustosa (2011) destacam que a família merece um cuidado especial desde o momento da comunicação do diagnóstico, que impacta fortemente os familiares, “que veem seu mundo desabar após a descoberta de que uma doença potencialmente fatal atingiu um dos seus membros”. Esse impacto atinge diretamente a esfera psicológica, e as exigências psicológicas de paciente e familiares excedem o que é, normalmente, suportável, podendo tornar-se, devido à intensidade das “reações emocionais, um dos aspectos de mais difícil manejo” (MEDEIROS; LUSTOSA, 2011, p. 207).

O foco do papel a ser desempenhado pelo psicólogo hospitalar é o aspecto psicológico em torno do adoecimento e do processo de morrer. A “psicologia hospitalar define como objeto de trabalho não só a dor do paciente, mas também a angústia declarada da família, a angústia disfarçada da equipe e a angústia geralmente negada dos médicos” (MEDEIROS; LUSTOSA, 2011, p. 212), que se acentua nesse momento marcado pela fase final da vida, o morrer. É, pois, exercício do psicólogo contribuir para a reorganização egoica diante do sofrimento; trabalhar medos, fantasias, angústias e ansiedades; auxiliar no enfrentamento da dor, sofrimento e medo da morte; e trabalhar focos de ansiedade, dentre outros papéis (PFEIFER PM, PALMA, 2009).

Portanto, o psicólogo configura-se como importante agente no acolhimento de paciente e familiares diante da iminência de morte. Parte-se de um cenário em que a morte, configurada como processo terminal da vida, deve ser assumida com uma postura positiva pelos familiares e manejo humanizado do processo – o que ressalta, sobremaneira, a importância da atuação do psicólogo nesses momentos, como membro da equipe interdisciplinar. 

REFERÊNCIAS 

BRITO, F. M.; COSTA, I. C. P.; COSTA, S. F. G.; ANDRADE, C. G.; SANTOS, K. F. O.; FRANCISCO, D. P. Comunicação na iminência da morte: percepções e estratégia adotada para humanizar o cuidar em enfermagem. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, v. 18, n. 2, p. 317-322, abr./jun. 2014. 

LIMA, R.; BORSATTO, A. Z.; VAZ, D. C.; PIRES. A. C.F.; CYPRIANO, V. P.; FERREIRA, M. A. A morte e o processo de morrer: ainda é preciso conversar sobre isso. REME Rev Min Enferm., v. 21, p. e-1040, 2017. 

MAIA, F. E. S.; CASTRO, C. H. A. Mecanismos de defesa frente

à iminência da morte: um olhar do fisioterapeuta. Revista Científica da Escola da Saúde, Universidade Potiguar (UNP), ano 4, n. 1, p. 33-45, out. 2014/ jan. 2015. 

MEDEIROS, L. A.; LUSOTSA, M. A. A difícil tarefa de falar sobre morte no hospital. Rev. SBPH, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 203-227, jul./dez. 2011. 

PFEIFER, P. M.; PALMA, C. M. S. A iminência de morte em questão para o trabalho do psicólogo. Medicina, Ribeirão Preto, v. 42.n. 4, p. 451-460, 2009.

 

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