Pensem nas crianças mudas, telepáticas. Pensem nas meninas, cegas, inexatas. Pensem nas mulheres, rotas, alteradas. Pensem nas feridas como rosas cálidas. Mas oh! Não se esqueçam da rosa, da rosa. Da rosa de Hiroshima, a rosa hereditária. A rosa radioativa, estúpida e inválida. A rosa com cirrose, a antirrosa atômica. Sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada” (Poema “A Rosa de Hiroshima”, composto em 1954 pelo grande poeta, dramaturgo, cantor, jornalista e diplomata brasileiro Vinícius de Moraes). Este poema também foi magistralmente interpretado pelo cantor Ney Matogrosso na canção de mesmo nome, que retratou os horrores da detonação da bomba atômica no Japão durante a Segunda Guerra Mundial e analisou os limites da razão humana no uso da Ciência e da Tecnologia.
Vamos explicar o contexto resumido deste que foi um dos maiores atentados da história. A Segunda Guerra Mundial iniciou-se em 1939 e dividiu o mundo em dois grupos – de um lado os Aliados (que foram os vencedores da guerra), formados pelos Estados Unidos, a então União Soviética e a Inglaterra, de outro lado o Eixo, que reunia a Alemanha, Itália e Japão. Em agosto de 1945 a guerra havia terminado na Europa com as mortes de Adolf Hitler (ditador da Alemanha) e Benito Mussolini (ditador da Itália), mas o Japão ainda não tinha se rendido, e as batalhas prosseguiram no Pacífico e na Ásia, entre japoneses e americanos. Com a versão oficial de forçar os japoneses a se render (há quem diga que também para mostrar poderio militar a União Soviética, que aquela altura já tinha iniciado uma rivalidade com os americanos pelo espólio da guerra), os Estados Unidos detonaram duas bombas atômicas sobre o Japão.
No dia 06 de agosto de 1945, às 8h15, horário local, sob o comando do coronel americano Paul Tibbetts que, pilotando o avião bombardeiro B – 29, lançou a bomba atômica apelidada de Little Boy (em tradução livre significa “menininho”)sobre a cidade japonesa de Hiroshima. Ela explodiu cerca de 500 metros do chão, matando inacreditáveis 140 mil pessoas. Calcula-se que no ponto abaixo da explosão da bomba, lançada sobre Hiroshima, a temperatura atingiu cerca de 3.000 a 4.000 graus centígrados. É mais que o dobro da temperatura necessária para fundir o ferro.Como o Japão não se rendeu, três dias após, os americanos lançaram sobre outra cidade – Nagasaki - uma bomba ainda mais poderosa, chamada de Fat Boy (em tradução livre significa “menino gordo”), ocasionando a morte de 70 mil pessoas. Em menos de uma semana, diante do horror causado pela detonação de duas bombas atômicas, o Japão se rendeu, incondicionalmente - a Segunda Guerra Mundial chegava ao fim.
Prezado leitor! Não cabem nestas poucas linhas elencar as consequências horrorosas sofridas pelas vítimas da detonação das bombas no Japão - precisaríamos de um livro com centenas de páginas para detalhá-las - mas para o leitor ter uma vaga ideia do inferno na Terra ocasionado pelas bombas atômicas, segue o relato de um hibakusha (nome dado aos sobreviventes das explosões das bombas de Hiroshima e Nagasaki) - o senhor Takashi Morita, que hoje está com 91 anos e é morador da cidade de São Paulo – SP, e que sobreviveu à bomba lançada sobre a cidade de Hiroshima.Ele assim declarou à imprensa brasileira: “Lembro-me como se fosse hoje. Eu estava caminhando nas ruas da cidade quando a bomba caiu. Primeiro foi um clarão, depois uma escuridão. Então começou uma chuva negra, e as pessoas que estavam queimadas abriam a boca para tomar aquela água contaminada por radiação, pois achavam que aquilo iria acabar com a sensação de sede que sentiam. Eu via pessoas queimadas, dilaceradas, andando com as tripas arrastando pelo chão, a pele pendurada, pedindo água e implorando por socorro.Ao meu redor, várias pessoas, inclusive crianças, gritavam por socorro. Eu só conseguia pensar: a maioria morreu. O terror era absoluto. Ninguém tinha ideia do que estava acontecendo.” diz Morita, relembrando o inferno que viveu.
Ao analisar este episódio terrível, é interessante notar que a mesma inteligência humana que foi capaz de criar vacinas, medicamentos, aumentar consideravelmente a expectativa de vida da humanidade,inventar o avião, levar o homem à lua, descobrir a cura de inúmeras doenças, aliviar o sofrimento humano, também foi utilizada para desenvolver um dos artefatos mais mortíferos já inventados - a bomba atômica. E pior! O homem foi capaz de lançá-la sobre o próprio homem, por duas vezes, em duas cidades japonesas, matando mais de 200 mil civis inocentes e deixando sequelas permanentes em milhares de sobreviventes. Problemas genéticos, causados pela radiação eliminada pela explosão das bombas, são verificados até hoje em descendentes das pessoas que sobreviveram a esta hecatombe. Calcula-seque mais de 70 mil pessoas já foram mortas desde então, em consequência da exposição à radiação.
Portanto, como retratado no poema de Vinícius de Moraes, o homem ultrapassou os limites da razão e do uso da Ciência e Tecnologia ao criar armas de destruição em massa capazes de levar à humanidade à própria destruição. Caro leitor!
Desculpe-me a ironia na comparação, mas seria como se os dinossauros tivessem fabricado ogrande meteoro que caiu no planeta e os levou à extinção.
O homem é inteligente! Disso não restam dúvidas, mas quando quer, consegue ser estúpido, além de extremamente cruel. Por isso, saibamos utilizar nossa inteligência para o bem da humanidade, para união dos povos e nações, na construção da paz mundial e na prevenção dos conflitos, como preconiza o objetivo prioritário da Carta da ONU(Organização das Nações Unidas) – uma instituição internacional criada, não por acaso, após o término da Segunda Guerra Mundial para fomentar a paz entre os Estados soberanos.