EDUCAÇÃO

Aumenta número de mulheres em cursos com predominância masculina nas Etecs e Fatecs

Aumenta número de mulheres em cursos com predominância masculina nas Etecs e Fatecs

Formações técnicas em mecânica e tecnologia tiveram crescimento da participação feminina

Formações técnicas em mecânica e tecnologia tiveram crescimento da participação feminina

Publicada há 1 ano

Alunas do curso de Edificações, da Etec Itaquera II, analisam materiais de construção durante atividade em aula prática - Foto: Roberto Sungi

Da Redação

Apesar de maioria na população brasileira – 51,1%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – mulheres vivem em constante luta por equidade de gênero e conquista de espaço na sociedade. Nas Escolas Técnicas (Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs) estaduais, o ingresso de alunas em alguns cursos que já foram conhecidos como mais "masculinos" aumentou no período de 2012 a 2022.

O levantamento aponta crescimento do número de mulheres em cursos de áreas ligadas ao agro, a estudos em mecânica, à tecnologia e informação e também à construção civil e produção industrial.

Confira os maiores índices de crescimento de público feminino no Ensino Técnico e Superior Tecnológico do CPS:

Etecs

  • Programação de Jogos Digitais: +26%
  • Agropecuária: +18%
  • Produção de áudio e vídeo: +14%
  • Agrimensura: +13%
  • Edificações: +12%


Fatecs

  • Construção de Edifícios: +12%
  • Biocombustíveis: +7%
  • Mecatrônica Industrial: +5%
  • Análise e Desenvolvimento de Sistemas: +4%
  • Automação Industrial: +4%


Fora da curva

Incentivar que as mulheres ocupem o espaço que elas desejarem é fundamental. Um bom exemplo desse trabalho está na Etec Monsenhor Antônio Magliano, de Garça. Lá, o curso técnico de Eletrônica tinha, em 2012, uma média de 7 alunas por turma. Dez anos depois, a média passou para 18 estudantes, um aumento de 36%. No mesmo período, Etecs e Fatecs juntas que oferecem a formação tiveram aumento total de 6% no número de matrículas das jovens.

Coordenando a modalidade desde 2016, Bruno Miguel Santos Camilo explica que parcerias entre a unidade e empresas privadas contribuíram na missão de atrair mulheres para o setor. Segundo ele, os empregadores buscavam por essa de obra qualificada por entender que elas, além de serem igualmente capazes, ainda demonstravam mais habilidades com componentes pequenos e delicados. "Para lidar com eletrônicos, além do conhecimento técnico, é preciso ser detalhista, ter jeito, paciência e muito cuidado com o manuseio das peças, e elas desenvolvem muito bem essas competências."

Alexandra da Silva está no terceiro módulo do técnico de Eletrônica. Ela trabalha em empresas do setor de eletrônicos há mais de 20 anos e uma oportunidade de promoção no trabalho foi a motivação para que ela buscasse o curso. "Recebi uma proposta para qual havia necessidade de um conhecimento mais técnico e fazer o curso tem sido um divisor de águas na minha vida, tem acrescentado muito ao meu crescimento profissional."

A sala de aula de Alexandra é homogênea, mas ela sabe que é uma área que normalmente é escolhida por homens. A estudante conta que está feliz em fazer parte desse cenário. "Nós mulheres temos todo o direito de escolher por qualquer curso e buscar aprimoramento profissional, além de ser importante mostrar que somos tão capazes de exercer qualquer função, tanto quanto os homens."

Diversidade

À frente da direção da Etec Itaquera II, na zona leste da Capital, desde 2012, Tarsila Oliveira Santiago acompanha de perto a evolução da ocupação de espaço pelas mulheres. Ela cita que alguns fatores influenciam a busca das alunas por novas áreas de trabalho. "Além de uma evolução no próprio comportamento das meninas, que não têm medo de romper barreiras, aqui na escola elas encontram muito acolhimento, representatividade e diversidade."

A unidade liderada por Tarsila oferece o curso técnico de Edificações. Lá, o curso que em 2012 tinha 33% de alunas, chegou a 2022 com 45%. A Etec conta com um quadro de gestão, de docentes e de funcionários administrativos bastante feminino, o que, para a diretora, também contribui para o resultado. "Quando as estudantes chegam em uma escola com boa representatividade feminina, elas se sentem mais acolhidas e ganham força para ir em busca do que bem entendem, a evolução é maior."

Tarsila destaca ainda que o aumento do número de alunas nos cursos faz toda diferença para o aprendizado dos rapazes, que acabam educados a conviver com a diversidade, o que influência no comportamento deles como futuros profissionais. "No mercado de trabalho eles vão olhar para essas mulheres como colegas de trabalho e valoriza-las como profissionais, já que vivenciaram o mesmo aprendizado e foram educados para lidar com a diversidade, a inclusão e as diferenças, com respeito."

Valorização do mercado

Na Capital, o curso superior tecnológico em Construção de Edifícios, da Fatec Tatuapé, teve aumento de 12% no número de alunas. Melina Kayoko Itokazu Hara, diretora da unidade desde 2011, viu de perto esse movimento. Ela explica que existe um trabalho de incentivo e divulgação dos cursos para atrair o público e torná-los mais diversos.

Melina destaca que os movimentos de inclusão de mulheres e os incentivos profissionais conquistados no decorrer dos últimos anos foram fundamentais para fomentar o crescimento na procura por qualificação. "Percebo que as estudantes se preocupam muito com a carreira, em ter conquistas profissionais, e foram se dando conta de que há inúmeras oportunidades em áreas pouco exploradas por elas."

Na Fatec Tatuapé, os cursos de Controle de Obras e Transporte Terrestre também avançaram rumo à equidade de gênero. São 11% e 8% mais alunas, em cada um deles, respectivamente. "Vejo esse avanço também como uma questão de quebra de preconceitos e desmistificação da ideia de que os cursos têm direcionamento por gênero."

Desconsiderando o tipo de curso, a ocupação de vagas no Centro Paula Souza como um todo é bastante equilibrada entre os sexos. O percentual total de matrículas nas Etecs e nas Fatecs estaduais ficou em 51% para elas e 49% para eles, em 2022. Há dez anos, o mesmo índice era de 46% e 54%, respectivamente.

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