O CIRCO DA VIDA

Família cai na estrada guiada pelo destino da arte circense

Família cai na estrada guiada pelo destino da arte circense

Publicada há 7 anos


Por Lívia Caldeira 


Trabalhar oito horas por dia, bater cartão, ter um chefe, receber um salário fixo... Essa era a vida do auditor de qualidade Tato Sanchez e da agente administrativo Janaína Amaral. Mas há oito anos, eles decidiram abandonar tudo e formar uma família nada convencional, unida pelo amor e pelo humor. Hoje, Tato é palhaço e malabarista, Janaína é produtora de Circo e o filho Bernardo, de apenas 7 anos, acrobata e “palhacinho”.  A família viaja pelo Brasil espalhando alegria por onde passa e compartilhando a arte da palhaçaria. Para eles, a vida é um circo, pegar a estrada e fazer rir faz parte da rotina. Eles abandonaram o conforto de casa, para correr atrás dos sonhos.  Respeitável público, com vocês um pouco mais sobre a vida itinerante dessa família circense:


O EXTRA: Como vocês se conheceram e como nasceu a paixão pelo Circo?

 TATO: Eu e a Janaína nos conhecemos na escola, no último ano do colegial. Eu tinha o meu trabalho e ela tinha o dela. Meu pai é ator de teatro e através dele eu tive contato com alguns artistas de rua que me incentivaram a dar início à carreira. Eu logo me encantei com essa arte, o contato com o público, a troca de energia que existe, foi tudo muito impactante pra mim, é fantástico. Depois passei a me interessar também pela arte do palhaço, aliás, desde criança eu sempre fiquei instigado com a figura do palhaço. A Janaína sempre me apoiou e me incentivou, além de também se apaixonar pelo mundo do circo e se tornar minha produtora.


 O EXTRA: Quando vocês decidiram abandonar seus empregos para se dedicar exclusivamente à vida circense? 

JANAÍNA: Eu trabalhava em uma universidade no interior de Minas Gerais, onde nós morávamos, e comecei, paralelamente, a ser produtora do meu marido. Quando eu percebi que trabalhar como produtora, que é a minha paixão, me rendia financeiramente mais que meu trabalho fixo, não tive dúvidas, abandonei tudo para seguir em frente com o nosso sonho e passei a viver só do circo. Há 3 anos, logo depois do 1º EURISO, conseguimos montar a nossa própria companhia. 



O EXTRA: Como é o dia a dia da família? 

TATO: Nossa vida é maravilhosa. Criam-se muitos laços entre os artistas de circo, somos como uma grande família. Viajamos com apenas uma mala de roupa, passando por várias cidades, onde paramos para nos apresentar. Não temos uma casa fixa como a maioria das pessoas e nem horários fixos de trabalho, acho que a nossa rotina é não ter rotina. Comemos onde dá pra comer, dormimos onde nos oferecem... 


O EXTRA: De onde vem o “salário” de vocês? 

TATO: Nós não cobramos cachês por nossas apresentações, trabalhamos com a chamada “cultura do chapéu”. Não ter nenhum intermediário é fundamental para a relação público/artista, além de fazer com que a arte se torne acessível a todos, favorecendo assim a democratização da cultura. O público também acha ótimo poder contribuir com o que pode. Eu diria que se trata de um processo de fé: fé no nosso trabalho e no público. Nós doamos o nosso melhor, e as pessoas retribuem com sorrisos e aplausos. O valor disso é inestimável. 


O EXTRA: Vocês se arrependem de ter trocado o conforto de casa pela vida incerta na estrada? 

JANAÍNA: De maneira alguma. Com o nosso trabalho, tivemos a oportunidade de conhecer mais de 40 cidades, pelas quais nos apresentamos. Viver de circo é exatamente isso: conhecer lugares novos, pessoas, contato humano, compartilhar experiências, aprender coisas novas. 



O EXTRA: O público é sempre igual? 

TATO: Não, cada público é único, muda muito de cidade para cidade. O que emociona e faz rir em uma cidade, já não funciona em outra, e é justamente por isso que nós artistas de circo precisamos ser dinâmicos. Antes da apresentação, eu gosto de conversar com as pessoas, saber da história da população daquela cidade, dialogar com o público. Tudo isso ajuda na hora do espetáculo. 


O EXTRA: Vocês se apresentaram novamente em Fernandópolis durante o “4º EURISO”. Gostaram de retornar à cidade? 

JANAÍNA: Nós amamos essa cidade. É o quarto ano que nos apresentamos aqui, fomos muito bem recebidos pelos fernandopolenses, nos sentimos acolhidos e em casa. Todos os artistas do EURISO, inclusive, tiveram a mesma impressão. Foi emocionante ver a reação positiva das pessoas ao término de cada apresentação. 


O EXTRA: Vocês trocariam a vida de circo por um emprego estável? 

TATO: Não. Na verdade, é muito difícil pensar nisso, nós simplesmente vamos levando a vida. Eu acho que não é possível trocar de vida, mas simplesmente mudar o jogo. É tudo muito ilusório. Não existe vida melhor ou pior, emprego melhor ou pior, é que eu me adaptei melhor a essa vida, encontrei o meu papel social e me sinto feliz e realizado fazendo o que faço. 

JANAÍNA: Também não trocaria a vida que levo hoje. Eu não me colocaria à disposição dos sonhos de outra pessoa, escolhi correr atrás dos meus próprios sonhos.






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