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Manejo Integrado de Pragas na soja reduz em até 50% o uso de defensivos
Manejo Integrado de Pragas na soja reduz em até 50% o uso de defensivos
Técnica que indica a real necessidade de intervenção é benéfica para o meio ambiente
Técnica que indica a real necessidade de intervenção é benéfica para o meio ambiente
Paulo Roberto Leite executando a batida de pano da soja. Foto: Divulgação
Da Redação
Um pedaço de pano branco de 1,5 metro por 1 metro, preso nas laterais a duas varetas. Essa é a “arma” que vem sendo usada com sucesso no Manejo Integrado de Pragas (MIP) da cultura da soja já há três anos na região de Itapeva, a maior produtora do grão no Estado de São Paulo. Com essa técnica de monitoramento da lavoura é possível reduzir em até 50% a quantidade de defensivos agrícolas usada para o controle das principais pragas da cultura, destacadamente percevejos e lagartas.
Com os bons resultados obtidos nas unidades demonstrativas, que são pequenos talhões de soja disponibilizadas pelos produtores que aceitaram participar do projeto, a Secretaria de Agricultura do Estado está levando essa forma de manejo, que além de mais econômico para o produtor é benéfica para o meio ambiente, para outras regiões do Estado.
Nesta época do ano, em que se inicia a colheita da soja, o agrônomo e assistente agropecuário Paulo Roberto Leite, que está à frente do projeto na Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) de Itapeva, mais uma vez está vendo no campo o resultado positivo do MIP. “Os talhões que implantamos o MIP têm produzido a mesma quantidade de soja e na mesma qualidade que os demais talhões no método tradicional que o produtor já adotava”, afirma.
Como funciona
O MIP consiste no monitoramento semanal da soja, durante todo o seu ciclo, usando a técnica chamada “batida de pano”. O pano é estendido em duas leiras de maneira a ficar embaixo das plantas e, em seguida, bate-se, com as mãos, nas folhas da soja. Depois é só fazer a contagem de insetos que caiu por metro quadrado, comparar com os parâmetros já consolidados do MIP para verificar se é ou não necessário intervir para controlar aquela praga.
“A necessidade ou não de defensivo vai depender da quantidade de inseto por metro quadrado, do estágio de desenvolvimento da praga, da intensidade do ataque já estabelecido e do estágio de desenvolvimento da cultura. Na maioria das vezes não é necessária intervenção porque naquele momento a praga não representa risco de prejuízo à lavoura. No manejo convencional da soja, o produtor aplica o defensivo, independente da situação da lavoura”, explica.
Combate a pragas
Em caso de infestação de percevejos, por exemplo, Leite explica que é necessária intervenção somente se a praga atacar quando a soja já apresentar vagens. “Se a planta ainda estiver florando, não é necessário porque é uma praga que ataca os grãos apenas. Assim, a quantidade de pulverização de defensivos cai de quatro para até uma aplicação. No caso do combate à lagarta, o número de aplicações pode cair de quatro para zero porque temos percebido no monitoramento que há situações em que a praga não causa estrago em nenhum momento do ciclo da soja”, afirma.
Porém, se a contagem confirmar a necessidade de intervenção porque a praga vai causar prejuízo, o produtor escolhe um produto convencional (defensivo) ou biológico. No Brasil, via de regra, o controle de pragas da soja é feito com defensivos vendidos aos produtores como um “pacote” necessário para ser utilizado em diferentes ciclos da cultura, sem haver avaliação se tem ou não praga e na quantidade que vá causar prejuízo, uma vez que as aplicações de defensivos são calendarizados. “É uma carga alta de defensivos usados sem necessidade. É isso que demonstramos aos produtores de soja nas unidades demonstrativas”, frisa Leite.
Transferência de tecnologia
Paulo Roberto Leite tomou conhecimento do Manejo Integrado de Pragas (MIP) da soja há três anos, quando passou a integrar o Grupo Técnico (GT) de Grãos da CATI num treinamento promovido pela Embrapa-Soja de Londrina. Ao voltar para o trabalho de campo na região de Itapeva, decidiu implantar esse manejo. Agora, com os resultados positivos já em três safras, o projeto está em expansão. Para isso, a Secretaria da Agricultura conta com parceria da Embrapa , que oferece treinamento sobre o manejo de pragas.
“Treinamos 25 técnicos de 11 regionais que têm soja como produção significativa. E já temos seis regionais (Assis, Avaré, Araraquara, Itapeva, Pindamonhangaba e Bragança Paulista) desenvolvendo o trabalho em 11 municípios, já montando unidades demonstrativas para fazer o monitoramento de talhões de soja de diferentes produtores”, detalha.
O objetivo, frisa o agrônomo, é transferir a tecnologia. “Queremos chamar os produtores de cada uma dessas regiões para fazer ‘dia de campo’ nas unidades demonstrativas para que eles aprendam como se faz o monitoramento de pragas e passem a executar a técnica em suas propriedades”, completa.
Mais sustentável
Os assistentes agropecuários têm um papel essencial na produção sustentável da soja, orientando os produtores sobre alternativas de manejo de pragas que reduzam o uso de defensivos agrícolas, afirma Victor Branco de Araujo, presidente da Associação dos Assistentes Agropecuários do Estado de São Paulo (AGROESP). “Com práticas integradas e o uso racional de defensivos, é possível proteger as lavouras, preservar o meio ambiente e garantir a segurança dos trabalhadores e consumidores. Nosso compromisso é levar conhecimento técnico e soluções eficientes para uma agricultura mais responsável e produtiva", completa.
Apostou e deu resultado
Primeira produtora de soja a receber Paulo Roberto Leite com a proposta do MIP há três anos, Fernanda Zambianco conta que a produção é a mesma do modelo convencional de cultivo. “No primeiro ano, dos sete alqueires de soja que plantamos, em mais ou menos a metade deixamos as pragas aos cuidados do Paulo, que nos dá assistência técnica. E não tivemos diferença na produção comparado ao restante da lavoura. Nem na quantidade nem na qualidade. Então, hoje, empregamos esse monitoramento de pragas em toda nossa lavoura e economizados com os defensivos, o que é bom para o meio ambiente também”, afirma ela, que é técnica de segurança do trabalho por formação.
Há sete anos, ela e o marido, Flávio Zambianco, que trabalhavam na cultura florestal, decidiram ter o próprio negócio e arrendaram o sítio de um parente. Mudaram-se para o sítio, construíram estufas onde até hoje cultivam tomate, pepino e pimentão, e no restante do terreno plantaram soja. “Nas estufas já não usamos defensivos e foi muito bom quando tivemos a possibilidade de reduzir muito também na soja. Hoje só usamos realmente quando é necessário”, finaliza.