OPINIÃO

Por: Rafael Cervone - engenheiro, empresário e presidente do CIESP

Por: Rafael Cervone - engenheiro, empresário e presidente do CIESP

Artigo: Desafios e estratégias para geração de empregos num mundo instável

Artigo: Desafios e estratégias para geração de empregos num mundo instável

Publicada há 4 horas

O novíssimo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), intitulado “Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo: Tendências 2025”, mostrou um cenário desafiador. Com uma economia global desacelerada e inflação ainda alta, a geração de vagas decentes e produtivas tem se tornado cada vez mais complexa, principalmente nos países menos desenvolvidos e nos emergentes. Nesse contexto, o fortalecimento da indústria é essencial, considerando sua alta capacidade de contratação e oferta de funções de qualidade.

Segundo o relatório, o déficit mundial de empregos atingiu 402 milhões em 2024, refletindo um aumento no número de pessoas que desejam trabalhar, mas não encontram oportunidade. Além disso, a taxa de participação na força de trabalho tem diminuído em países de renda baixa, principalmente entre os jovens, com impactos severos na capacidade dessas economias de se recuperarem. Em contrapartida, setores como o industrial apresentam capacidade única de absorver grande parte da mão de obra, devido à sua natureza empregadora e à dinâmica de encadeamento produtivo.

Exemplo disso encontra-se no Brasil. Aqui, a indústria é responsável, segundo estatísticas atuais, por 21,2% dos empregos formais. Além disso, os salários que paga são, em média, superiores aos de outros ramos de atividade. Essa combinação de alta empregabilidade e melhores remunerações fortalece o poder de compra das famílias, reduz desigualdades e estimula o consumo interno.

Outro ponto relevante é o papel da indústria como indutora da transição para uma economia verde e digital. O relatório da OIT destacou o potencial para a criação de novos postos de trabalho existentes no segmento de energias renováveis, no qual o emprego alcançou 16,2 milhões de pessoas em 2024, com avanços em fontes como a solar e o hidrogênio. Outro destaque refere-se às tecnologias avançadas. No entanto, para que países como o Brasil aproveitem plenamente essas oportunidades, é fundamental investir mais em infraestrutura, capacitação profissional e inovação.

Apesar das oportunidades, é evidente que desafios significativos permanecem. O aumento dos custos associados às mudanças climáticas e as tensões geopolíticas criam pressões adicionais sobre a geração de empregos. Além disso, a recuperação desigual entre países e a persistência de disparidades de gênero limitam o progresso equilibrado do mercado de trabalho. Essas questões requerem soluções integradas, que combinem políticas públicas eficazes, com a colaboração entre governos, setor privado e sociedade civil.

O fortalecimento da indústria deve ser visto como uma prioridade estratégica para países que buscam um desenvolvimento mais equitativo e sustentável. No Brasil, medidas em curso, como incentivos à inovação e fomento da manufatura, bem como a educação técnica, em especial a proporcionada pelo Sistema S, podem catalisar o crescimento do setor. Além disso, é essencial que as iniciativas sejam direcionadas à promoção do trabalho decente, conforme enfatizado pela OIT, garantindo condições dignas e seguras para todos os trabalhadores.

Diante de um cenário global de incertezas, a indústria destaca-se como alicerce para a construção de uma economia mais resiliente e inclusiva. Investir no setor impulsiona a geração de empregos e a melhoria da renda e contribui para posicionar o Brasil em uma trilha de crescimento sustentável e competitividade elevada.

Rafael Cervone, engenheiro e empresário, é o presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP) e primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).

O texto é de livre manifestação do signatário que apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados e não reflete, necessariamente, a opinião do 'O Extra.net'.


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