LUTA CONTRA O T
Atleta com surdez tenta arrecadar dinheiro para participar das Surdolimpíadas
Atleta com surdez tenta arrecadar dinheiro para participar das Surdolimpíadas
Tiago Marçal foi convocado para representar o Brasil em competição na Turquia
Tiago Marçal foi convocado para representar o Brasil em competição na Turquia
Por Lívia Caldeira
No ano passado, enquanto os atletas brasileiros lutavam por medalhas nas Olimpíadas do Rio, Tiago Marçal acompanhava as competições pela televisão, resignado. E sonhava. O jovem, que foi diagnosticado surdo aos 2 anos de idade, sempre se imaginou subindo ao pódio sob aplausos de todo o estádio e, somente agora, terá a oportunidade de viver o sonho olímpico. O atleta garantiu vaga na equipe de Handebol que vai representar o Brasil na Surdolimpíada marcada para julho na Turquia. Mas Tiago corre contra o tempo: sem patrocinador e com a família sem condições de arcar com os custos da viagem, ele faz o que pode para conseguir o dinheiro que vai lhe garantir um lugar na maior competição internacional exclusiva para atletas surdos. Nos últimos meses, ele intensificou os treinos e redobrou a dedicação e esforço dentro das quadras. Em entrevista à Reportagem de “O Extra.net”, o atleta fala sobre a sua paixão pelo Handebol e o sonho de participar das Surdolimpíadas.
O EXTRA: Quando nasceu a paixão pelo Handebol?
TIAGO: Desde criança gostava de praticar esportes, amava o futebol... Já o Handebol, eu comecei a jogar foi na escola, durante as aulas de educação física. Logo de cara percebi que levava jeito no esporte e fui evoluindo a cada dia, e me apaixonando sempre mais pelo Handebol. Depois comecei a disputar os jogos escolares e, com 16 anos, comecei a participar dos jogos regionais. Hoje eu sou responsável por eles como técnico e atleta já vai fazer 1 ano.
O EXTRA: Você sempre jogou Handebol com outras pessoas deficientes auditivas?
TIAGO: Não, quando eu era criança nunca joguei com outros surdos. Na verdade, eu nem sabia que existiam esportes praticados exclusivamente por pessoas com deficiência auditiva, descobri pesquisando na internet. Procurei me informar sobre o assunto e entrei em contato com a ASSP (Associação dos Surdos de São Paulo).
O EXTRA: De quais competições você já participou?
TIAGO: Todos os anos eu disputo os Jogos Regionais. Mas minha primeira competição importante foi o Campeonato Brasileiro dos Surdos de Handebol, no ano passado, quando fui campeão com time FDSESP (Federação Desportiva dos Surdos do Estado de São Paulo). Fui um dos melhores jogadores do time e consegui o segundo lugar como artilheiro, sendo o destaque do time. Já em julho do ano passado começou, em Brasília, a seletiva para fazer parte da seleção brasileira e este ano houve a última etapa em São Bernardo dos Campos, quando fui convocado para disputar as Surdolimpíadas na Turquia.
O EXTRA: Quais são os maiores obstáculos dos atletas com surdez para participar das Surdolimpíadas?
TIAGO: Bom, primeiramente é importante esclarecer que nós surdos não podemos participar das Paraolimpíadas. Por isso, nós temos uma competição mundial específica para atletas com deficiência auditiva, que é a Surdolimpíada. Acredito que o maior obstáculo seja a falta de visibilidade e de reconhecimento, pois isso dificulta a obtenção de financiamento do esporte para surdos por parte de empresas públicas e privadas, mesmo a gente tendo um evento próprio mundial. Muita gente nem sabe que existe essa competição e o país não apoia seus atletas de nenhuma forma. O que me faz continuar treinando com garra todos os dias é o incentivo que recebo da minha família e amigos.
O EXTRA: Como você pretende arrecadar o dinheiro para participar da competição?
TIAGO: Infelizmente nosso time não tem patrocinador e cada surdoatleta tem que arrumar R$ 10 mil para pode pagar as despesas de hotéis, uniformes, passagem, alimentação, etc.
Para se preparar para a competição, Tiago intensificou os treinos nos últimos meses
Time da FDSESP (Federação Desportiva dos Surdos do Estado de São Paulo)
Campeão brasileiro de Handebol em setembro do ano passado