Por Lívia Caldeira
Não foram só as paisagens de Fernandópolis que mudaram ao longo destes 78 anos, mas também os hábitos e costumes dos munícipes, a forma de pensar e agir, os interesses, as crenças, os valores... Pensando nisso, a Reportagem percorreu as ruas da cidade em busca de moradores antigos, que contaram com nostalgia suas memórias e histórias vividas em Fernandópolis, e ouviu também as crianças para saber seus sonhos e o que esperam do município nos próximos anos. Confira:
“Casas de madeira e barro”
Eu fui criado aqui nessa cidade, quando, aliás, ainda nem cidade era. Vim pra cá da Bahia com 2 meses e desde então moro em Fernandópolis. Trabalhei desde pequeno na roça, em uma plantação de café e foi assim que criei minha família. Depois fui leiteiro por mais 16 anos, até que o desenvolvimento começou a chegar e o leite de saquinho ou caixinha tomou conta dos supermercados. Agora sigo trabalhando como carrinheiro, profissão que também está em extinção. Conheci essa cidade quando a maioria das casas ainda eram de madeira e barro, acho que se eu contar isso para meus netos eles nem vão acreditar...
(João José Pereira – 81 anos)
“Um aeroporto e mais lojas”
Eu imagino que Fernandópolis vai ser bem melhor, vão ter várias lojas espalhadas por toda a cidade e não só no centro. Acho que a política também vai ser melhor aqui e no país. Em todas as escolas vão ter parquinhos para as crianças brincarem. Aqui vai ter um aeroporto também e muitos prédios.
(Maria Eduarda da Silva Horácio – 10 anos)
Uma história de amor que começou na Praça da Matriz
Moro em Fernandópolis há 72 anos, cheguei na cidade em 1946. Me lembro da Igreja da Matriz, que na época era uma simples capelinha. A fonte da praça era um autofalante e, por falar nela, tenho muitas lembranças boas desse lugar. A praça era o ponto de encontro dos jovens, onde nós íamos passear a noite. Mas antes das 10 tínhamos que estar em casa, não como hoje que a moçada começa a se arrumar esse horário. Era tudo de terra, no meio da praça ficavam duas fileiras de moços e as moças passavam no meio, era o nosso modo de paquerar. Foi na praça que conheci um rapaz que veio do Rio de Janeiro e, anos depois, se tornou o homem com quem fui casada a vida toda e pais dos meus quatro filhos.
(Alzira Prates Leão – 80 anos)
“Mais lugares verdes”
Vai ser muito legal a cidade no futuro, vai ter coisa boa. Acho que vão ter mais pessoas andando de cavalo pelas ruas, bastante lugar verde também. Eu quero que a cidade cresça e que tenha mais parques, área de lazer, parquinhos e lugares para andar de bicicleta, jogar bola e brincar. Meu pai não deixa eu andar de bicicleta na rua, mas se no futuro tiver menos carros meus filhos vão poder.
(Mateus Félix Trindade – 9 anos)
“Outros tempos”
Me lembro do Dr. Percy acompanhando dia e noite todo o trabalho de construção da praça. Eu saia do EELAS tarde da noite e eles ainda estavam lá trabalhando para construir um dos maiores símbolos da cidade. Por falar em trabalho, era uma época em que não tinham muitos tipos de trabalho como hoje, ou você trabalhava nas plantações ou nas poucas lojas do comércio (MTW, Lusitana, Pernambucanas...). De sábado, o centro enchia de cavalos e charretes, pois todo mundo que morava no sítio vinha para a cidade fazer compras. Lembro também das bandas que tocavam, da praça lotada de moços e moças. Hoje em dia muita coisa mudou e tenho muita nostalgia desse tempo, apesar de acreditar que não existe uma época melhor ou pior. Talvez aqueles tempos eram tão bons simplesmente porque eu tinha 20 anos.
(Osvaldo Rossafa – 70 anos)
“Uma praia em Fernandópolis”
Acho que aqui vai ter muitas coisas legais quando eu for adulta. Eu gosto de sair e brincar... E vai ter bastante lugar pra passear. A escola vai ser bem linda e vai ter atividades e muitos brinquedos (brinquedoteca), um parque de diversões dentro da escola acho que vai ter também. Quero que as casas sejam bem grandes pra ter bastante espaço pra brincar, com escorregador, casinhas. E no futuro vai ter uma praia e areia também.
(Júlia Ferreira da Silva – 6 anos)
“Nostalgia...”
Quando penso na história de Fernandópolis, não tem como não pensar na nossa juventude, pois vivemos muitas coisas nessa cidade. Era tradição as famílias irem à missa de domingo e depois passear, dar voltinhas na praça. Nós jovens nos divertíamos muito. O pessoal fazia bailinhos nas casas, com brincadeiras dançantes e muita conversa. Era uma juventude sadia, todos da cidade se conheciam. Na escola, ainda ensinavam o francês... Talvez a saúde não era tão boa naquela época, ainda não existia o pronto socorro e quem não tinha plano de saúde não tinha nenhuma prioridade. Transporte antigamente também era raro de se ver: ou a pessoa tinha um cavalo, ou andava a pé. Somente algumas pessoas tinham bicicleta. O jeito era juntar um grupo de amigos e caminhar pelas ruas da cidade enquanto batia papo. Também era tradição ir de sábado na praça da Brasilândia e de domingo na Matriz. Mas detalhe: 21 / 21:30 no máximo tínhamos que estar de volta para casa.
(Aparecida Lurdes Pazian – 55 anos e Carlos Alves dos Reis – 70 anos)
“Papai do céu criou a cidade com muito amor e carinho”
A cidade vai continuar sendo linda, igual é hoje. Papai do céu criou com muito carinho e amor. As casas vão ficar velhinhas, mas algumas vão reformar e ficar novas. Meus filhos vão viver muito bem aqui, porque a cidade vai ser bem legal. As provas da escola vão ser divertidas, vai ter bastante brinquedo e vai reformar um parquinho novo na escola. Apesar de eu ser pequeno, eu tenho uma “responsalidade” (responsabilidade) por mim, por meu pai, minha mãe, meu cachorrinho e com Fernandópolis.
(Henrique Roquette Angelucci – 6 anos)