Carlos Eduardo

Álcool: a droga que mais provoca mortes no mundo

Álcool: a droga que mais provoca mortes no mundo

Por Carlos Eduardo Maia de Oliveira - Professor e Biólogo

Por Carlos Eduardo Maia de Oliveira - Professor e Biólogo

Publicada há 7 anos

“O alcoolismo não tem cura...Estou em recuperação, minha doença está estacionada. Nunca mais poderei beber. Não existe só um gole para um alcoolista... Estou em tratamento para o resto da vida”. (L.A., membro da Associação dos Alcoólicos Anônimos Brasil).


            A ingestão de bebidas alcoólicas faz parte do contexto cultural do país:é aceita socialmente e também reforçada na população, especialmente a cerveja e o vinho.De forma precoce, os jovens iniciam o consumo e, muitas vezes, exageros levam à famosa “bebedeira”, vista como algo divertido e irreverente em festas e reuniões sociais em geral. De acordo com o Ministério da Saúde, 66,6% dos adolescentes (entre 13 e 15 anos de idade) já experimentaram bebida alcoólica uma vez na vida. Para piorar esse cenário, muitos pais não contribuem com bons exemplos, bebendo, excessivamente, em frente às crianças e jovens em encontros familiares e comunitários.


            Pesquisas indicam que quanto mais cedo um jovem iniciar a ingestão de bebidas alcoólicas, maiores são as chances de se tornar um viciado em álcool em sua vida adulta.


            O consumo exagerado leva à embriaguez e, nesse estado, os jovens se submetem, com mais facilidade, ao sexo desprotegido, aumentando as chances de adquirirem doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), incluindo a AIDS, e as adolescentes ficam mais sujeitas a uma gravidez indesejada.  Sob o efeito do álcool, as pessoas ampliam a possibilidade de se envolverem em situações de violência (brigas e até mesmo homicídios), acidentes de trânsito, além de aumentar as chances de dependência química e graves problemas de saúde.


            Segundo os especialistas, ao consumir bebidas alcoólicas, o jovem fica mais desinibido e, com isso, toma coragem para experimentar outros tipos de drogas, como o cigarro e as drogas ilícitas, cuja venda e consumo são proibidos por lei: maconha, cocaína, heroína e até mesmo o perigosíssimo crack, com alto poder viciante (eis apenas alguns exemplos).


           De acordo com a Pesquisa Nacional da Saúde (PNS), resultado deuma parceria do Ministério da Saúde com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada no período de julho de 2013 a fevereiro de 2014, 24,3% dos motoristas brasileiros assumem dirigir após a ingestão de bebidas alcoólicas. Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) destacou que 41 mil pessoas perderam suas vidas no trânsito brasileiro no ano de 2013, sendo que a embriaguez ao volante é responsável por 21% dos acidentes no Brasil e 40% no estado de São Paulo, segundo dados de outra pesquisa divulgada em 2013 pelo Ministério da Saúde.


            É interessante notar que o consumo de drogas ilícitas e pesadas, como o crack, cocaína e heroína, entre outras, é condenado pela sociedade e motivo de preocupaçãodas autoridades públicas, pais e professores(com toda razão, devido as suas terríveis consequências). No entanto, o álcool, uma droga lícita, cujo consumo evenda sãoliberados, exceto para menores de idade, é a que mais mata pessoas em todo mundo e, curiosamente, não desperta a mesma preocupação, tampouco tem a mesma reprovaçãoda sociedade.De acordo com relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014, “o álcool mata, a cada ano, 3,3 milhões de pessoas (uma em cada 20 mortes), mais do que a soma das mortes provocadas pela AIDS, tuberculose e a violência em geral”. “São quase 5,9% das mortes anuais no mundo, causadas por: doenças infecciosas, homicídios, acidentes automobilísticos, problemas cardiovasculares, diabetes, ferimentos, dentre outros, diretamente relacionadas ao consumo do álcool”.


            Como professor de Biologia, tenho oportunidade, em minhas aulas, de alertar meus jovens alunos com relação ao perigo representado pelo álcool, especialmente pelo consumo excessivo. Destaco que todo vício é algo pessoal, pois a força de sua manifestação é relativa em cada indivíduo, ou seja, há pessoas com maior ou menor propensão em se tornar um dependente químico. E é justamente aí que “mora o perigo”, pois ninguém conhece o seu potencial em se tornar um alcoólatra antes de iniciar no consumo da bebida, e é sempre bom frisar, como na epígrafe do presente artigo, que não há cura para o alcoolismo. Uma vez alcoólatra sempre alcoólatra. Uma pessoa viciada em bebidas alcoólicas pode manter a abstinência por vários anos, mas, se ingerir um gole novamente, pode voltar a beber compulsivamente.


            Além dos malefícios à saúde, como câncer de boca e garganta, hepatite, cirrose hepática, pancreatite crônica, síndrome fetal alcoólica (provocada no recém-nascido quando a mãe ingere álcool frequentemente na gravidez), entre outras doenças sérias, o álcool, como qualquer outra droga, destrói as relações familiares e a dignidade pessoal, causando sofrimento e constrangimentos aos entes mais próximos e ao próprio viciado.


            A eliminação completa do álcool da sociedade é impossível, uma verdadeira utopia, pois faz parte da cultura de vários países e está contemplado até na Bíblia (o vinho, por exemplo), mas o combate ao consumo exagerado de bebidas alcoólicas deve ser encarado como um desafio de toda sociedade, e não somente do Poder Público, pois suas graves consequências afetam a todos. Por isso, o controle da propaganda, especialmente da cerveja, campanhas que conscientizam a população a respeito dos riscos do consumo abusivo que podem provocar acidentes de trânsito e fomentar a violência, fiscalização e cumprimento das leis, como a que proíbe a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos de idade e a famosa “Lei Seca” que prevê punições severas a motoristas alcoolizados, debate do tema em vários setores da sociedade, entre outras medidas, são válidas para tentar amenizar esse grave problema social e de Saúde Pública.


            Outra recomendação importante é que os pais devem evitar “bebedeiras” em frente aos seus jovens filhos e sempre explicarque o consumo exagerado pode ocasionar graves consequências.


            Alguns podem achar graça na dificuldade de caminhar e falar de uma pessoa bêbada ou talvez em sua desinibição em uma festa qualquer. Mas não tem graça nenhuma quando esse mesmo bêbado assume o volante de um automóvel e mata uma pessoa no trânsito ou se envolve em um ato de violência que culmina em um homicídio. Não subestimemos o poder devastador do álcool, a droga mais consumida no mundo e também a que mais ceifa vidas.




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