Por Breno Guarnieri
Entrar em forma, fazer amizades, desenvolver o autocontrole e a disciplina, extravasar as tensões. Quem pratica uma arte marcial busca bem mais do que aperfeiçoar-se na defesa pessoal. O próprio termo “marcial” mostra que as lutas - como o karatê - têm referências no treinamento militar, que salienta a disciplina e o autocontrole físico e emocional. Para entendermos um pouco mais sobre o esporte, o entrevistado da semana é o sensei Adauto Guarnieri, 41 anos, que sempre carregou consigo os ensinamentos adquiridos com seus mestres, pautado sempre pela ética, respeito e companheirismo, mas com muita seriedade e dedicação, que faz parte dos ensinamentos do Karatê-Do.
O EXTRA: Quando nasceu a sua paixão pelo esporte? Conte um pouco da sua trajetória. Seus dias de lutas e glórias no esporte.
ADAUTO: Eu me apaixonei pelas artes marciais aos 15 anos de idade, quando assistia a filmes do Jean-Claude Van Damme, Bruce Lee e outros astros do cinema. Primeiramente, o meu vizinho começou a praticar o karatê e me convidou. Nós dois treinávamos muito, até de madrugada, éramos loucos pelo esporte e fazíamos as coisas que víamos nos filmes. “Calejamento” nas canelas e pelo corpo, recebendo golpes um do outro. Depois de certo tempo, meu vizinho parou de praticar karatê depois que começou a frequentar igreja evangélica. Eu não ia muito à igreja. Desta forma, me joguei nos treinos e não parei mais. Trabalhei 16 anos no frigorífico paralelamente aos treinos até que um dia consegui o meu espaço na Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Esportes. Aí deixei o frigorífico e me dediquei somente ao karatê. Hoje em dia os meus alunos são os meus maiores troféus e com eles formamos uma equipe respeitada em Fernandópolis e região, pois participamos de todas as esferas e estamos sempre com novos atletas e novas conquistas. Eu sempre procuro me atualizar pra estar por dentro de tudo que acontece no mundo do karatê, que na verdade chama-se Karatê-Do.
O EXTRA: Sabemos que a vida de atleta é muito regrada. Além disso, atletas precisam viajar constantemente para participar de campeonatos. Como concilia tudo isso? Treinamentos, campeonatos, família, e amigos?
ADAUTO: Sim, a vida de atleta é muito difícil. Precisa se alimentar sempre muito bem, mas nem sempre tem todos os alimentos necessários, então comemos muitas batatas, ovos e às vezes massas e, é claro, verduras e alguns legumes. Muitas vezes precisamos perder ou aumentar o peso para disputar as categorias decididas pela Federação de Karatê Paulista. Hoje eu posso dizer que eu vivo do esporte. Na Associação, temos uma diretoria e cada membro possui a sua função. Os atletas se dedicam bastante e temos conquistado troféus e medalhas. Os pais (dos atletas) ficam felizes e orgulhosos com os seus filhos. Em relação aos treinos, os horários são divididos de acordo com o horário escolar das crianças e adolescentes. Eu sou contratado pela Prefeitura para atender jovens de 6 a 17 anos.
O EXTRA: As pessoas que não praticam o karatê quando o conhecem ainda pensam ser um esporte violento e agressivo ou isso já mudou?
ADAUTO: Infelizmente ainda existem pessoas que pensam ser um esporte agressivo. Outros acham que é coisa de cinema, mas quando vão conhecer pela primeira vez descobrem que é totalmente diferente. Os benefícios são inúmeros. Uma melhor coordenação motora, melhor respiração, autocontrole físico e emocional, melhor comportamento, e melhores notas na escola. Atendemos também pessoas portadoras de necessidades especiais. Elas respondem muito bem aos treinamentos. É um esporte que transforma vidas.
O EXTRA: De todos os lugares onde já esteve, qual local ou competição que mais marcou e por quê?
ADAUTO: Já viajei para diversos lugares em busca de competições. Dentro do Estado de São Paulo fui para Araraquara, Sorocaba, São Bernardo do Campo, Mogi das Cruzes, Barretos, entre outras. Pelo Brasil já competi nos Estados do Rio Grande do Norte, Sergipe, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. O Estado que mais gostei foi o Rio Grande do Norte pela boa recepção que tivemos por parte dos moradores e pela união da seleção paulista. Nos outros Estados não foi diferente, mas em Natal foi especial também pelo turismo. Muito bonito lá.
O EXTRA: Quais são seus ídolos da atualidade e também do passado?
ADAUTO: Os ídolos do passado são atores de filmes de artes marciais. Do presente é o Douglas Brouze, tri-campeão mundial, o Rafael Agayev, do Azerbaijão, Weyne Otto, da Inglaterra, Cristoff Pina, da França, e alguns outros brasileiros da atualidade.
O EXTRA: Suas considerações finais e uma mensagem para os praticantes e principalmente para as crianças que estão iniciando na modalidade.
ADAUTO: O Karatê-Do é uma filosofia de vida. Quando praticado com dedicação e sabedoria, o praticante se torna uma pessoa com maior autocontrole, com maior concentração, maior coordenação motora e maior capacidade de memorização, além de ser sempre saudável e educado. Também aprende que na vida nada é fácil sem esforço e muita dedicação, e que nós somos mais fortes do que qualquer obstáculo. Um faixa preta é um faixa branca que não desistiu. OSS!
“Quando praticado (karatê) com dedicação e sabedoria, o praticante se torna uma pessoa com maior autocontrole”,salienta Adauto
Sensei Adauto juntamente com os alunos da Associação local