ÉTICA E CORRUP
'A Lava Jato é uma verdadeira revolução no Brasil', afirma Luiz Flávio Gomes
'A Lava Jato é uma verdadeira revolução no Brasil', afirma Luiz Flávio Gomes
Em entrevista, Gomes faz uma análise sobre a maior investigação anticorrupção da história do país e sobre as eleições de 2018
Em entrevista, Gomes faz uma análise sobre a maior investigação anticorrupção da história do país e sobre as eleições de 2018
Jurista Luiz Flávio Gomes
Por Livia Caldeira
Com os vários fatos e desdobramentos da Lava Jato, os temas ética e corrupção se tornaram pauta frequente na mídia e nas conversas entre amigos e discussões das redes sociais. Para o jurista e professor Luiz Flávio Gomes, “a operação é uma verdadeira revolução no Brasil”. O especialista em direito penal, que é considerado hoje um dos maiores juristas do Brasil, esteve em Fernandópolis no último dia 22 onde ministrou palestra com o tema “Lava Jato: ética, cidadania e novas lideranças", e discursou sobre os caminhos para uma transformação efetiva do país em prol de uma realidade mais ética e cidadã. Criador do movimento “Quero um Brasil Ético”, o professor defende que a operação é inédita no Brasil por prender poderosos: “A impunidade histórica dos criminosos de colarinho-branco acabou, a prisão finalmente foi democratizada”. Embora considere a operação um sucesso, Gomes admite, no entanto, que a Lava Jato apresenta alguns problemas e foram cometidos deslizes e abusos. “É evidente que existe perseguição a alguns partidos e proteção de outros, por isso é preciso ampliar o escopo para que não se transforme em uma ação partidária”, alerta. Nesta entrevista exclusiva concedida ao “O Extra.net”, Gomes faz uma análise da maior investigação anticorrupção conduzida até hoje no país.
Para o professor,a população deve exercer uma cidadania vigilante, por dois meios: redes sociais e ruas
O EXTRA: A corrupção, na sua opinião, está enraizada em todos os setores da sociedade ou é exclusividade da classe política?
GOMES: A corrupção está presente em todos os setores e em todos os níveis (municipal, estadual e federal). A corrupção, porém, não é um mal só brasileiro, no mundo inteiro existe corrupção. A diferença é que aqui ela ( a corrupção) ainda é muito apoiada pelos órgãos que a deveriam fiscalizar. A operação Lava Jato, que deveria ser a regra, é uma exceção, lamentavelmente.
O EXTRA: Em sua palestra falou sobre a importância da Lava Jato no atual cenário político, admitindo também que a operação cometeu alguns erros. Qual o balanço da Lava Jato?
GOMES: É sem dúvidas algo inusitado no Brasil, e diria que é um sucesso. Teve sim alguns problemas de desrespeito a lei em alguns momentos por parte do juiz Moro, que cometeu alguns equívocos, mas é um sucesso e tem um saldo positivo perante a sociedade. Por isso que 85% dos brasileiros apoiam essa operação, justamente porque é benéfica para a sociedade.
SELETIVIDADE: O ERRO DA LAVA JATO
O EXTRA: O que deslegitima a operação Lava Jato?
GOMES: Seletividade. Inequivocamente, a Lava Jato começou duramente pelo PT, chegou agora no PMDB, há denúncias contra o PP, mas o PSDB ainda está protegido e isso é injusto, não concordo de maneira alguma com essa seletividade. Políticos do PSDB ainda são muito protegidos pelas instituições oficiais. A Lava Jato deve cumprir seu papel, aplicar a lei, independente de quem seja a pessoa, investigar todos. Ainda falta uma investigação mais séria com o partido dos tucanos.
"A OPERAÇÃO PROSSEGUIRÁ ATÉ QUANDO O POVO APOIAR"
O EXTRA: Qual a importância da população para o êxito positivo e continuação da Lava Jato?
GOMES: Por um lado, a operação está fazendo a sua parte, mas a sociedade civil também deve assumir a sua responsabilidade, por meio do exercício da cidadania – seja pelas redes sociais, seja pelas ruas, ou pelas urnas. O meu conselho é que quem não está nas ruas participando de manifestações, que pelo menos exerça sua cidadania nas urnas.
ELEIÇÕES 2018
O EXTRA: O que o senhor espera das eleições de 2018?
GOMES: É hora de fazer limpeza, de renovar completamente o Congresso Nacional. Temos que, por meio do que chamamos de “voto faxina”, tirar os corruptos do poder, pois assim perdem o direito ao foro privilegiado, e respondem em primeiro grau, perdendo assim a imunidade no STF (Supremo Tribunal Federal).
O EXTRA: Há um forte sentimento de revolta da população contra a classe política. O que este sentimento pode trazer para as próximas eleições?
GOMES: Esta revolta generalizada contra a classe política como um todo poderá favorecer candidatos com discursos demagógicos, pois são discursos que facilmente conquistam o cérebro do indivíduo. O perigo é colocar no poder um candidato extremista, este tipo de voto representa um risco que não podemos correr. A melhor opção é o “voto faxina”, consciente e construtivo.
O EXTRA: Qual candidato à presidência de 2018 o senhor acredita que representa o voto “faxina”?
GOMES: Alguém que, não só não seja corrupto, mas que também não esteja aliado a corruptos. Temos esperança de que algum nome não sujo, responsável e comprometido com o combate a corrupção assuma. Acredito que o senador Álvaro Dias ou Joaquim Barbosa poderiam ser boas opções, mas estamos esperando ainda que todos de fato se apresentem para que possamos levantar uma bandeira. Hoje, infelizmente, não tenho nenhum candidato para apoiar.
Gomes ministrou palestra em Fernandópolis no último sábado
Luiz Flávio Gomes durante entrevista ao “O Extra.net”