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Transcender: 'Quem somos e o porquê da nossa luta'

Transcender: 'Quem somos e o porquê da nossa luta'

A ideia do grupo é ultrapassar barreiras, despertar a curiosidade e quebrar tabus para enfrentar as desigualdades, o preconceito e a discriminação

A ideia do grupo é ultrapassar barreiras, despertar a curiosidade e quebrar tabus para enfrentar as desigualdades, o preconceito e a discriminação

Publicada há 7 anos


Por Livia Caldeira


“Amar. É por este direito que lutam milhões de pessoas ainda hoje”. Esta foi uma, dentre tantas reflexões, que motivou a criação do grupo Transcender, que presta atendimento em Fernandópolis à população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT). A cada 25 horas, uma pessoa LGBT é assassinada no Brasil, de acordo com um levantamento feito pela ONG GGB em maio deste ano. Tal dado comprava que, por mais óbvia que pareça a frase “somos todos iguais”, ainda é preciso lutar contra a homofobia. Para a assistente social e integrante do grupo, Amanda Silva, a ideia surgiu da necessidade de dar visibilidade a uma comunidade que está à margem da sociedade. “Nosso objetivo era suprir no município essa demanda, criar um espaço onde essas pessoas pudessem colocar suas dificuldades e necessidades, assim surgiu o grupo”, explica. Se trata de um espaço dedicado a orientação, reflexão, diálogo, debates e discussões. Em entrevista à Reportagem, integrantes do grupo, que é inédito na região, falaram sobre o “Transcender”, o respeito à diversidade e temas relacionados, confira:

O EXTRA: Como nasceu o Transcender?
Amanda: Na verdade já existia um grupo símile em Fernandópolis, que passou por uma reestruturação e deu vida ao Transcender, que é inédito e pioneiro na região. A ideia é despertar a curiosidade, tanto que o grupo é aberto ao público em geral. Qualquer pessoa pode participar das reuniões, independente da sua orientação sexual, basta querer transcender limites, tabus e preconceitos. Eu mesma, sou heterossexual e faço parte do grupo, decidi abraçar a causa após ver muitos de meus amigos sofrerem.

O EXTRA: Qual o objetivo do grupo?
Mariangela: O nosso objetivo principal é humanizar, mostrar que somos todos iguais. Queremos buscar pessoas que se encontram na invisibilidade devido ao preconceito e estigmatização e oferecer apoio, orientação, acolher esse indivíduo.

O EXTRA: Vocês realizaram um vídeo para divulgar o grupo. Qual a importância da visibilidade para a causa?
Rao: O vídeo surgiu com a ideia de criar performances para divulgar o nosso trabalho. Foi uma iniciativa do próprio grupo e criado pelos próprios integrantes, permitindo também a adesão de novos participantes. Ficamos muito contentes com a repercussão desse vídeo e a ideia é que seja reproduzido em eventos da comunidade LGBT e redes sociais.



O EXTRA: Como foi o momento em que vocês se descobriram e se aceitaram?
Mariangela: Acredito que a maior dificuldade foi eu mesma me aceitar, afinal, crescemos aprendendo que homem é quem nasceu homem e gosta de mulher e vice-versa. Muitos não entendem que não se trata de uma escolha, se fosse uma escolha, ninguém escolheria ser homossexual e enfrentar o medo, o ódio, a rejeição da sociedade e se sentir sozinho.
Rao: No meu caso, foi muito difícil essa fase, cheguei a perder um trabalho por conta disso e até tentei o suicídio. Por isso que o grupo Transcender é importante, buscamos ajudar quem está passando por esse momento, para que ele se torne menos difícil.
Bruno: Eu também demorei para de fato me assumir, foi aos 21 anos. Algumas pessoas acreditam que a homossexualidade ocorre por influência, se assim fosse, deveríamos todos ser héteros, afinal nascemos de um pai e uma mãe.

O EXTRA: Quais as maiores dificuldades enfrentadas pela comunidade LGBT?
Isaque: Infelizmente ainda hoje as pessoas LGBTs são rotuladas como portadoras de doenças, e têm uma imagem ligada a prostituição. O que ninguém para pensar é a origem deste problema, o motivo pelo qual muitos trans, por exemplo, não conseguem a plena inclusão, arrumar um emprego, ser aceito dentro da sociedade, o que os leva a marginalização.  
Rao: É difícil reverter esse quadro da prostituição, pois a própria sociedade os exclui e, ao mesmo tempo, a própria sociedade procura esse tipo de serviço e alimenta a prostituição.

O EXTRA: Recentemente um juiz concedeu liminar que abre brecha para que psicólogos ofereçam a terapia de reversão sexual, conhecida como “cura gay”. Qual a sua opinião sobre isso?
Elvis: Não existe cura para o que não é doença. Sabe o que existe? Existe a falta de respeito com o próximo, existe a falta de acolhimento ao seres humanos, existe a falta de amor, existe o desrespeito à diversidade, existe política cheia de corrupção , existem ataques  homofóbicos, existe preconceito contra mulheres, negros,  idosos, a classe LGBT, religião e classe social, existe a falta de estrutura na educação,  na saúde e no trabalho, existem pessoas que distribuem  ódio gratuitamente ao invés de amor, existe ausência  da Paz mundial... Enfim, há tantas coisas que existem e estão presentes ao nosso redor mas, muitas vezes, tampamos os olhos para não enxergar a realidade e preferimos ver algo que não existe. Mas ainda acredito no amor, ele é a base para curar feridas e acabar com o ódio entra as pessoas. Ao invés de procurar reverter a orientação sexual dos outros, por que não procurar distribuir mais afeto, mais paz, mais amor?


Encontros são realizados no CREAs de Fernandópolis e são abertos ao público. Na foto, Isaque, o psicólogo Caio, Luma, o estagiário Gustavo, Bruno, Amanda, Luara e Helen.



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