O “Dia Mundial dos Pobres”,instituído pelo PapaFrancisco, celebrado por primeira vez no dia 19 de novembro deste ano, é muitosignificativo para o Brasil e o mundo de hoje. A pobreza tem aumentado em nossopaís pelo terceiro ano consecutivo. Seu decréscimo na década anterior deveu-seàs políticas econômicas e sociais mais certeiras que as atuais. A Organizaçãodas Nações Unidas, em um relatório sobre o Financiamento para o Desenvolvimento,de maio deste ano, diz que6,5% da população mundial continuará na pobreza extrema até 2030.
Isso não significa que apartir daquele ano esse problema seja solucionado. Trata-se, apenas, de umadata fixada por líderes mundiais em um acordo chamado “Agenda 2030”, com metaspara o desenvolvimento sustentável, incluindo a redução da pobreza. Tais metasserão alcançadas seo capitalismo continuar imperante no mundo? Certamente, não,pois esse sistema já provou suaincapacidade para solucionar o fenômeno dapobreza. Aliás, ele o fomenta. Ademais, esse fenômeno se agravará se ocapitalismo continuar sendo predominantemente financeiro.
O próprio Papa Bento XVIdenunciou esse sistema em sua última missa de ano novo, antes de sua renúncia,em 2013, referindo-se naquele“Dia Mundial da Paz” aos "focos de tensão e de confrontoprovocados pela crescente desigualdade entre ricos e pobres, e a predominânciada mentalidade egoísta e individualista que é também uma das manifestações docapitalismo financeiro não regulado". São João Paulo II, em sua Encíclica“Centésimo Ano”, de 1991, já havia denunciado esse tipo de sistema, descartando-o“como único modelo de organização econômica”.
“Hoje,são lançadas diversas iniciativas, públicas e particulares, para combater apobreza, para o crescimento da humanidade. Na Bíblia, os pobres, os órfãos e asviúvas eram descartados pela sociedade. Hoje, foram inventados diversos modospara ajudar, matar a fome e instruir os pobres. Não obstante, o capitalismo continua a produzirdescartes e exclusões”. Essas palavras do Papa Francisco, de fevereirodeste ano, aos participantes de um Congresso sobre “Economia de Comunhão,anteciparam seu intuito com o “Dia Mundial dos Pobres”.
“No termodo Jubileu da Misericórdia, eu quis oferecer à Igreja o ‘Dia Mundial dosPobres’, para que as comunidades cristãs se tornem, em todo o mundo, cada vezmais e melhor, sinal concreto da caridade de Cristo pelos últimos e os maiscarentes.” O Papa Francisco assim se refere em sua mensagem de 13 de junhodeste ano, para o “1º Dia Mundial dos Pobres”, estendendo seu convite aos “homens e mulheres de boa vontade a fixar o olhar nestedia, em todos aqueles que estendem as suas mãos invocando ajuda e pedindosolidariedade”.
Os pobres são “os juízes da vidademocrática de uma nação”. Essas palavras da Conferência Nacional dos Bispos doBrasil, em seu documento “Exigências Éticas da Ordem Democrática”, de 1989,continuam atuais na convocação feita pelo Papa Francisco para celebrarmos o“Dia Mundial dos Pobres”, inspirados no texto da Primeira Carta de João 3,18:“Não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade”. Atuemos,portanto, quotidianamente, de modo solidário, construindo a partir de gestosconcretos um modo alternativo de convivência e organização econômica e social.