Vira e mexe e a gente tem que falar do Compadre Geraldo de Mello, lá das bandas de Taboado. E não é que a gente não tem história prá contar, não. É que o Compadre tem muitas e uma melhor que a outra. E como sempre digo aqui no nosso cantinho, certas coisas nessa vida, acredite se puder, só acontecem com ele.
Dia desses apareceu lá na fazendinha dele de uns seis mil e tantos alqueirões, um antigo vizinho, o Dito Preto, um baiano sacudido, que tem um sítio e um caminhãozinho Ford pra puxar leite prá beira da estrada e também puxar cana no seu sítio.
E aí, o compadre Geraldo, que tem uma memória de elefante, lembrou o dia que o Dito Preto colocou as varas de pescar no caminhãozinho e foi lá prás beiradas para o rio Aporé, que fica ali bem pertinho. No meio da estrada, apareceu um guarda da Polícia Rodoviária Federal. O policial fez sinal para ele parar. E o coitado do Dito Preto foi indo, foi indo, foi indo e parou o carro bem lá na frente.
--- Deixa eu ver a sua carta de motorista, pediu o policial.
--- Seu dotô, não vou enganar o senhor, não. Não vou dizer que tenho carta, porque não tenho. Comprei este caminhãozinho pra puxar cana lá no sítio e ainda não deu pra eu tirar carta.
--- Então deixa eu ver o documento do caminhão.
--- Olha seu guarda, não vou enganar o senhor, não. Não vou dizer que tenho documento, porque não tenho. Ainda não fiz a transferência, não senhor.
--- Muito bem, o senhor não tem carteira de habilitação e nem documento do veículo...
--- Mas “seu guarda” todo mundo me conhece por estas bandas. É só perguntar pro Compadre Geraldo de Mello, que me conhece desde quando eu era mocinho, quando cheguei lá da Bahia. Todo povo aqui da redondeza sabe que o caminhãozinho é meu.
--- Então acenda os faróis.
--- Chi...issso num vai dar certo. O senhor vai desculpar,, mas o direito não tem... E o esquerdo queimou a “luizinha” na semana passada.
--- E a buzina?
--- Buzina tamém num tem.... É que eu comprei o caminhãozinho à prestação ... Ainda não deu pra colocar buzina.
--- E o breque? Pelo menos o breque, o caminhãozinho do senhor tem?
--- Se tivesse breque não tinha parado aqui, não. Tinha parado lá atrás, quando o senhor apitou e mandou...
--- Meu senhor, se eu for multá-lo, a multa vai sair tão cara que nem vendendo o seu caminhãozinho o senhor vai poder pagar. Então faz o seguinte, vá pescar de uma vez!
--- Obrigado seu guarda, Agora acontece que o bicho “afogou”. E a bateria tá arriando... será que o senhor pode dar uma mãozinha e ajudar empurrar pro bichão pegar no tranco?