SUPERAÇÃO

Do "milagre" ao preconceito: pacientes que sobreviveram ao coronavírus relatam suas experiências

Do "milagre" ao preconceito: pacientes que sobreviveram ao coronavírus relatam suas experiências

Gil Menandro Francisco e Silvia Okumura falam sobre os perigos que a Covid-19 representam e como foi o tratamento

Gil Menandro Francisco e Silvia Okumura falam sobre os perigos que a Covid-19 representam e como foi o tratamento

Publicada há 4 anos

Gustavo Jesus

O ano de 2020 vai ficar marcado nos livros de história como aquele que uma pandemia ceifou a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. Em Fernandópolis, até a tarde desta terça-feira, 22, 66 pessoas perderam a vida vítimas de complicações da Covid-19.

Assim como algumas familiares choraram a morte de seus entes queridos, houve quem tenha passado por péssimos momentos, mas se curado da doença. São os casos de Gil Menandro Francisco - conhecido popularmente como Gil Gás -, 43 anos, morador de Fernandópolis e de Silvia Adriana Okumura Zanetoni, 38 anos, moradora de Ouroeste.

Gil conta que todas as medidas de precaução que ele tomou quando a doença começou a se espalhar, não foram suficientes. "Eu sempre acreditei nessa doença. Eu pegava um spray com álcool e jogava em todo o meu escritório, na minha loja, nos telefones. Espalhava álcool em gel em todo o lugar e onde eu passava, lavava as minhas mãos", conta.

Segundo o empresário, um descuido pode ter feito com que ele pegasse a doença. "Não sei onde eu peguei, mas acredito que foi no dinheiro, porque eu tinha o costume, que hoje eu não tenho mais, de molhar a ponta do dedo na língua para contar o dinheiro", relata Gil.

Ele foi curado da doença depois de 45 dias internado, sendo 30 deles intubado, na Santa Casa de Fernandópolis. Gil conta que os médicos chegaram a não acreditar em sua recuperação. "A doença é maldosa, terrível. Quase morri. Na verdade foi um milagre, porque ninguém acreditava na minha volta. Os médicos não acreditavam na minha recuperação, quem acreditava mesmo eram os meus filhos e a minha família, porque nós temos muita fé em Deus".

O empresário conta que, mesmo depois de curado, algumas sequelas ficaram. "Eu sinto muita dor na perna, muita dor no corpo, e a doença me deixou com um pouco de problemas de memória. Às vezes eu vou fazer alguma coisa e eu esqueço, tenho sempre que anotar, coisa que eu não precisava antigamente".

"Já conversei com muitas pessoas, que mesmo eu contando a minha história dizem que não vão tomar vacina, que não acreditam na doença. Isso é um perigo. As pessoas têm que entender que essa doença existe e que ela é um perigo", finalizou Gil.

Se no caso de Gil ele esteve perto de ser mais uma vítima da doença, o caso de Silvia, além dos problemas médicos - ainda que não tão graves -, trazem um componente a mais. Ela foi a primeira moradora de Ouroeste a ser diagnosticada com a doença. Com o ineditismo, também vieram os preconceitos de uma doença até então pouco conhecida.

"Após o Covid-19 a lição que ficou foi o amor o respeito Teve muitos boatos e inverdades sobre mim, por isso aprendi muito sobre respeito. Sobre preconceito, sofri bastante com isso. Demorou mais de 30 dias a recuperação e eu tinha medo de pessoas. A volta para o trabalho foi bem complicado na parte psicológica", disse Silvia.

"Como foi primeiro caso, as pessoas estavam com medo, assustadas. Houve muitas coisas que não foram verdades. E era algo novo então as pessoas não sabiam lidar", continuou.

Ela conta que o isolamento da internação foi o pior momento "Em acreditava na doença, mas não imaginava o tanto de sintomas que causava, porque eu tive todos. O pior momento na internação é ficar isolada, na época não permitia celular dentro do hospital então fiquei incomunicável", relatou Silvia.

Mesmo sem ser intubada, Silvia conta que teve muitos os sintomas entre os dois dias que ficou indo e voltando ao Hospital João Veloso, em Ouroeste, e os quatro dias que ficou internada na Santa Casa de Fernandópolis. "Eu tive sinusite, dor de garganta, dor no estômago, dores no peito e falta de ar. O pulmão ficou 75% comprometido causando uma pneumonia. Também tive queda de pressão, dores nas costas, tontura e no hospital, tive comprometimento nos rins".

Silva relata que mesmo passados oito meses da doença, as sequelas ainda estão presentes. "Isso foi em abril e ainda tenho sequelas como falta de ar, tonturas e dores de cabeça". Ela também conta que perdeu uma prima para a doença. "Depois de tudo perdi uma prima de 33 anos com Covid-19 que trabalhava no banco em Jales".

Para Silvia a vacina vai aliviar, mas não vai erradicar o coronavírus das nossas vidas. "A vacina vai amenizar os casos, mas acredito que sempre existirá o covid-19. Assim como ainda existe a influenza, sarampo, catapora, febre amarela, entre outros. Acredito que será mais suave, mas que será eliminada eu não acredito".


Gil Menandro ficou na Santa Casa de Fernandópolis por 45 dias e atribui a sua recuperação a um "milagre'. Silvia Okumura falou sobre o preconceito que as pessoas tiveram quando souberam que ela foi infectada pelo coronavírus 

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